Por: Ricardo Fan – Edição DefesaNet
A imagem que circula nas redes russas impressiona e desperta questionamentos sobre o próprio conceito de guerra blindada. Um T-72B3 aparece coberto por uma intricada teia de cabos de aço, parecendo mais uma criatura metálica do que um veículo de combate. Essa modificação, batizada informalmente de “ouriço de assalto”, busca uma solução urgente para um problema moderno: a vulnerabilidade dos tanques frente à enxurrada de drones FPV (First Person View) na linha de frente ucraniana.
As forças russas, assim como as ucranianas, vêm adaptando seus veículos em um esforço quase artesanal para sobreviver em um campo de batalha saturado por ameaças aéreas de baixo custo e alta letalidade. Os tradicionais carros de combate — outrora símbolos da supremacia terrestre — agora se tornam alvos fáceis de pequenos drones guiados manualmente, capazes de atingir com precisão as áreas menos protegidas do blindado.
O T-80BVM e o T-72B3 modificados, segundo o canal Vodohray no Telegram, receberam estruturas compostas por cabos, redes e sistemas de guerra eletrônica. A função é dupla: danificar as hélices dos drones e, ao mesmo tempo, interferir nos sinais de controle e navegação. A aparência grotesca é o preço pago pela tentativa de sobreviver a um novo tipo de ameaça.

No caso do T-80BVM, um sistema de guerra eletrônica foi instalado no topo da estrutura, ampliando sua capacidade defensiva contra drones inimigos. Analistas apontam que essa proteção improvisada visa especificamente os drones FPV, amplamente utilizados em ataques de precisão contra blindados. Diferente das tradicionais “armaduras de gaiola”, essas novas estruturas têm potencial para danificar hélices, emaranhar fuselagens e neutralizar ogivas explosivas antes do impacto direto.
No entanto, essas soluções trazem dilemas táticos e estratégicos. O aumento de peso, a limitação de visibilidade e a perda de mobilidade comprometem as principais virtudes do tanque moderno. Concebido como uma plataforma móvel de fogo, o MBT depende da agilidade e da capacidade de resposta rápida — atributos sacrificados em nome da proteção improvisada.
A ironia histórica é evidente. Mais de um século atrás, os tanques britânicos da série Mark, pioneiros na Primeira Guerra Mundial, também eram gigantes lentos, concebidos para romper trincheiras sob fogo inimigo. A evolução natural do conceito levou os projetistas a buscar o oposto: tanques de perfil baixo, rápidos, com torres aerodinâmicas e sistemas de controle avançado. Agora, em 2025, a guerra na Ucrânia parece nos levar de volta ao ponto de partida — máquinas pesadas, desajeitadas, cobertas por blindagens improvisadas, lutando por sobrevivência em um ambiente hostil e imprevisível.
A questão que se impõe é clara: o tanque de batalha principal (MBT) ainda é relevante na era dos drones?
Se na Segunda Guerra Mundial o domínio terrestre dependia da massa blindada, hoje o domínio pode estar nas mãos de um operador remoto com um drone de US$ 500. A guerra da Ucrânia está redefinindo o campo de batalha — e talvez decretando o fim do tanque como o conhecemos.
O “ouriço” metálico russo é mais do que um símbolo de adaptação: é um alerta. A era do aço e do motor pode estar cedendo lugar à era do silício e da inteligência artificial. O tanque não morreu, mas sua supremacia está sendo desafiada como nunca antes.





















