Notas de um Fiel Observador

Notas de um Fiel Observador

Edição 16 Julho 2021

O projeto mais estratégico da atualidade

O Exército Brasileiro precisa concluir nesse ano o seu projeto mais importante, que é o Víatura Blindada de Combate de Cavalaria (VBC Cav). Ele vai trazer mobilidade estratégica e poder de fogo às unidades blindadas e mecanizadas. Será um dos maiores instrumentos de dissuasão a disposição da Força Terrestre, além de fundamental para escoltar comboios mecanizados em missões de paz. A escolha tem que ser profissional e operacional, o que significa, não comprar protótipos, não escolher gambiarras.

A aquisição de projetos, protótipos ou adaptações de veículos desenvolvidos para outras missões, além de custar mais caro e possuir custos não recorrentes que podem extrapolar o orçamento do Exército no médio e longo prazos, nunca chegará ao seu fim e nunca vai ser igual aqueles totalmente desenvolvidos para cumprir missões específicas. Quando falamos em chegar ao fim, falamos num projeto maduro que passou por todas as certificações, foi homologado e exaustivamente testado e avaliado para cumprir missões em ambiente de guerra.

É assim que esperamos que o VBC Cav seja. Uma vez selecionado e uma vez produzido e entregue ao operador, rapidamente esteja pronto para cumprir missões operacionais de extrema complexidade. O Exército precisa dizer o que quer, do contrário vai receber o que não quer e vai ter que pagar três contas muito caras. A primeira é o preço da aquisição; a segunda é o custo de operação; e a terceira, um preço talvez mais alto ainda, quando se precisar usar em combate o veículo, descobrir que ele não serve para a missão atribuída. Por isso, a escolha da melhor plataforma para o VBC Cav não é difícil.

Ameaça antiaérea

Ataques a tiros ao helicóptero do presidente colombiano acendeu uma luz vermelha no Planalto. A preocupação é ainda maior já que os venezuelanos possuem mais de cinco mil mísseis antiaéreos de origem russa e parte do arsenal foi entregue a grupos terroristas e insurgentes. O avião presidencial brasileiro não possui sistema de proteção para esse tipo de ameaça, somente os novos cargueiros KC-390 da FAB. 

A necessidade de instalação do sistema de autoproteção foi tratada na viagem de Jair Bolsonaro a Israel mas não prosperou por falta de recursos apesar dos alertas dos militares. Hoje, voar na fronteira do Brasil é uma tarefa arriscada. Aeronaves militares em missões operacionais, além de enfrentarem a ameaça dos mísseis antiaéreos lançados de ombro (MANPADs), também estão ameaçados pela cobertura dos mísseis S-300 venezuelanos cujos radares e baterias são regularmente posicionados próximos à fronteira brasileira.

Nota DefesaNet — Como estratégia emergencial as Forças de Inteligência Brasileira junto com as Forças Armadas, têm empregado dois helcópteros para causar incerteza em qual deles o presidente estará.

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Acima imagens do helicóptero da Fuerza Aerea Colombia (FAC), mostrando vários impactos de armas leves possivelmente AK-47. Caso fosse uma aeronave civil teria sido derrubada no atentado, no dia 25 Junho 2021, próximo à fronteira com a Venezuela. Caso fosse um MANPADS (IGLA ou similar), as chances seriam zero. FOTOS – Fuerza Aerea Colombia

ONU

É no governo Bolsonaro que o Brasil se reelege após dez anos,  para assumir um assento no Conselho de Segurança das Nações Unidas. Com a responsabilidade pela construção da paz internacional, o Brasil sente-se obrigado a enviar um contingente de militares  para participar de uma missão de paz sob a égide da ONU. Moçambique, República Centro-Africana, Líbano e Ucrânia estão nos radares do governo. Moçambique, um país de língua portuguesa necessita com urgência de  ajuda militar internacional para lutar contra jihadistas que já controlam cerca de 30% do território.

Israel

O Knesset confirmou o líder de direita Naftali Bennett como novo primeiro-ministro de Israel, desalojando Benjamim Netanyahu que estava há doze anos no poder. Bennett  vai fazer uma política externa pragmática. Para ele, onde há negócios existe uma parceria de sucesso. A boa relação entre Brasil e Israel no governo Bolsonaro não rendeu bons negócios e foi apenas de relações públicas.

O maior interesse de Israel são parcerias no setor de tecnologias militares e de segurança, onde o país desponta como um dos líderes mundiais. Os israelenses veem no Brasil a oportunidade de construir uma parceria estratégica. Entretanto, no governo Bolsonaro os negócios entre Israel e Brasil praticamente inexistiram. As relações palacianas do ex-embaixador de Israel Yossy Shelley produziram menos frutos nas áreas de defesa do que na época que não havia embaixador e os partidos de esquerda e anti-Israel comandavam o país.

G7-6

O isolamento do Brasil está cada vez maior. Das 7 maiores economias do mundo, a Itália é o único país que ainda apoia o Brasil. Além dos fortes laços históricos e econômicos, com interesses estratégicos focados na indústria de defesa, de veículos blindados de combate sobre rodas a aviões militares, maquinário industrial, energia e telecomunicações, Roma reconhece no governo liderado por um presidente de família originária da Itália uma oportunidade de expandir as relações políticas e comerciais com o Brasil, seu mais importante parceiro na América Latina. Mais de 35 milhões de brasileiros são descendentes de italianos. Bolsonaro não pode deixar a oportunidade acabar em pizza.

Amazônia

O Exército Brasileiro necessita instalar na Amazônia uma unidade de helicópteros de ataque, aeronaves genuinamente desenvolvidas para o combate, com capacidade de lançar mísseis contra blindados, foguetes para saturação de área e cumprir missões de apoio aéreo, escolta e reconhecimento armado.

A imediata criação de um esquadrão equipado com os novos veículos blindados de combate de cavalaria é necessária. Da parte da FAB, é fundamental criar um Esquadrão de Aeronaves Remotamente Pilotadas capaz de cumprir missões de inteligência, vigilância, reconhecimento e aquisição de alvos. Essa nova unidade aérea deve ser sediada numa base aérea na região norte com capacidade de cumprir missões em tempos de paz e guerra cobrindo toda área de fronteira e pronto para apoiar missões de GLO e outros órgãos federais. Ao evitar o desdobramento de esquadrões da região sul, a FAB economiza recursos e aumenta sua capacidade de pronto-emprego nessa estratégica região do país.

Loitering munition

O Exército Brasileiro precisa urgentemenre adquirir os ARPs suicidas, que são pequenas aeronaves capazes de atacar e destruir com precisão alvos a distância, e que tem revolucionado os combates , bastante utilizados com sucesso nos conflitos no Azerbaijão e na Síria. Podem ser adquiridos como munição e não como ARP e mudam o jogo no combate moderno.

O sistema que o Comando de Operações Terrestres (COTER) avaliou a aquisição e apresentou ao Alto Comando do Exército é o Harop, produzido pela empresa israelense IAI, com alcance de até 1000 km. Especificamente, um sistema desse alcance marcaria o fim da família de lançadores de foguetes ASTROS 2020 na Força Terrestre, além de interromper o desenvolvimento do Míssil Tático de Cruzeiro. A operação do Harop pode ser extremamente complexa devido as enormes distâncias e a necessidade de controle de voo. As loitering munitions são efetivas quando operadas num raio não superior a 100 km.

Inteligência

Uma das prioridades atuais é a modernização dos sistemas de inteligência das Forças Armadas. Nosso entorno estratégico está tomado de agentes e forças extrarregionais. A luta incessante contra o narcotráfico e o crime organizado requerem  uma inteligência militar modernizada com sistemas avançados de COMINT (Communications Intelligence) e ELINT (Eletronicss Intelligence, sensores eletro-ótpticos e ferramentas cibernéticas.

Como se diz, o investimento em inteligência é um dos menores e mais efetivos. As ordens de grandeza na Inteligência são muito pequenas, ínfimas frações em comparação com os custos das Forças convencionais, mas os resultados são bastante significativos. A inteligênncia pode vencer a guerra mesmo antes dela começar.

A instabilidade política no Brasil e nos países vizinhos, agravadas pela pandemia e pelas mudanças de governo, com a movimentação de diferentes atores requer mais atenção e capacidades ampliadas dos serviços de inteligência da Marinha, Exército e Aeronáutica, e a necessidade urgente da criação de uma agência de inteligência para o Ministério da Defesa.

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