Brasil – Rússia – Parceiro Estratégico ou só Kompromat*?

Nota DefesaNet

Matérias sobre a visita do Chanceler Brasileiro Carlos França à Moscou, 29/30 Novembro 2021.

Será atualizado.

1 – Reunião dos Chanceleres LAVROV E FRANÇA. Inclui vídeo entrevista coletiva

2 –BR-RU – Reunião Chanceler Brasileiro com Assessor Internacional do Presidente Vladimir Putin, Embaixador Yuri Ushakov  

3 – BR-RU – Rússia elege o Brasil Parceiro Estratégico (?)

 

Brasil – Rússia –

Parceiro Estratégico ou só Kompromat*?

 

Nelson F Düring

Editor-chefe DefesaNet

 

Na sua live de última quinta-feira (02DEZ2021), Jair Bolsonaro disse que aceitou o convite de Vladimir Putin e viajará à Rússia no início do próximo ano.

O acerto foi feito depois de viagem do Ministro de Relações Exteriores Carlos Alberto França à Moscou, onde foi recebido pelo seu homólogo Sergey Lavrov e pelo assessor internacional do Presidente Vladimir Putin, Embaixador Yuri Ushakov. O Chanceler brasileiro ouviu promessas de interesses comuns na ONU (Conselho de Segurança), G-20 e BRICS, mas saiu das reuniões sem nenhuma garantia de apoio nas pautas estratégicas e comerciais, que interessam ao Brasil.

O Chanceler França foi cobrado pelo apoio à Rússia na questão ucraniana. Os russos anexaram a península da Crimeia em 2014 e provocaram uma guerra no leste do país que já matou mais de 14 mil pessoas. Estados Unidos e países europeus estão alarmados com a movimentação de tropas russas na fronteira com a Ucrânia, e uma invasão pode acontecer no mês de janeiro, segundo informações das agências de inteligência ocidentais.

Jair Bolsonaro já havia oferecido apoio ao seu homólogo ucraniano, Volodymyr Zelensky. Os dois se encontraram pessoalmente em 2019. Em abril deste ano, o deputado Eduardo Bolsonaro esteve em Kiev e foi recebido pelo chefe do parlamento. Enquanto que os russos fornecem armamento de última geração para a Venezuela, os ucranianos possuem no Brasil a sua segunda maior colônia na diáspora, a maioria deles no estado do Paraná.

O isolacionismo imposto pelos países europeus a Bolsonaro, em especial ações lideradas pela França e Alemanha, talvez tenha induzido Bolsonaro a cair na complexa rede de “kompromats” dos russos. Essa aproximação com Moscou foi mal recebida em Washington e acendeu uma luz vermelha em diversos gabinetes nas capitais europeias, principalmente em Estocolmo.

Fonte diplomática disse que os suecos poderiam embargar o negócio dos caças Gripen vendidos à Força Aérea Brasileira caso o Brasil mostrasse apoio à Rússia. Ou tornar ainda mais difícil, as negociações sempre complexas, com os suecos. Ou até poderiam degradar a performance e sistemas eletrônicos do caça F-39 Gripen.   

Em Kiev, os ucranianos se sentiram traídos pelos brasileiros. Havia até o plano de aquisição de aviões Super Tucano da Embraer, que deverá ser paralizado. Aliada ideológica de Bolsonaro, a Polônia é outro país que se preocupou com a reviravolta na política externa brasileira.

Fonte do Planalto disse à DefesaNet que contatos informais de diplomatas se acentuaram desde as declarações pró-russas de Bolsonaro. Informações de inteligência afirmam que a espionagem em Brasília aumentou nos últimos dias. Os atuais parceiros querem garantias do Brasil sobre seu posicionamento nas grandes questões globais. Caso se confirme o apoio brasileiro à Rússia, o Brasil poderá ter dificuldade na compra de armamentos e acesso a tecnologias sensíveis, isso também vai impactar nas exportações de produtos da Base Industrial de Defesa.

Ações da Rússia

Durante a pandemia a Federação Russa incentivou a negociação da vacina da Covid-19 SputnikV. Para isto procurou o Consórcio Nordeste, estados comandados por partidos de oposição ao goveno federal e apoiados em resoluções do Supremo Tribunal Federal, praticamente incentivaram uma secessão regional, que afetaria a integridade nacional. O assunto vacina SputnikV foi mencionado na entrevista coletiva dos dois chanceleres. O Brasil prometeu reconhecer a vacina assim que fosse recohecida internacionalmente.  

Em matéria exclusiva de DefesaNet, foi alertado sobre manobras russo-venezuelanas na fronteira norte do Brasil. Fato recohecido em audiênência pública da Comissão de Relações Exteiores da Câmara Federal pelo próprio Ministro da Defesa Braga Netto.  (Ver matéria  Exclusivo – Pela primeira vez Governo Brasileiro confirma russos operando na fronteira)

A visão dos militares brasileiros, bastante preocupados com a presença de militares russos na Venezuela, é de que a Rússia é um aliado complexo e cheio de nuances que a tornam incerta, e condenam a política externa de Moscou, que fez guerras e anexou parte dos territórios dos vizinhos Geórgia e Ucrânia. Apesar disso, um general da área de comunicações esteve na Rússia recentemente para conhecer as tecnologias russas. Moscou ainda pressiona pelo contrato de modernização dos helicópteros Mi-35 e a aquisição do sistema de defesa antiaérea Pantsir S2. Notícia plantada em recente exposição no Peru pelos russos.

A Marinha, que conduz um projeto de fragatas Clase Tamandaré, com a Alemanha e de submarinos com a França, também ficou preocupada com a repentina aproximação com a Rússia já que seus projetos de reequipamento poderiam sofrer reveses. A agressiva posição da Alemanha na reunião do Grupo Puebla, em apoio aos movimento de esquerda continental vai em direção contrária ao prometido pelo novo governo alemão às autoridades diplomáticas brasileiras, de que não ocorreria mudanças significativas frente ao Brasil. Embora o presidente Macron tenha provocado o Brasil, na recente viagem do ex-presidente Lula da Silva à França, o complexo militar-industrial francês consegue conter a sua influência. A Marinha monitora todos os movimentos no momento, que avança o programa de submarino de propulsão nuclear brasileiro. Embora a estatal Eletronuclear mantenha contatos com a russa ROSATOM.

Em 2016, na missão UNIFIL no Líbano, um navio de guerra russo iluminou com seu radar de tiro uma corveta brasileira, o que gerou bastante desconforto nos chefes navais.

O presidente Jair Bolsonaro e seus principais assessores internacionais, como o Almirante-de-Esquadra Flávio Rocha, precisam pensar e analisar, com cuidado, este complexo xadrex geopolítico global. Esses movimentos poderão minar a base de apoio interna do próprio presidente e colocar o país numa situação difícil de sair no concerto das nações. Quais seriam os ganhos?

Sem falar como ficam as relações com o maior parceiro comercial do Brasil. A China tem intereses comuns com a Rússia, mas não são aliados incondicionais.

 

*Kompromat – Técnica russa de comprometer o adversário ou até aliado para obter vantagens.

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