A Guerra em Rede Social e a Situação Atual no Brasil.

 

CARLOS ALBERTO PINTO SILVA

General-de-exército da reserva, ex-comandante de Operações Terrestres (COTer),

do Comando Militar do Sul (CMS) e do Comando Militar do Oeste (CMO).

A guerra deixou de ser simplesmente um choque entre nações com a utilização de sua força militar. A sociedade, hoje, poderá ser atacada mediante o emprego de idéias, da tecnologia, da força militar e do controle dos meios de comunicação. Os objetivos principais são a mente e o coração da população, e dos responsáveis pelas tomadas de decisão.

 

Interessante artigo, de autoria de Nilder Costa, comenta uma entrevista publicada no jornal mexicano Excelsior com Mário Moya Palencia, Ex-secretário de Justiça e Ex-embaixador na Itália, na qual ele denuncia a associação do Exército Zapatista de Libertação Nacional[1] com organizações não governamentais (ONGs) internacionais para desestabilizar o México:

 

“Os zapatistas não teriam resistido mais que algumas semanas não fosse esse maciço suporte propagandístico e logístico proporcionado pelo aparato internacional de ONGs, o que levou alguns estudiosos a qualificar a insurgência como a primeira experiência bem sucedida de uma “netwar”. Nesta nova modalidade de guerra irregular, as ONGs utilizam-se de faxes, teleconferências (netmeetings), mensagens eletrônicas (e-mails), pagers e telefones celulares para coordenar campanhas, divulgar ordens e pronunciamentos etc.[2]

 

Henrique Antoun acrescenta que:

 

”Arquilla e Ronfeldt criaram […] o conceito de guerra em rede (netwar), como o oposto correlato do conceito de ciberguerra (cyberwar) […]. Enquanto a ciberguerra compreenderia a luta de alta intensidade conduzida através de alta tecnologia militar travada por dois Estados (como, por exemplo, a Guerra do Golfo), a guerra em rede seria a luta de baixa intensidade travada de modo assimétrico por um Estado e grupos organizados em rede….[3]

 

No Brasil Tatiana Farah informa que:

 

“SÃO PAULO "Abajo y a la izquierda está el corazón". A frase do subcomandante Marcos, do Exército Zapatista de Libertação Nacional, do México, embala o discurso do Movimento do Passe Livre (MPL), que deu início às manifestações pelo país, forçando a queda no preço das tarifas de transporte público. "Abaixo" estão os grupos marginalizados e as minorias, que o MPL chama de "os de baixo". E "à esquerda", o discurso anticapitalista. Formado por universitários da USP e trabalhadores da periferia, o movimento se intitula anticapitalista, apartidário, pacífico, autônomo e horizontal…[4]

 

Mayara Vivian representante do MPL acrescenta:

Podemos ser qualquer pessoa, são as posições políticas do movimento que constroem as coisas desse jeito. Uma pessoa, sozinha, não faz uma manifestação.”[5]

A Guerra em Rede pode ser composta por conflito travado contra um estado por terroristas, criminosos, ou por grupos militantes da sociedade civil – Guerra em Rede Social (GERS).

 

A GERS é uma ação, com fins estratégico, organizada e coordenada para atuar, a partir de diversas direções, sobre um ponto isolado ou vários pontos de uma sociedade, por meio do apoio da atividade constante de operações psicológicas mediáticas, como estratégia e sistema avançado de manipulação e controle social.

 

A Guerra Psicológica Mediática, em apoio à GERS, é realizada por especialistas de guerra psicológica infiltrados na sociedade civil. Esses expert se aproveitam do fato mediático, obtido por intermédio do emprego planejado da propaganda e da ação psicológica, para direcionar a conduta das pessoas. 

 

As redes na GERS, desenvolvidas, sobretudo, por ativistas políticos e ONGs, podem incluir instituições oficiais de governo. Um exemplo: as ações de agentes bolivarianos (Venezuelanos) no Equador, na Bolívia, na Nicarágua, na Argentina e no passado conflito em Honduras.

 

No Brasil, atualmente, as questões ambientais, indígenas, políticas (Partidos políticos radicais) e sociais (Como o racismo, e as atividades do MST e MLST) constituem alvos potenciais para uma possível GERS, por suas similaridades operacionais, e devem ser motivo de atenção do governo e da sociedade brasileira.

 

Também é preciso ressaltar o constante incremento no número de ONGs, nacionais e estrangeiras, que atuam em nosso território, normalmente abastecidas com recursos vindos do exterior ou do próprio governo brasileiro, que na GERS prestam apoio logístico e de comunicações.

 

Nesta nova modalidade de conflito, os lideres, os especialistas em guerra psicológica, as ONGs utilizam-se de faxes, teleconferências, mensagens eletrônicas (e-mails), redes sociais, televisão e telefones celulares inteligentes para, criar fatos mediáticos, coordenar campanhas, convocar participantes, divulgar ordens, pronunciamentos, legitimar os conflitos, e etc.

 

A forma organizacional destes grupos não é hierárquica mais de rede, com coordenação de pequena intensidade, onde todos se comunicam entre si, sem mostrar uma chefia visível, o que atrapalha o combate e o controle por órgãos governamentais de segurança pública e defesa, que comumente possuem estruturas hierarquizadas.

 

A Venezuelase dedica a estudar a Guerra de Quarta Geração, principalmente na vertente GERS, por acreditar que ela constitui um instrumento empregado pelos Estados Unidos na manutenção de sua “postura imperialista” contra seu país e por ser a estratégia que escolheu para impor a nações latino-americanas o seu Projeto Bolivariano.

 

A Ideologia Bolivariana, projeto claramente político expansionista e de intervenção em assuntos internos de outros países, pode ser apontado como um movimento, que apoiado em conceitos políticos, econômicos e sociais, propicia o surgimento de ideias, através atividades de GERS, capazes de atrair para o seu campo de influência, pessoas em países da America Latina, cuja a crença em a certas causas são colocadas acima da própria nação.

 

No Brasil, na atual conjuntura de manifestações, é plausível se imaginar devido à semelhança no planejamento e na execução, o uso do modo operandi da GERS. Se não vejamos:

 

– Como os zapatistas, o MPL se difere dos partidos na forma horizontal de se organizar, em que tudo é decidido coletivamente. Não existem cargos nem líderes. Todos falam em nome do movimento. Nas ruas, não têm carro de som nem comício, para não ditarem o discurso dos "de baixo".[6]

– Uso das redes sociais no planejamento, na convocação dos participantes, e na execução das manifestações;

– Solicitação aos escritórios e residências da área da manifestação que retirem a segurança de suas redes interna (WI-Fi), de modo que os acontecimentos nas ruas possam ser repassados de imediato para televisões e jornais;

– Aproveitamento de descontentamento real da sociedade com o momento político, social e econômico do Brasil;

– Possibilidade da criação de grupos reativos, ideológicos, e oportunistas ampliando a massa de manifestantes;

– Intenção de desmoralizar as autoridades constituídas e os órgãos de segurança pública;

– A forma organizacional dos grupos participantes não é hierárquica mais de rede, com coordenação de pequena intensidade, onde todos se comunicam entre si, sem mostrar uma chefia visível;

– A hora das manifestações facilita o uso dos fatos nos principais jornais das televisões (Uso da mídia);

– Criação de fatos midiáticos (Depredação, selvageria em atos contra prédios públicos para provocar atuação violenta da polícia, destruição de patrimônio público);

– Busca da criação de mártir (Manifestante morto ou ferido gravemente) para poder radicalizar o movimento;

– Uso de ONGS e sites políticos para apoio logístico e de comunicações;

– Criação nas redes sociais de grupos de advogados para facilitar a defesa de manifestantes presos;

– Busca do apoio internacional através das redes sociais;

– Uso do momento (Copa das Confederações e visita do Papa) para ampliar as notícias das manifestações no Brasil e no exterior.

 

Estamos vivendo no Brasil manifestações (Conflitos: A GERS pode se apresentar sob a forma de conflito, não essencialmente de guerra) baseadas, no planejamento e execução na doutrina (Normas e regras) de GERS, o que nos leva a ponderar que os órgãos de segurança pública estão tentando controlar e dar segurança a população com doutrinas dos conflitos do passado, e não as das Novas Ameaças do presente.

 

Estudar as motivações de um grupo nos fornece uma forte indicação de como ele agirá e qual os seus limites, e a informação é o único meio pelo qual a opinião pública pode ser mudada, isto é, se pode ganhar a mente e o coração da sociedade

 


[1] Grupo guerrilheiro separatista.

 

[2] COSTA, Nilder. As ONGs e a 'netwar'[on line]. Rio de Janeiro, 26 de março de 1999. [data da consulta: 30 de setembro de 2009]. Disponível em: http://www.alerta.inf.br/Geral/938.html.

 

[3] ANTOUN, Henrique. Ocupação da reitoria da USP – Redes de Guerra. 18 de maio de 2007. [data da consulta: 30 de setembro de 2009]. Disponível em: http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2007/05/382336.shtml.

 

[4] O Globo, 23/06/2013. Passe Livre se inspira em zapatistas do México. Jovens que iniciaram protestos no país trocam experiências com exército pacífico indígena de Chiapas.

[5] Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/pais/podemos-ser-qualquer-pessoa-diz-organizadora-de-movimento-8702393

 

[6] O Globo, 23/06/2013. Tatiana Farah. O Brasil nas Ruas. Passe Livre se inspira em zapatistas do México.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

 

COSTA, Nilder. As ONGS e a “netwar”[on line]. Rio de Janeiro, 26 de março de 1999. [data da consulta: 30 de setembro de 2009]. Disponível em: http://www.alerta.inf.br/Geral/938.html.

 

FORO DE SÃO PAULO. Declaração Final do XV Encontro. Disponível em: http://www.jusbrasil.com.br/politica/3434045/foro-de-sao-paulo-divulga-declaracao-final-do-xv-encontro.

 

FREYTAS, Manuel. Guerra de Cuarta Generación, 4GW.

 

PERDOMO ARBOLA, Edgar. La 4WG tumbó a Zelaya: ¡Mosca Chávez!.

 

ANTOUN, Henrique. Multidão e o Futuro da Democracia na Cibercultura.

 

______. Ocupação da reitoria da USP. Redes de Guerra. 18 de maio de 2007. [data da consulta: 30 de setembro de 2009]. Disponível em:http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2007/05/382336.shtml.

 

ARQUILLA, John & RONFELDT, David. Swarming and the Future of Conflict.

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