ENTREVISTA Brig Baptista Jr – DIRMAB


por Valéria Rossi
Informe ABIMDE


A consolidação da indústria brasileira de defesa para projetos ligados à Aeronáutica passa pela Diretoria de Material Aeronáutico e Bélico (DIRMAB), comandada pelo Major Brigadeiro-do-Ar Carlos de Almeida Baptista Junior. Nessa função desde o último mês de abril, o diretor atendeu a Revista Informe ABIMDE para falar, entre outras questões, sobre a importância da colaboração entre as empresas nacionais para que possam competir com os concorrentes internacionais.

"Ainda existe dependência externa quando falamos de produtos com maior conteúdo tecnológico", destaca Baptista Junior. Além disso, o Major Brigadeiro-do-Ar ressalta as atribuições da DIRMAB no fortalecimento do setor e como projetos inovadores, como o KC-390, podem alçar a indústria nacional a um novo patamar de conhecimento tecnológico.

INFORME ABIMDE – Desde quando o senhor está à frente da DIRMAB?

Major Brigadeiro-do-Ar Carlos de Almeida Baptista Junior – Fui designado pelo Comandante da Aeronáutica para comandar a Diretoria de Material Aeronáutico e Bélico (DIRMAB), em abril do corrente ano.

IA – Como funciona essa diretoria?

Brigadeiro Baptista – A DIRMAB tem como principal missão fornecer o apoio de suprimento e de manutenção de aeronaves, de forma efetiva e econômica, aos usuários dos Sistemas de Material Aeronáutico e de Material Bélico da Força Aérea Brasileira, de forma a garantir o pronto emprego dos meios aeroespaciais nas operações militares, em tempo de paz e de guerra. Todas as ações desta Diretoria e de seus elos subordinados são precipuamente volvidas à manutenção da soberania do espaço aéreo com vistas à defesa do território nacional

IA – A DIRMAB tem um papel importante na aquisição de novos materiais bélicos, como isso é feito?

Brigadeiro Baptista – Todo processo de aquisição de material é iniciado no Estado-Maior da Aeronáutica (EMAER), que estabelece as diretrizes para obtenção e utilização dos itens bélicos no âmbito da Força Aérea Brasileira. Os parâmetros do EMAER são complementados por informações fornecidas pelos Órgãos de Direção Setorial do Comando da Aeronáutica, que, em momento oportuno, são processadas pelo corpo técnico da DIRMAB. O resultado deste trabalho norteia a elaboração do Plano de Obtenção de Material Bélico, que passa por uma análise de priorização e de adequação, face aos limites orçamentários estabelecidos pela Lei Orçamentária Anual (LOA).

IA – Como a DIRMAB se relaciona com a indústria nacional? Nossa indústria consegue atender todas as necessidades das Forças? Se não, como são feitos os contatos com a indústria estrangeira? No caso de compra fora do País, existe alguma contrapartida para a BID (Base Industrial de Defesa)?

Brigadeiro Baptista – A Estratégia Nacional de Defesa (END) estabelece, em um de seus objetivos, o incentivo ao crescimento da base industrial de defesa instalada no País, ampliando o fornecimento de itens bélicos para as Forças Armadas e permitindo a exportação de produtos de defesa. Com este enfoque, a Força Aérea Brasileira continuou a priorizar o fornecedor nacional, quando diante da necessidade de compra de qualquer tipo de material.

A título de ilustração, na atualidade, a maior parte do material bélico necessário para as operações militares da FAB é fornecida pela indústria nacional. Todavia, ainda existe dependência externa quando falamos de produtos com maior conteúdo tecnológico, motivo pelo qual a FAB mantém comissões no exterior encarregadas de conduzir processos licitatórios e de fiscalizar os contratos celebrados com as empresas estrangeiras. Nas aquisições acima de US$ 5 mi (cinco milhões de dólares), são estabelecidos acordos de compensação, chamados de "offset", nos quais existem contrapartidas para a indústria nacional, com a transferência de tecnologia e, em alguns casos, com a produção do próprio material no País.

IA – Como o senhor avalia a capacidade de desenvolvimento, inovação e entrega da indústria nacional e as parcerias desenvolvidas com a Força Aérea?
 
Brigadeiro Baptista – A parceria desenvolvida com as indústrias de defesa tem denotado vantagens aviltantes tanto para o Estado quanto para as próprias colaboradoras, que a cada dia, apesar do enfrentamento de inúmeras dificuldades, têm demonstrado muito empenho para conseguir fazer frente às concorrentes internacionais.

A Força Aérea tem buscado estimular a inovação da indústria de defesa do País por meio do Plano Estratégico Militar da Aeronáutica, o chamado PEMAER. Neste plano, existem diversos projetos estratégicos de alta tecnologia do Comando da Aeronáutica, nos quais há o incentivo à participação direta das empresas brasileiras, seja no fornecimento de materiais, seja no recebimento dos benefícios advindos dos contratos de compensação. Desde a recente implantação do PEMAER, no ano de 2010, os resultados têm sido muita animadores, uma vez que estamos vivenciando a modernização paulatina dos nossos meios aéreos, contudo, os melhores frutos são esperados para médio e longo prazos.

IA – Qual o caminho que o senhor sugere para que as empresas brasileiras consigam vender mais o seu produto dentro do País?
 
Brigadeiro Baptista
– O investimento contínuo na qualidade dos produtos, na capacitação dos recursos humanos e a busca por preços competitivos são fatores que contribuem para uma boa reputação das empresas e que, em decorrência, estimulam a confiança do Estado, já que as leis de mercado, indiscutivelmente, também se aplicam ao comércio de defesa do País.
 
Para a Força Aérea Brasileira, é fundamental que haja a diversificação e o fortalecimento de seus fornecedores, e que estes  estejam atentos aos padrões de  qualidade, de inovação e de pronta resposta esperados por nossa instituição.

IA – No que diz respeito aos grandes projetos estratégicos do País (como FX-2, KC 390, etc.) qual é o papel da DIRMAB?

Brigadeiro Baptista – Em tese, o papel da DIRMAB é o de "Fazer Voar"! Esses dois termos encerram atividades de grande complexidade e de enorme responsabilidade. Para garantir a operação dessas aeronaves com a disponibilidade desejada, a DIRMAB precisa conhecer todas as particularidades do projeto.",  decifrando as tarefas de manutenção definidas pelo fabricante, entendendo em detalhes os dados de confiabilidade logística de seus sistemas e dimensionando os recursos de materiais e requeridos para sua operação.

Uma vez dominados esses aspectos, a DIRMAB passa a gerenciar os recursos financeiros e a norrnatizar as atividades, divulgando-as a todos os elos do Sistema de Material Aeronáutico, tais como os Parques de Material Aeronáutico e os Esquadrões de Suprimento e Manutenção das Bases Aéreas, de modo a poderem ser executadas de maneira efetiva. Completando o ciclo, a DIRMAB promove reuniões de acompanhamento e auditorias periódicas com a finalidade de verificar se o que foi normatizado e distribuído está sendo realizado da maneira esperada.

IA – Como a DIRMAB está se preparando para apoiar a entrada em operação do KC-390, em 2016?
 
Brigadeiro Baptista – A DIRMAB tem participado ativamente de todos os eventos relacionados ao desenvolvimento desse projeto, desde a assinatura do contrato com a EMBRAER, em 2009. Uma das atividades é a análise dos materiais e documentos entregues de acordo com o cronograma físico-financeiro, como, por exemplo, os equipamentos, as bancadas de testes, o Plano de Apoio Logístico Integrado, a Lista de Aprovisionamento Inicial, o Plano de Manutenção, dentre outros. Em seguida, é feito um levantamento dos recursos necessários para garantir a operação e a disponibilidade esperadas, conforme o esforço aéreo pretendido para a frota.

É também realizada uma análise sobre os impactos para a operação e a manutenção, decorrentes de eventuais restrições orçamentárias, de modo que os demais órgãos sistêmicos do Comando da Aeronáutica possam ser devidamente assessorados quanto às eventuais ações a serem adotadas. Nessa senda, os Parques de Material Aeronáutico têm sido convocados para participar das discussões sobre o projeto com a utilização da metodologia MSG-3, o que permitirá o aperfeiçoamento das tarefas e a consequente redução do suporte logístico requerido para manter e operar a aeronave. Cabe ressaltar que o KC-390 é a primeira aeronave da FAB cujo plano de manutenção está sendo desenvolvido em conjunto entre o fabricante e o operador, o que trará grandes benefícios a todos os envolvidos e ao País.

IA – Quais os próximos desafios da DIRMAB?

Brigadeiro Baptista – Entendo que, na atualidade, um dos grandes desafios da Diretoria de Material Aeronáutico e Bélico da Força Aérea Brasileira é o de se aproximar cada vez das  indústrias de defesa do País, de modo  a restar  claro que , independentemente do natural espírito de competição existente, a mútua colaboração entre as empresas, com o apoio do Estado, talvez seja a maior arma que elas tenham às mãos, já que os seus maiores concorrentes não estão no território nacional.

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