“Com o sacrifício da própria vida” … Quando render-se não é uma opção

Coronel R1 Carlos Daróz

Todas as sociedades são constituídas por diferentes corporações profissionais que, não raro, reúnem homens e mulheres extremamente dedicados a seus ofícios, trabalhando com competência e de forma destacada. Existe, no entanto, uma profissão diferenciada, na qual seus integrantes, ao nela ingressarem, comprometem-se voluntariamente a doar, se necessário for, seu bem jurídico tutelado mais valioso: a própria vida.

Apenas por esse aspecto singular, a profissão militar revela-se diferente de todas as demais. Ao serem incorporados às fileiras do Exército Brasileiro (EB), todos os homens e mulheres – soldados, sargentos e oficiais – prestam o compromisso de defender a Pátria “com o sacrifício da própria vida”.

No curso da história militar, não é difícil encontrar exemplos em que tal conceito foi provado no calor da batalha. No distante ano de 480 a.C., cerca de 300 guerreiros espartanos, sob as ordens de Leônidas, resistiram até a morte diante de uma investida persa no desfiladeiro das Termópilas.

Em 1836, pouco mais de 200 norte-americanos permaneceram lutando até o fim no Forte Álamo, Texas, ao serem atacados por 1.800 soldados mexicanos. Menos de dez defensores da fortificação sobreviveram.

Durante a Segunda Guerra Mundial, por ocasião da blitzkrieg alemã contra a França, em 1940, a 13ª Brigada britânica decidiu “ficar para trás”, a fim de cobrir e possibilitar a retirada em Dunquerque, mesmo sabendo que o destino seria a morte ou a captura.

Em nossa história militar, soldados brasileiros também foram levados até esse limite, no qual a rendição não era uma opção a ser considerada. Em dezembro de 1864, nos primeiros movimentos da Guerra da Tríplice Aliança, uma coluna paraguaia, com aproximadamente 300 homens, sob o comando do Coronel Vicente Barrios, investiu contra o Mato Grosso, tomando a direção da Colônia Militar de Dourados, um diminuto posto avançado do Exército Imperial liderado pelo Tenente de Cavalaria Antônio João Ribeiro.

Ciente da notícia da aproximação de tropa inimiga de valor incontestavelmente superior, o oficial brasileiro providenciou para que a população civil da colônia fosse evacuada para um local seguro e decidiu resistir, ainda que a vitória fosse impossível. Liderando sua guarnição, não se renderia ao inimigo.

Instado à capitulação pelo Major paraguaio Martin Urbieta, Antônio João comunicou-lhe sua disposição em defender aquela longínqua porção do território de sua Pátria e enviou-lhe a resposta que entraria para a história:

– Sei que morro, mas o meu sangue e o de meus companheiros servirá como solene protesto contra a invasão do solo de minha Pátria.

Não se renderam. O Tenente Antônio João e sua guarnição não foram poupados pelos paraguaios. Em 1870, o conflito terminaria com a vitória da Tríplice Aliança. Quase 120 anos mais tarde, em 1980, Antônio João foi escolhido pelo EB como patrono do Quadro Auxiliar de Oficiais (QAO).

No entanto, extrapolando o universo dos integrantes do QAO, na verdade, o Tenente de Cavalaria Antônio João representa o compromisso perene e o espírito de sacrifício do soldado do Exército de Caxias, pronto para, se necessário for, entregar seu bem maior – a vida – na defesa da Pátria.

Não se rendeu… entrou para a história com “o sacrifício da própria vida”.

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