Ecos da IIª Guerra Mundial – Voz do Brasil – Rede anacrônica e inútil(?)

Nota DefesaNet

O competente e sempe bem informnado Ethevaldo Siqueira analisa a rede Voz do Brasil com os olhos de hoje. Um evidente anacronismo, ter o horário de 19 às 20 horas bloqueado,  quando o cidadão brasileiro urbano mais necessita do rádio como meio de informação na tentativa diária de sair dos tumultos do tráfego.

Analisemos a Voz do Brasil sobre um enfoque histórico e estratégico. Criada em 1935, era uma resposta tímida à crescente entrada de emissões das radios internacionais, muitas carregando na propaganda politica de seus países. E outras seguindo a política de AGITPROP (agitação e propaganda).

A voz do poder central brasileiro, tentando estabelecer um link com os mais distantes pontos ddo país. As emissões da Voz do Brasil tinham a participação de cantores populares e como um efeito gerou a aceitação do samba como um ritmo nacional.

A mais conhecida das rádios internacionais é a BBC (British Broadcasting Corporation), fundada em 1922. Seguida pela Radio Moscou, fundada em 1922, encarregada da difusão da propaganda da União Soviética. Atualmente é chamada Voz da Rússia.

Rádio Vaticano (Radio Vaticana), fundada em 1931, por Gugliemo Marconi, difundia a posição do Vaticano. Teve significativa atuação na 2ª Guerra Mundial sendo a primeira a mencionar, por ordem de Pio XII, que judeus e poloneses estavam sendo segregados em guetos.

Os alemães  introduziram o Rundfunk Ausland (Foreign Radio Section), já em 1933, ano da posse de Adolf Hitler, e em 1934 iniciaram programas especiais para a América do Sul.

A VOA (Voice of America – Voz da America), foi fundada em  1942, porém já havia uma grande emissão de rádios americanas para a América Latina a partir das redes de ondas curtas das emisoras CBS e NBC.

A Guerra Civil na Espanha (1936-39) acirrou esta disputa nas ondas hertzianas recrudesdcendo o embate ideológico.

Fato similar veio acontecer durante os anos 60 e 70 quando as radios comunistas apoiavam os movimentos guerrilheiros na América Latina (Radios: Albania, Berlin (DDR) e China).

Portanto a Hora Nacional (nome original) não foi um mero interesse político, mas sim, foi um instrumento de presença do estado brasileiro naquele período. Em especial pela falta de redes de radiodifusão privadas com potência para cobrir a maior parte do  Brasil. Observar que escutar emissões de rádios do Eixo (Alemanha, Itália e Japão), foram proibidas aos cidadãos brasileiros, após a entrada do Brasil na segunda Guerra Mundial.

Uma história que merece ser contada mais detalhada que esta menção do wikipedia:
 

" O programa foi criado por Armando Campos, amigo de infância de Getúlio, com a intenção de ajudar o seu amigo, colocando suas idéias para a população escutar, e assim serem a favor de seu governo. Passou ser transmitido em 22 de julho de 1935, durante o governo de Getúlio Vargas com o nome de "Programa Nacional", sendo apresentado pelo locutor Luiz Jatobá. De 1934 a 1962, foi levado ao ar com o nome de Hora do Brasil. Em 1938, já com o nome de Hora do Brasil programa passou a ter veiculação obrigatória, somente com a divulgação dos atos do Poder Executivo, sempre das 7 às 8 horas da noite, horário de Brasília. Em 1962, a partir da entrada em vigor do Código Brasileiro de Telecomunicações, o Poder Legislativo passou a ocupar a segunda meia hora do noticiário. Em 1971, por determinação do presidente Médici, o nome "Hora do Brasil" muda para "A Voz do Brasil".

O Editor

Ethevaldo Siqueira
O Estado de S. Paulo – 26/06/2011


Começo com uma pergunta ao leitor: você costuma ouvir a Voz do Brasil? De minha parte, confesso que sou ouvinte desse programa. E explico: mesmo não sendo masoquista, ouço esse noticiário oficial para comprovar até onde chega o uso da máquina pública e o projeto de poder do PT.

Um bom exemplo dessa estratégia de "petização" do País ocorreu há pouco mais de uma semana, no dia 16 de junho de 2011, data em que a Voz do Brasil deu um show de propaganda governista, ao noticiar o programa habitacional "Minha Casa Minha Vida 2" – durante 13 minutos dos 25 que dura o noticiário dedicado ao Poder Executivo. Qualquer rádio independente daria a mesma notícia no máximo em 3 minutos.

A Voz do Brasil, programa transmitido em rede obrigatória de mais de 3 mil emissoras de rádio AM e FM, de norte a sul do País, tem hoje um estilo propagandístico e serve de palanque eletrônico diário ao governo, ao PT e seus aliados.

Seus defensores são, acima de tudo, os políticos beneficiários dessa rede anacrônica, cara e inútil, que se perpetua no País há mais de 70 anos. A rigor, hoje ela só interessa aos políticos do Executivo, à base partidária governista e, em especial, aos deputados oriundos dos grotões, que usam o programa para comunicação com suas bases, até para recados triviais do tipo "Alô, mamãe".

Anacronismo. Criada em 1935, ou seja, há 76 anos, em plena era Vargas, a Voz do Brasil tinha, ao nascer, alguma semelhança com o projeto de Joseph Goebbels, o ministro da Propaganda da Alemanha nazista, que levava a voz de Hitler e do regime via rádio a todos os alemães, de 1933 a 1945.

Na época, o Brasil tinha poucas emissoras de rádio, único meio de comunicação de massa de que o mundo dispunha. Por isso, ao criar a Hora do Brasil, o grande argumento de Getúlio Vargas era usar a rede obrigatória como "fator de integração nacional" para levar a voz do governo a todo o País.

Hoje, em pleno século 21, o cenário das comunicações brasileiras é radicalmente diferente. A televisão aberta chega a 95% dos lares do País. O rádio está presente em 80% dos domicílios e é ouvido em 18 milhões de automóveis, da frota nacional de 28 milhões. E a internet já conta com mais de 75 milhões de usuários. Por que, então, manter esse programa em rede obrigatória?

Alternativas. É claro que todos os governos precisam divulgar seus feitos, suas decisões e projetos. Para fazê-lo, no entanto, há hoje opções muito mais eficazes e econômicas do que uma rede obrigatória de 3 mil estações de rádio.

Uma delas poderia ser a distribuição diária, via Agência Brasil, do noticiário oficial dos três poderes a toda a mídia – rádios, TVs, jornais, revistas e portais da internet. Não temos dúvida: todas as notícias de real interesse público seriam divulgadas, com critérios mais jornalísticos, maior credibilidade, menores custos e maior audiência.

Na verdade, isso já está ocorrendo: a maior parte das notícias governamentais já são divulgadas pelo rádio, pelas redes de televisão privadas e pelos maiores portais da internet. E sem nenhum custo.

Além de contar com essa divulgação espontânea, o governo poderia usar sua própria rede de radiodifusão, composta por mais de 40 emissoras de rádio e TV do governo federal e dos Estados, entre as quais, a Empresa Brasileira de Comunicações (EBC), a TV Câmara, TV Senado, TV Justiça e as chamadas TVs Educativas. Dê uma espiada, leitor, no site da EBC (www.ebc.com.br) e veja, como exemplo, as rádios e TVs da empresa.

História. A ideia de um noticiário oficial do governo nasceu em 1934 com o Programa Nacional, criado por Armando Campos, um amigo de infância de Getúlio Vargas, transmitido na voz empostada de Luiz Jatobá, o famoso locutor de todas as ditaduras, do Estado Novo ao regime militar. Mas o programa não era obrigatório.

Reformulado e com o nome de Hora do Brasil, o programa oficial tornou-se obrigatório e passou a ser transmitido por todas as rádios do País a partir do dia 22 de junho de 1935. Durante o Estado Novo (1937-1945), período ditatorial de Vargas, foi utilizado intensamente pelo Executivo, para a transmissão da maioria dos discursos oficiais e mensagens do governo, pelo antigo Departamento de Imprensa e Propaganda, o DIP. Mas, só a partir de 1962, com a Lei 4.117 (Código Brasileiro de Telecomunicações) a Hora do Brasil passou a dedicar metade de seu tempo ao noticiário do Poder Legislativo.

Os governos adoram as trombetas públicas que contam e cantam seus feitos. A partir de 1970, o regime militar chegou a obrigar as emissoras de rádio e TV do País a transmitir em rede até programas educativos, como o Projeto Minerva. Era tão chato que povo o apelidou de "Projeto Me Enerva".

A Voz do Brasil – como a tiririca, a planta daninha dos jardins – tem resistido a todos os governos e regimes. Nem as Constituições de 1946 a 1988 conseguiram sepultá-la como rede obrigatória.

Se outra razão não houvesse para extingui-la ou torná-la facultativa, bastaria lembrar que a Voz do Brasil representa, acima de tudo, um imenso desperdício de energia elétrica, ao impor a formação de uma rede diária de 3 mil emissoras, totalmente redundante, de baixa audiência, anacrônica, inútil e cara. Está na hora de remover esse entulho.

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