Futuro da Amazônia depende da “quarta revolução industrial”

Daniela Chiaretti

O futuro da Amazônia pode depender de uma terceira via de desenvolvimento baseada na inovação tecnológica de ponta, no conhecimento tradicional e nos ativos da biodiversidade. Esta arquitetura inclui erguer em vários pontos da floresta centros de pesquisa como o Vale do Silício, na Califórnia e ter uma rede de cientistas internacionais estudando sua riqueza biológica.

A estratégia está relacionada à implantação, na floresta, da chamada "Quarta Revolução Industrial". O conceito, tema da reunião deste ano no Fórum Mundial de Davos, trata de um movimento global em curso há mais de uma década e que revoluciona as sociedades por meio de inteligência artificial, robótica, genômica e nanotecnologias, por exemplo.

"É olhar a Amazônia não pelos seus recursos naturais como água, terra e minerais, mas pelos biológicos", diz o climatologista Carlos Nobre. "É estudar a riqueza biológica da Amazônia. Principalmente, a riqueza biológica escondida." A abordagem está em estudo publicado sexta-feira na revista PNAS (Proceeding of the National Academy of Sciences) por um grupo de cientistas liderado por Nobre. Trata-se de um plano de inovação em grande escala para a floresta. O modelo associa ciência ao conhecimento tradicional das comunidades locais e povos indígenas.

A ideia é explorar o que outro pesquisador do grupo, o peruano Juan Carlos Castilla-Rubio, denominou de a "terceira via amazônica". "Esta nova economia tem o potencial de ser muito maior do que a atual, baseada na exploração econômica com 'intensificação sustentável'", diz o engenheiro bioquímico Castilla-Rubio. Outro flanco do estudo aponta os riscos a que a floresta está submetida. "Fizemos um grande sumário do conhecimento mundial recente sobre Amazônia e apresentamos resultados novos sobre o efeito sinérgico do desmatamento com o aquecimento global mais os incêndios florestais, e considerando os efeitos benéficos do aumento da concentração de gás carbônico para a floresta", diz Nobre.

Esses fatores juntos mostraram que há dois limites que não podem ser superados para garantir o equilíbrio da floresta: chegar a 4°C de aquecimento ou 40% de desmatamento. Se uma dessas condições for superada, os cientistas acreditam que se chegará a um ponto de ruptura. Em 2050, metade da floresta pode virar savana. Os pesquisadores envolvidos com o estudo não acreditam na primeira via de desenvolvimento da Amazônia. Foi o debate de décadas atrás, de tentar preservar tudo com unidades de conservação. "A ideia de colocar uma cerca na Amazônia era impossível", diz Nobre.

Nobre, que é pesquisador aposentado do INPE e novo membro da National American of Sciences (NAS), é crítico do segundo modelo de desenvolvimento, baseado na "exploração econômica e na intensificação sustentável". Diz ele: "Está embutido aí a ideia de que é preciso remover a floresta para gerar valor econômico. E quanto mais bem-sucedida a atividade, mais dinheiro há para colocar neste modelo. Nenhum desses caminhos asseguram a manutenção da floresta a longo prazo", diz Nobre.

Os pesquisadores citam a exploração do açaí, do babaçu, do cupuaçu. Mas, mais que isso, de estudar, por exemplo, a rã Tungara, que cria uma espuma de longa duração capaz de absorver CO2. Outro exemplo é do jambu, planta com propriedades anestésicas que está sendo estudada para uso em pastas de dentes ou em produtos antiinflamatórios. "É aprender com as soluções que o ecossistema da floresta desenvolveu há milhões de anos", diz Nobre.

Castilla-Rubio lembra que a recente redução de 80% no desmatamento da Amazônia nos últimos 10 anos cria uma ponte para que se inverta o modelo de desenvolvimento atual na região. "É produzir valor econômico com muito conhecimento e inovação, mas mantendo a floresta em pé", diz ele. "É desenvolver cadeias de produtos baseados na biodiversidade e que têm capacidade de alcançar mercados globais."

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