Megacidades: US Army analisa ocupações irregulares e poder paralelo no Rio de Janeiro

 

Série de artigos sobre MEGACIDADES e a análise do Estudo do US Army:

MEGACITIES AND THE UNITED STATES ARMY PREPARING FOR A COMPLEX AND UNCERTAIN FUTURE

Megacidades: SP e RJ pelo US Army

Megacidades – US Army analisa desigualdade social e o poder do PCC em São Paulo

Megacidades: US Army analisa ocupações irregulares e poder paralelo no Rio de Janeiro

 

Por Nicholle Murmel

Analista DefesaNet

Nota DefesaNet:

 

O combate vem migrando do campo de batalha tradicional, até certo ponto delimitado pela presença das tropas e recursos militares institucionalizados do adversário, e do qual a população civil está relativamente afastada, para uma realidade de células menores instigadoras de conflito – insurgentes, milícias, grupos para-militares e facções de crime organizado – que muitas vezes estão no tecido urbano, misturadas à infraestrutura e à população civil de cidades, e até mesmo no papel de autoridades paralelas em casos de debilidade ou falta do poder político oficial.

 

Nesse cenário, variáveis como Garantia da Lei e da Ordem (GLO), prevenção e diminuição de efeito colateral e colaboração com forças policiais locais e com a população passam a fazer parte do cálculo de contingentes militares que operam nessas megacidades.

 

É importante lembrar que o documento “Megacidades e o Exército dos Estados Unidos – Preparação para um futuro incerto e complexo” (MEGACITIES AND THE UNITED STATES ARMY PREPARING FOR A COMPLEX AND UNCERTAIN FUTURE), é um parecer técnico formulado pelo Exército dos Estados Unidos sob uma lógica intervencionista, para apontar quais desafios e quais recursos estratégicos e táticos um contingente estrangeiro encontraria caso operasse nos cenários representados por cada cidade analisada. Rio de Janeiro e São Paulo são os dois exemplos brasileiros que aparecem, descritos de forma breve, que não dá conta de toda a complexidade socioeconômica e histórica dessas megalópoles, mas que traça um panorama bastante prático de problemas estruturais, da exclusão social, dos grupos que podem gerar instabilidade, e das dificuldades que os governos enfrentam para tornar esses espaços urbanos inchados mais integrados com melhores condições de cidadania.

A seguir, você confere o parecer técnico sobre o Rio de Janeiro.

DefesaNet

Nota – Observar que a capa tem a imagem da cidade de São Paulo

Cidades com população de mais de 10 milhões de habitantes são designadas como megacidades. Atualmente, há cerca de 20 delas em todo o mundo, e até 2025 esse número chegará a 40. As tendências são claras – megacidades estão crescendo, se tornando mais conectadas, e a capacidade das nações que as abrigam para lidar com essa explosão urbana e manter a segurança é, em muitos casos, cada vez menor.

 

Essas cidades gigantes crescem tão rápido, que está se tornando cada vez mais difícil para a nação que as contêm acompanhar esse crescimento com infraestrutura e recursos apropriados. Agentes geradores de instabilidade já estão presentes em vários locais e aumentam rapidamente. É inevitável que, em algum momento, seja pedido que o Exército americano opere em uma megacidade, e no momento, o Exército não está preparado o suficiente para isso.

 

ESTUDO DE CASO: RIO DE JANEIRO, BRASIL

 

Resumo

 

O Rio de Janeiro aspira a ser uma cidade global, e luta com as consequências da falha histórica em integrar as vastas comunidades de moradias irregulares (favelas) aos sistemas formais de governança e suporte estatal. Mesmo que a cidade ostente sua prosperidade econômica e tenha conseguido sediar jogos da Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016, ela trava uma luta violenta para assumir o controle sobre suas áreas de ocupação irregular. As mais de 600 favelas são um entrave às aspirações do Rio como cidade global e podem significar uma ameaçã existencial por conta do grande número de mílicias e facções de crime organizado que atualmente governam essas comunidades. Esses poderes paralelos são capazes de paralisar a malha urbana através de ataques coordenaods que abrangem a cidade inteira, como aconteceu em novembro de 2010, quando foram necessários mais de 3 mil policiais e militares para acabar com a onda de violência que tomou a cidade e partiu de uma única favela.

 

Tipologia

O Rio é uma cidade moderadamente integrada, com resiliência suficiente para manter a estrutura urbana funcionando apesar da ameaça representada pelas milícias e pelo crime organizado. A cidade é capaz de agrupar recursos e enfrentar o desafio das favelas, além de receber apoio robusto de um governo federal que administra a oitava maior economia do mundo.

Aspectos relevantes

 

A rede de mecanismos formais, informais e ilícitos de segurança no Rio de Janeiro é complexa.

 

O Rio tem quarto níveis distintos de polícia, indo desde unidades de elite até polícias pacificadoras incumbidas de ocupar as favelas por 25 anos. Centenas de milícias locais pontuam a cidade, competindo com gangues de crime organizado pelo controle das áreas mais pobres. Todos esses grupos têm antecedentes de abusos contra os direitos humanos. Para ser bem-sucedida, a ação militar em megacidades pode exigir parcerias não-convencionais.

 

Integrar a cidade é um processo caro e de longo prazo.

O Rio de Janeiro, cidade mais famosa e com mais recursos no Brasil, lançou um programa de pacificação para se tornar mais integrada e inclusiva. Mesmo com recursos significativos voltados a esse vim, o sucesso não é forma alguma garantido. As implicações da falta de integração nas cidades grandes são profundas. Parece pouco provável que áreas urbanas com desafios tão extensos e recursos limitados consigam reverter as atuais tendências.

Espaços governados por poderes paralelos dentro da cidade podem representar ameaças inesesperadas

 

O ataque que parou a cidade em 2010 demandou uso de armamento pesado, blindados e aeronaves para ser aplacado. Abastecidas pelo tráfico ilícito e entrincheiradas entre a população local, as facções de crime organizado no Rio se transformaram em uma ameaça híbrida, capaz de desafiar o governo federal. O alcance de redes ilícitas e criminosas operando a partir das favelas das megacidades é limitado apenas pela ambição dos criminosos, e pode-se esperar que atinja implicações globais no futuro.

 

O Exército americano tem muito o que aprender com o desafio das facções de narcotráfico no Rio de Janeiro. Utilização de forças combinadas contra uma ameaça híbrida em uma cidade de grande porte é uma estratégia que o Brasil está adotando agora. Parcerias entre policiais e Forças Armadas estão no cerne da abordagem das autoridades brasileiras para o problema, com mapeamento e levantamento extenso das redes de governança e segurança locais.

 

Texto em inglês

SUMMARY: Rio is an aspiring world city, struggling to address the consequences of historical failure to integrate its vast slum communities (favelas) into the city’s formal governance and support systems. Even as the city touts its economic achievements and hosting the 2014 World Cup and 2016 Summer Olympics, it is engaged in a violent struggle to gain control of its slums.

The over 600 favelas that dot the city now hamper its aspirations and may pose an existential threat due to the numerous militias and criminal gangs that now govern them.35 They have the ability to paralyze the city through coordinated, city wide attacks, as occurred in November 2010 when over 3,000 police officers and military personnel were required to end city-wide violence emanating from a single favela.

Typology: Rio de Janeiro is a Moderately Integrated city, possessing sufficient resilience to maintain the city’s function despite the threat posed by criminal gangs and militias. It is capable of marshalling re-sources to address the challenge of the favelas, and receives robust support from a national government that oversees the eighth largest economy in the world.

Key Findings:

The network of formal, informal and illicit security structures in Rio is com-plex. Rio has four separate levels of police ranging from elite units to pacification police tasked to garrison favelas for 25 years.38 Hundreds of local militias dot the city, competing with criminal gangs for control. All these groups have records of human rights abuses. To be successful, military action in megacities may require non-standard partnerships.

Increasing city integration is a long-term, expensive process. Rio, Brazil’s most famous and best resourced city, has launched a pacification program to make itself better integrated. Even with its significant resources, success is by no means certain. The implications for loosely integrated cities are profound: it seems unlikely that cities with extensive challenges and limited re-sources will reverse ongoing trends.

Alternately governed space in cities can pose unantici-pated threats. The 2010 city-wide attack shut down a global city and required heavy weapons, armored vehi-cles and aviation assets to quell. Fueled by lucrative illicit trade and entrenched in the local population, crimi-nal gangs in Rio developed into a hybrid threat capable of challenging a national government. The reach of illicit and criminal networks operating from slums in megaci-ties is limited only by their ambitions, and can be antici-pated to take on global implications in the future.

The U.S. Army has a great deal to learn from the chal-lenges posed by the drug gangs of Rio de Janeiro. Utilization of combined arms maneuver against a hybrid threat in a megacity is a challenge Brazil is ad-dressing now. Military-police partnership lies at the heart of the Brazilian approach, with extensive mapping and leveraging of local governance and security networks.

Nota DefesaNet

Observar que as Forças Armadas Americanas têm seguido com muita atenção as ações GLO no Brasil e MOUT, em especial no Rio de Janeiro. E também a própria MINUSTAH.

Ver a matéria:

Doutrina de GLO do Exército Brasileiro é Adotada pelo US ARMY  2012 Link

Recomendamos acompanhas ar Coberturas Especiais

a) MOUT (Military Operations in Urbanized Terrain) Link

b) Riots Link

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