VBC LEOPARD 1 A5 BR no Combate Noturno

Augusto Cezar Mattos G. de Abreu Pimentel – 1º Ten Cav
Instrutor do Curso de Cavalaria da AMAN
pimentel_cav@hotmail.com

 

RESUMO

O presente artigo versa sobre o emprego da VBC/CC Leopard 1 A5 BR no combate noturno e visa apresentar a complexidade e relevância da temática, analisando os equipamentos de visão noturna utilizados pela plataforma, destacando sua importância para o cumprimento das missões da Brigada Blindada e, ainda, a importância do referido tópico em discussões no âmbito das tropas blindadas.
 
1 INTRODUÇÃO

O Sistema de Planejamento Estratégico do Exército Brasileiro (SIPLEX), através da análise das diversas possibilidades de emprego da Força Terrestre, definiu suas Grandes Unidades (GU) por denominações específicas relacionadas às suas principais missões e formas de emprego.

Neste contexto, a Brigada Blindada passou a ser denominada como a “superioridade decisiva”, devendo possuir a vocação necessária para a decisão do combate.

A Viatura Blindada de Combate/Carro de Combate (VBC/CC) Leopard 1 A5 BR, plataforma de combate sobre lagarta de emprego da função de combate manobra, mais recentemente adquirida pelo Exército Brasileiro, possui como uma de suas características a avançada tecnologia de seus equipamentos.

A utilização desta avançada tecnologia, aliada a elevada potência de fogo do armamento principal da viatura, podem vir a conferir a Brigada Blindada maiores possibilidades de emprego. Baseado nesta premissa, as VBC/CC Leopard 1 A5 BR foram alocadas, em sua totalidade, nas Brigadas Blindadas.

Desta forma, podemos inferir que a tecnologia embarcada da VBC/CC Leopard 1 A5 BR está intimamente relacionada à “superioridade decisiva” atribuída como competência da Brigada Blindada.

Dentre as várias tecnologias encontradas nesta plataforma destacam-se seus modernos equipamentos de visão noturna (EVN). A VBC possui dois tipos de equipamentos de visão noturna, o PERI D53 ZUB de emprego do motorista, e o dispositivo de imagem termal (DIT) de emprego do atirador e comandante de carro.
 
2 EQUIPAMENTOS DE VISÃO NOTURNA (EVN)

Apesar da importância dos equipamentos de visão noturna, verifica-se uma grande dificuldade em encontrar documentações oficiais ou de procedência confiável que aborde o assunto com a ênfase necessária para seu emprego no meio militar. O referencial teórico disponível classifica os equipamentos de visão noturna em dois grandes grupos: sistemas ativos e passivos.

Os sistemas ativos se caracterizam pela emissão de um feixe infravermelho para a iluminação dos alvos, sendo o processo de captação da imagem realizado por uma câmera especial que transforma a imagem iluminada pelo feixe em uma imagem visível para a visão humana. Estes sistemas, por emitirem um feixe infravermelho, permitem sua identificação pela tropa inimiga.
Os EVN passivos se dividem dois tipos: intensificador de imagem e visão térmica.

O intensificador de imagem capta a luz residual do ambiente (estrelas, lua e etc), utilizando para intensificar a formação da imagem, fornecendo, assim, uma imagem mais detalhada.

O EVN, que utiliza como princípio de funcionamento a visão térmica, transforma a irradiação do calor proveniente de uma área ou objeto em uma imagem termal visível ao ser humano. Este processo detecta diferenças mínimas de temperatura. Salienta-se, ainda, que a irradiação de calor captada na visão térmica é invisível na faixa infravermelha.

Os sistemas passivos não utilizam nenhum tipo de emissão, não podendo, assim, ser identificados pelo inimigo.

Cabe salientar que existem diversas “gerações” de equipamentos de visão térmica. Estas gerações são identificadas por seu ano de fabricação, tecnologia empregada e qualidade da imagem produzida. Em virtude da grande divergência de padronização nas fontes de consulta disponíveis, tais gerações não serão abordadas.

Ressalta-se, ainda, que existem outros tipos de equipamentos de visão noturna, porém, estes se apresentam como variações ou combinações dos sistemas mencionados acima.

2.1 O PERI D53 ZUB

O PERI D53 ZUB de uso do motorista, pode ser empregado como equipamento de visão noturna ativo ou passivo. Este equipamento é comumente denominado de periscópio infravermelho (IV) do motorista.

O sistema ativo é utilizado através da combinação de emprego do periscópio IV do motorista com a emissão de um feixe infravermelho emitido pela armadura auxiliar. A imagem iluminada pelo feixe da armadura auxiliar é captada pelo periscópio IV do motorista. Este sistema é utilizado em caso de escuridão total, podendo ser detectado pelo inimigo.

O sistema passivo é utilizado empregando apenas o periscópio IV do motorista como intensificador de luz. Este sistema capta a luz do meio produzindo uma imagem mais nítida.
 


Fig 01 – PERI D53 ZUB

 
2.2 Dispositivo de Imagem Termal (DIT)

O dispositivo de imagem termal (DIT) empregado pelo comandante de carro e atirador é de uso passivo. Este sistema utiliza uma unidade eletrônica para o fornecimento de energia, permitindo ao dispositivo de imagem termal captar diferenças mínimas de temperatura.

É importante salientar que o dispositivo de imagem termal da VBC/CC Leopard 1 A5 BR é integrado ao sistema de controle de tiro EMES 18. Desta forma, o computador de tiro da VBC permanece realizando o cálculo balístico (correção das variáveis balísticas), mesmo durante a utilização do canal termal. Com isso, o dispositivo possibilita realizar tanto a busca e a detecção de alvos (campo de caçar), como o engajamento dos mesmos (campo de matar), com elevada expectativa de impacto no primeiro disparo até a distância de 1800 metros no período noturno.

                 
Fig 02 – Campo de caçar e campo de matar (respectivamente)
 
Desta forma, o dispositivo de imagem termal integrado ao sistema de controle de tiro EMES 18 confere a VBC/CC Leopard 1 A5 BR a possibilidade de realizar monitoramentos com alta capacidade de busca e detecção de alvos e engajamentos com elevada expectativa de impacto, conferindo, à Brigada Blindada a capacidade de atuar decisivamente durante o combate noturno.


Fig 03 – Dispositivo de Imagem Termal e locais de instalação do periscópio Infravermelho (Posto do motorista e auxiliar do atirador)

2.3 Possibilidades e limitações

Salienta-se que o PERI D53 ZUB possui algumas limitações. Estas limitações decorrem do fato da imagem produzida pelo periscópio IV, em ambas as formas de emprego, não ser suficientemente nítida para que a condução da viatura seja realizada pelo motorista com segurança. Neste contexto, existe a necessidade (limitação) do comandante da viatura permanecer observando o terreno e auxiliando o motorista na condução da VBC. Ressalta-se, ainda, que, para auxiliar o motorista, o comandante da VBC, deve permanecer com sua escotilha aberta ou parcialmente aberta para observar o terreno.

O feixe IV emitido pela armadura auxiliar tem um alcance bastante reduzido, prejudicando sobremaneira a mobilidade da VBC no período noturno. Como forma de minimizar esta limitação, os Regimento de Carros de Combate podem utilizar como fonte infravermelha as lentes IV, empregadas na VBC/CC Leopard 1 A1. Estas lentes IV possuem um alcance maior que o feixe IV emitido pela armadura auxiliar, conferindo, assim, maior nitidez e alcance, melhorando as condições de trafegabilidade da VBC ao longo do período noturno.

Apesar de suas limitações, o emprego do PERI D53 ZUB deve ser constantemente explorado pelas guarnições blindadas, visando aumentar seu adestramento na condução da VBC/CC Leopard 1 A5 BR em condições de luminosidade restrita ou nula.

Ressalta-se, ainda, que o PERI D53 ZUB pode ser empregado também na busca e detecção de feixe infravermelho emitido por equipamentos de visão noturna ativos do inimigo. Visando explorar ao máximo esta capacidade, o periscópio IV pode ser utilizado também no posto do auxiliar do atirador ampliando ainda mais a capacidade de monitoramento noturno da VBC.

O dispositivo de imagem termal, assim como o PERI D53 ZUB, também possui algumas limitações de emprego. O dispositivo de imagem termal (DIT) integrado ao sistema de controle de tiro (SCT) permite que o atirador e o comandante do carro empreguem o canal termal concomitantemente, obtendo, assim, a visualização do mesmo campo de visão. Porém, a utilização do DIT não permite que a observação ocorra de forma independente, possibilitando que setores de observação diferentes sejam monitorados ao mesmo tempo, característica esta que aumentaria consideravelmente a capacidade de detecção de alvos da viatura. Tal fato ocorre, pois o comandante do carro não possui uma luneta de visão noturna própria para seu emprego, destinada a realizar a busca de alvos noturnos independentemente do atirador. O comandante do carro utiliza para visualização noturna um extensor do periscópio do atirador.

O emprego desta luneta ampliaria sobremaneira a capacidade de busca e detecção de alvos no período noturno, uma vez que permitiria a VBC realizar a divisão de faixas do terreno para o monitoramento noturno entre o comandante e o atirador.

Como exemplo podemos mencionar o periscópio de busca panorâmica PERI R-17 A2 utilizado pelo comandante da VBC/CC Leopard 2 A5 e 2 A6. Tal periscópio possui um dispositivo de imagem termal e uma estabilização independente, conferindo a este a possibilidade de realizar a busca e detecção de alvos durante o período noturno, mesmo com a VBC em movimento.
 


Fig 04 – PERI R-17 A2 (Periscópio do comandante da VBC/CC Leopard 2 A6)
 
Uma considerável limitação da VBC/CC Leopard 1 A5 BR, considerando o emprego ideal do carro de combate durante o combate noturno, é a ausência de uma unidade auxiliar de energia (auxiliary power unit – APU). Este recurso, de suma importância para o emprego de veículos blindados em operações noturnas, vem sendo constantemente utilizado em carros de combate principais.

O APU consiste de um gerador energia que proporciona a corrente elétrica necessária para o funcionamento dos principais equipamentos elétricos da VBC sem a necessidade de se permanecer com o motor da viatura em funcionamento, possibilitando, assim, uma maior permanência em combate.

Fig 05 – Unidade de energia auxiliar

 
Este equipamento possibilitaria a VBC/CC Leopard 1 A5 BR permanecer realizando a busca e detecção de alvos durante o período noturno utilizando-se do sistema elétrico-hidráulico de giro da torre, sem a necessidade de permanecer com o motor em funcionamento. Salienta-se que a permanência do motor em funcionamento, além de consumir grande quantidade de combustível, produz um ruído acentuado, prejudicando consideravelmente a disciplina de luzes e ruídos necessária ao combate noturno. Ressalta-se, também, que o funcionamento do motor da VBC aumenta significativamente a assinatura térmica da viatura, ocasionando, assim, uma maior exposição da tropa blindada.

2.4 Tendências atuais

Em virtude da constante evolução tecnológica, diversos exércitos tem buscado realizar adaptações em suas viaturas blindadas de combate principal de forma a agregar poder de combate noturno. Neste contexto, os periscópios infravermelhos de uso dos motoristas estão sendo substituídos por câmeras térmicas, assim como, os dispositivos de imagem termal permanecem em constantemente atualização sendo substituídos por dispositivos de gerações mais modernas.

As câmeras térmicas são dotadas, normalmente, de uma visão termal que aumenta a capacidade de condução da VBC em condições de baixa visibilidade, colaborando também para o aumento da consciência situacional do motorista. Existem algumas câmeras que combinam dois tipos de equipamentos de visão noturna por meio da sobreposição de imagens. Nestes dispositivos as imagens obtidas por câmeras térmicas são sobrepostas às imagens obtidas por equipamentos infravermelho, proporcionando uma maior nitidez a imagem.
 

 

Fig 06 – Câmera térmica de uso do motorista

 
O Exército Americano através do Programa de Aprimoramento do Sistema (SEP) realizou diversas atualizações na VBC/CC ABRAMS, dentre as quais, as possibilidades de emprego da VBC no combate noturno tiveram especial atenção.

O programa visou, entre outros aspectos, ampliar a capacidade de busca e detecção de alvos durante o período noturno, substituindo o ultrapassado equipamento de visão noturna por uma versão mais moderna e instalando uma nova unidade de energia auxiliar, ampliando as possibilidades de combate noturno da VBC. O novo EVN é integrado com o sistema de controle de tiro da viatura, permitindo ao comandante do carro uma visualização noturna independente da visão do atirador.
 
3 CONCLUSÃO

Analisando as características técnicas da VBC/CC Leopard 1 A5 BR, podemos inferir, que seus equipamentos de visão noturna, em especial seu dispositivo de imagem termal, conferem à Brigada Blindada as possibilidades necessárias para obter a “superioridade decisiva” durante o combate noturno.

Com isso, podemos concluir que, atualmente, a Brigada Blindada possui um material de emprego militar, pertencente à função de combate manobra e de dotação dos Regimentos de Carros de Combate, condizente com as suas reais necessidades, permitindo a Força Terrestre atingir uma real dissuasão no cenário de emprego da América do Sul.

Por fim, salienta-se, ainda, que em virtude da constante evolução tecnológica do material de emprego militar, é de fundamental importância que a tropa blindada permaneça em atualização permanente, visando alcançar soluções práticas e viáveis para seu correto emprego durante o combate noturno.

 
 

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