França está pronta para agir na Síria, mesmo sem Grã-Bretanha

Daniela Fernandes

A França está pronta para uma intervenção militar na Síria mesmo sem a participação da Grã-Bretanha, declarou o presidente francês em uma entrevista ao jornal Le Monde publicada nesta sexta-feira.

"Todas as opções estão sobre a mesa. A França quer uma ação proporcional e dura contra o regime de Damasco", afirmou Hollande.
 

Na quinta-feira, os deputados britânicos rejeitaram a realização de uma ofensiva militar na Síria. Na França, surgiram discussões sobre a atitude que o governo adotaria após a recusa britânica.

"Não sou favorável a uma intervenção internacional que visaria liberar a Síria ou derrubar um ditador, mas estimo que um regime que comete o irreparável contra sua população deve ser interrompido", afirma o líder francês ao Le Monde.

"O massacre químico de Damasco (em 21 de agosto) não pode ficar impune. Isso seria correr o risco de uma escalada que banalizaria o uso dessas armas e ameaçaria outros países", ressalta Hollande.

Ele afirma ainda que terá nesta sexta-feira uma "discussão aprofundada" sobre a questão síria com o presidente americano, Barack Obama.

'Comprovado'

Segundo Hollande, a utilização de armas químicas na Síria "é um fato comprovado". A questão agora, para a França, é descobrir os autores desse ato e o governo francês afirma dispor de "indícios" da participação do regime sírio no ataque com gás sarin nos arredores de Damasco em agosto.

Hollande declara ao Le Monde que uma intervenção militar na Síria poderá ocorrer antes de quarta-feira, data em que o parlamento francês se reúne em sessão extraordinária para discutir a situação na Síria.

O presidente francês exclui, no entanto, uma intervenção militar antes da saída dos inspetores da ONU da Síria, que deve ocorrer no sábado.

Para Hollande, se o Conselho de Segurança da ONU não adotar uma resolução autorizando a ofensiva, uma coalizão de países será formada mesmo assim para uma intervenção. "Ela deverá ser a mais ampla possível e terá o apoio da Liga Árabe e dos europeus", segundo ele.

Parlamentares divididos

A classe política francesa, no entanto, está dividida em relação à ação militar da França na Síria.

Os opositores à guerra afirmam que há falta de provas de que o líder sírio, Bashar al-Assad, tenha utilizado armas químicas. Eles também preferem privilegiar uma "solução política" para resolver a situação.

Algumas personalidades do partido UMP, da oposição, como o ex-ministro das Relações Exteriores Alain Juppé e o secretário-geral do partido, François Copé, aprovam a intervenção militar francesa na Síria, mas solicitam uma ação pontual e limitada para evitar riscos de que a violência se agrave na região.

A população francesa também está dividida quanto a uma intervenção militar na Síria. Uma pesquisa do instituto CSA, realizada em 27 e 28 de agosto, revela que 45% dos franceses se dizem favoráveis a uma intervenção militar das Nações Unidas no país, enquanto 40% são contrários.

Segundo outra pesquisa, do instituto IFOP para o jornal Le Figaro, 55% dos franceses são favoráveis à intervenção da ONU na Síria e 45% se opõem.

Mas ao serem questionados especificamente sobre uma intervenção militar da França na Síria, o número de pessoas contra é maior: 59%, segundo a mesma pesquisa do instituto IFOP.

"É a resposta (militar) e não a inércia que irá impor uma solução política", afirma Hollande, ao justificar a necessidade de uma intervenção na Síria.

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