Embraer afirma que eventual acordo com Boeing respeitará ´interesses de segurança nacional´

Fabiana Holtz

A Embraer afirma que uma eventual combinação de negócios com a Boeing, se e quando concretizada, deve preservar, antes de mais nada, "os interesses estratégicos da segurança nacional e respeitar incondicionalmente as restrições decorrentes da ação de classe especial (golden share) constantes do estatuto social da empresa, de titularidade do governo brasileiro".

A declaração foi feita em resposta a uma consulta da B3 sobre notícia veiculada pelo Estadão/Broadcast em 5 de janeiro, informando que a Boeing e Embraer estariam discutindo maneiras de driblar a resistência do governo brasileiro ao negócio e que a empresa norte-americana estaria disposta a pagar US$ 28 por ADR, conforme fontes afirmaram à agência Dow Jones.

Segundo a fabricante de aviões brasileira, não há qualquer intenção de "driblar" alegada resistência a qualquer transação com a Boeing. No comunicado, a empresa também ressalta que sua administração tomou nota das manifestações públicas do governo brasileiro e seguirá em conformidade com elas em quaisquer futuros entendimentos.

Embraer em números

Apesar da queda de ontem, papel da companhia acumula alta de 25% desde o anúncio da operação com a Boeing.

Em relação ao valor por ADR mencionado na notícia, a Embraer esclarece que não possui neste momento elementos para manifestar-se sobre esse tema, uma vez que "nesta data não há sequer definição sobre a estrutura de uma potencial combinação de negócios". Dado esse cenário, a empresa diz que não lhe cabe especular acerca dos critérios de avaliação adotados pela Boeing.

‘País deveria manter o controle da Embraer’, diz economista

Entrevista com Ha-Joon Chang¹

O economista coreano Ha-Joon Chang, tornou-se famoso globalmente por seu livro Chutando a Escada, em que defende que países ricos já adotaram medidas protecionistas e agora tentam impedir os emergentes de fazerem o mesmo.

Professor da Universidade de Cambridge, Chang diz que o Brasil perderá capacidade tecnológica se a Embraer for vendida para a Boeing e vê falhas no modelo de protecionismo que já foi adotado no País por não ter implementado garantias de aumento de produtividade.

A seguir trechos da entrevista concedida ao Estado em São Paulo, onde ele está para participar de palestras na escola de economia da FGV e na PUC.

Brasil poderá ir na direção errada, afirma economista o coreano Ha-Joon Chang Foto: Amanda Perobelli/Estadão

A ex-presidente Dilma Rousseff adotou medidas protecionistas para algumas indústrias, como o IPI (Imposto sobre Produto Industrializado) no setor automotivo. O que deu errado?

Várias coisas precisam ser feitas para a proteção funcionar. Só proteger não é suficiente. É como mandar uma criança para a escola: se ela não vai à escola e começa a trabalhar aos 6 anos, não se tornará uma pessoa produtiva como um engenheiro. Mas mandá-la à escola não será suficiente, tem de se certificar de que ela estuda. Um dos problemas daqui, não falando apenas do período Dilma, foi não adotar medidas para garantir que a proteção estava aumentando a produtividade. Na Coreia, se as indústrias protegidas não melhoravam a performance, a proteção era retirada.

Outro problema no Brasil são as políticas macroeconômicas, como de juros altos e câmbio valorizado. Quando se tem uma taxa de juros de 10%, quem vai pegar crédito para expandir seu negócio? No Brasil, a política econômica não ajudou os investimentos e então o BNDES tinha de fazer empréstimos especiais. Em um ambiente favorável, um banco de desenvolvimento precisa financiar apenas alguns setores. No Brasil, virou a fonte de financiamento geral.

Agora temos um governo mais liberal: o BNDES restringiu os empréstimos e uma reforma trabalhista foi feita para aumentar a produtividade.

Basicamente, governos liberais enfraquecem os direitos dos trabalhadores para reduzir os custos trabalhistas. Na Alemanha, trabalhadores recebem US$ 40 por hora porque a tecnologia justifica esse salário. No curto prazo, relaxar a regulamentação trabalhista pode ter impacto positivo para as corporações. No longo prazo, você não vai conseguir competir com empresas da Alemanha. O que determina o sucesso é a tecnologia e a produtividade, não o custo com salário.

Os ex-presidentes Dilma e Lula tentaram criar empresas ‘campeãs nacionais’ com financiamento do BNDES, em um modelo similar ao dos ‘chaebols’ coreanos (companhias de controle familiar como Samsung). Aqui, essa política não teve muito sucesso no desenvolvimento do País…

É preciso muitas coisas para que o modelo dê certo: as políticas econômicas têm de ser corretas, tem de dar suporte à infraestrutura, à pesquisa, à educação e também proteger essa companhia. Também é preciso ter certeza de que ela não abusa da proteção, com punições, por exemplo, se ela não atingir a meta. Levam-se décadas para que essas empresas cresçam.

O ponto criticado aqui é que o governo escolheu apenas algumas companhias. Elas cresceram, mas com muita corrupção.

Não sei os detalhes disso. Corrupção é sempre um perigo. Por outro lado, se você não direciona essa política a um pequeno número de empresas, é improvável que tenha campeãs. É um conflito de escolhas. Se pode ter uma política mais geral, o que não deve criar muita corrupção, mas acaba espalhando demais os recursos. Para ter sucesso, é preciso concentrar recursos, mas aumenta o perigo de corrupção.

O sr. afirma que é importante para um país ter empresas com alto nível de tecnologia. O Brasil tem hoje a Embraer, que está negociando um acordo com a Boeing. Como o sr. vê isso?

Acho que se deveria tentar manter (o controle da empresa). A Boeing vai tornar a Embraer uma segunda marca, para coisas simples, levar as tecnologias importantes (da Embraer) para os Estados Unidos.

O que o País pode perder com esse negócio?

A habilidade de gerar sua própria tecnologia. Pessoas dizem que empresas nacionais não são mais importantes. Não é verdade. Quando uma empresa alemã compra uma americana, os alemães ficam com a gerência e passam a fazer os trabalhos de desenvolvimento mais importantes na Alemanha. É por isso que compram, para controlar. Não digo que nunca se deve vender as companhias líderes para estrangeiras, algumas vezes é necessário, mas é preciso ter cuidado. A Embraer é a única companhia que compete com Boeing e Airbus, apesar de ser menor. Se for vendida, é muito importante garantir que o Brasil mantenha a capacidade tecnológica.

O Mercosul e a União Europeia estão negociando um acordo de livre comércio. O Brasil pode ganhar com isso?

Se o Brasil assinar um acordo assim com a Europa, vai aumentar a dependência do País de commodities. Provavelmente, no curto prazo, poderá se beneficiar exportando mais soja. No longo prazo, você coloca o País na direção errada.

 

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