OPERAÇÕES ÁGATA – A Gendarmerização em Marcha

 

                                                                                 
Paulo Ricardo da Rocha Paiva
                                                                          Coronel de Infantaria e Estado-Maior

 

Todos se lembram, 1989, “Consenso de Washington”, o conjunto de regras neoliberais de grande abrangência que motivou os EUA a idealizarem, é de pasmar, uma novel forma de emprego das forças armadas sul-americanas na repressão direta ao narcotráfico, considerado por “Tio Sam” como uma das novas ameaças à tão invocada “comunidade internacional”. O certo é que desde 2009/2010, várias operações de nome “ÁGATA” foram desencadeadas, todas com grande alarde pelo governo, preocupadíssimo em emprestar um caráter militar para tarefas que, em verdade, constituíram, sim, tão somente, grandes batidas policiais.

Nada contra o emprego das Instituições Militares do País neste mistér policialesco, na medida em que, governo e nação, sabem muito bem em quem podem confiar e que missão dada, para o soldado brasileiro, desde que os meios sejam compatíveis, é missão cumprida. De qualquer maneira, o cidadão deve ponderar conscientemente as impropriedades deste tipo de emprego dos profissionais das armas: as ações (patrulhamento nas calhas dos rios e estradas, bloqueios fluviais e rodoviários e revistas de embarcações e veículos) são vivenciadas numa situação em que a finalidade geral é evitar a ocorrência de delitos transfronteiriços (tráfico de armas, de drogas, de pessoas e crimes ambientais). O que tem isso a ver com: o adestramento da tropa na estratégia de resistência, a preparação para a defesa da Pátria? Os grandes predadores militares, sempre de olho nas amazônias verde e azul, por um acaso, integram quadrilhas do crime organizado internacional?

Foi criada uma Força Nacional de Segurança (FNS) para que?  Que estrutura afinal é esta? Tem-se notícia de que existem dois batalhões na corporação, um em Goiás e outro no Rio de Janeiro. Na realidade o que isto representa em termos de aumento de eficiência/eficácia na segurança pública? Em verdade, seus efetivos, se não lhe forem dados os meios para cumprimento a contento de sua missão, que se entende correspondente à da antiga Guarda Nacional Imperial, a presença/existência deles seria, como se diz na gíria, apenas para inglês ver. O governo se engana pensando que este reforço pífio, às PM estaduais, vai dirimir os impasses na segurança pública. O que são duas unidades valor batalhão para o reforço da Força Pública de São Paulo, da PM/RJ ou da Brigada Militar/RS? O pior cego é aquele que não quer ver: seria apenas como colocar mais lenha no fogo, sem nenhum resultado prático.

Operações Ágata! Em verdade, a FNS, sim, deveria encabeçá-las, todas, por estranhíssima coincidência, com seus objetivos engrazados às diretrizes que serviram de base à estrutura do plano de combate ao tráfico internacional de drogas visualizado pelos EUA, tais como:emprego das forças armadas dos países de origem ou atravessados pelas drogas destinadas à Europa e aos EUA (Colômbia, Equador, Peru e Bolívia) e também dos demais da região, incluindo Venezuela e Brasil (de maior faixa de fronteira e com maior extensão da floresta tropical); desejo do envolvimento militar na repressão ao plantio/produção/refino, por entender que o problema extrapolou o nível meramente policial, constituindo assunto de Estado e exigindo a participação direta de suas forças nacionais. São uns pilantras! 

Ah! Mas custa caro estruturar uma tropa federal capaz de liberar as Forças Armadas para o adestramento específico em sua missão constitucional! Ministro Celso Amorim, se a 6ª potência econômica não é capaz de financiar a segurança pública, que dirá sua defesa! Aliás, com certeza, oficiais-generais não gostam de dar uma de “Pancho Villa” das fronteiras como seus correspondentes mexicanos. 

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