André Luís Woloszyn
Analista de Assuntos Estratégicos
Julian Assange, um membro da cultura cypherpunk e editor do site Wikileaks, é um dos mais ferrenhos defensores da liberdade e privacidade na web estando entre os primeiros a alertar sobre os perigos da ciberespionagem praticada por governos contra seus cidadãos e o dos demais países da comunidade internacional. Chegou a afirmar que a sociedade online possuía uma tendência de ser dividida entre “interceptores e interceptados”, o que considera uma nova forma de totalitarismo. Em 2010, com as revelações de Bradley Manning, entregando cópias de milhares de documentos secretos da inteligência militar e diplomática norte americana ao Wikileaks, as ideias de Assange a este respeito, passaram a ser conhecidas internacionalmente, mas ainda com certo ceticismo, por parte da opinião pública mundial que o via como um teórico da conspiração.
Ele criou muita polêmica ao alertar que as empresas que desenvolvem sofwares possuíam vínculos estreitos com a comunidade de inteligência dos EUA uma vez que seus engenheiros e matemáticos eram, em sua maioria, oriundos da Agência de Segurança Nacional (NSA) e que, “estes dispositivos são deliberadamente falhos com um propósito específico, o de permitir o acesso a segredos e informações confidenciais de qualquer natureza”. E o fato de que, dez das doze empresas provedoras da internet existentes no mundo serem norte americanas, aumentava consideravelmente a possibilidade de acesso não permitido a dados confidenciais de governos, empresas privadas ou mesmo pessoais em momento oportuno.
Dois anos após os episódios que culminaram com o maior vazamento de documentos sigilosos da história da inteligência estadunidense, surge um terceiro personagem, que viria ratificar, de forma inconteste, o posicionamento inicial de Assange. Edward Snowden, que assim como Manning, foi um segundo “homem bomba” por suas revelações bombásticas publicadas no jornal inglês The Guardian, sobre programas ultra-secretos desenvolvidos especificamente para permitir o acesso a informações sigilosas e a existência de uma rede de espionagem global liderada pela NSA que violava e-mails e telefonemas deliberadamente, a partir dos atentados terroristas de 11-S, com diferentes motivações além do discurso diversionista de proteção a segurança nacional. A prova material se revelou com a espionagem a países membros da ONU, por ocasião da votação de sansões contra o Irã, por conta de seu programa nuclear, onde a vitória na aprovação destas sansões já era conhecida antes mesmo de ser votada.
A partir de Snowden, outros fatores, aparentemente inocentes, passaram a fazer sentido no quebra-cabeça da espionagem digital. O principal, talvez seja a existência do megacomplexo da NSA em Utah, com capacidade para armazenar a colossal cifra de cinco trilhões de gigabytes ou o equivalente a 250 bilhões de DVDs.
Embora até o momento, a espionagem possa estar direcionada para fins econômicos, de segurança e defesa e outras questões estratégicas de interesse dos EUA e de outras nações, surge uma grande e preocupante incógnita em todo este cenário. Estaríamos diante de uma nova forma de dominação digital? O ciberespaço seria o substituto das armas nucleares em um novo conflito psicológico assim como ocorreu na Guerra Fria?