INTERNACIONAL PROGRESSISTA – “Solidariedade significa desarmar o sistema (policial) no mundo inteiro”

 

Internacional Progressista

"Solidariedade significa desarmar

o sistema no mundo inteiro"

05 Junho 2020

Progressive International (@ProgIntl)

 

 

Um novo movimento de solidariedade está surgindo. De Los Angeles a São Paulo, de Minneapolis a Londres, Black Lives Matter (Vidas Negras Importam) é um grito e uma reivindicação em todo o mundo.

A mensagem desse movimento é muito simples: parem de matar as pessoas negras – seja em suas casas, nas ruas ou atravessando os mares em busca de refúgio. Mas em sua simplicidade, contém a semente de uma transformação radical em nosso sistema global, a da revolta contra uma máquina de despossessão racista para abrir espaço à libertação coletiva e comunitária em todos os lugares.

A última década testemunhou uma virada brusca em duas direções aterrorizantes: autoritarismo estatal e recrudescimento da repressão violenta. Uma nova corja de autoritários ignorou a cooperação internacional em um retorno à ideia de Estado-nação e seus antigos mitos de sangue e solo. Um novo conjunto de tecnologias de vigilância nos deixou ainda mais rendidos, endurecendo e militarizando o controle do Estado sobre nossas comunidades. O início da pandemia de Covid-19 nos forçou ainda mais ao isolamento fechado, introduzindo — em alguns casos — a ameaça de um estado permanente de exceção e da lei marcial a ele ligada.

Movimentos de protesto ao redor do mundo estão nascendo e se ampliando. Nas ruas de Santiago, jovens chilenos se manifestaram contra as condições de pobreza, precariedade e brutalidade policial generalizadas. Por toda a Índia, milhões de ativistas enfrentaram o racismo e a violência anti-muçulmana do governo Modi. No Líbano, os manifestantes desafiaram o lockdown para exigir seus direitos básicos à alimentação, à água, à saúde e à educação.

É nesse contexto global que os protestos irromperam por todo o território dos Estados Unidos. E, no entanto, há algo de excepcional neles — expõem uma profunda fissura na doutrina do "excepcionalismo americano". Não podemos ignorar a hipocrisia particular da hegemonia estadunidense, que se gaba ao mundo de suas "missões cumpridas" e liberdades concedidas enquanto oprime suas populações negras e nativas em suas próprias casas. E não podemos ignorar a abertura que esses protestos criaram para rompermos com esse poder hegemônico e avançarmos em direção a um mundo descolonizado e multipolar.

Uma abertura é uma abertura — não uma garantia. As cenas que emergiram desses protestos internacionais são as de um sistema em ponto de ruptura. Mas não há garantias a respeito da direção a que essa ruptura levará. Seria um grave erro nosso subestimar as forças reacionárias e sua capacidade de aproveitar a oportunidade atual para fazer avançar sua visão repressiva de "LEI & ORDEM!”, tal como Trump tweetou sucintamente.

Nosso desafio, agora como sempre, é organizar a luta: transformar essas expressões espontâneas de solidariedade em um movimento internacional duradouro para combater as instituições da violência estatal racista, bem como investigar as violações dos direitos humanos por parte dos departamentos policiais dos EUA, seu sistema prisional e seus militares.

Foi para isso que fundamos a Internacional Progressista: para fazer da solidariedade mais que um slogan. Marchas em cidades como Auckland e Amsterdam mostraram ao governo dos EUA que o mundo está assistindo. Mas testemunhar não é suficiente. Nossa tarefa é demonstrar as formas pelas quais nossas solidariedades podem superar fronteiras para dar apoio significativo às pessoas que travam batalhas desiguais em milhares de lugares em todo o mundo.

Isso significa aprender com as lutas de cada população contra a violência estatal, como no caso dos ativistas libaneses que compilaram um kit de ferramentas para manifestantes em todos os EUA. Isso significa fornecer recursos, sempre que possível, para apoiar as vítimas da violência policial e suas famílias. E isso significa identificar nossos respectivos papéis neste sistema global — onde quer que vivamos — e fazer justiça em nossas próprias comunidades.

Nem todas as solidariedades são iguais. Por muito tempo, expressões de repúdio ao que acontece "lá longe" funcionaram como cortina para ignorar, dispensar ou até minimizar a violência cotidiana que acontece localmente. Os europeus que marcham para denunciar a polícia de Minneapolis podem exigir que seus próprios governos cortem o financiamento da Frontex, a autoridade fronteiriça da UE responsável por push backs e deportações ilegais ao longo de todo o Mediterrâneo.

O mesmo se aplica na direção oposta. A expansão do império norte-americano através do financiamento ilimitado de seu complexo militar-industrial ricocheteou para a terra natal, armando as forças policiais locais com os mesmos equipamentos que os EUA empregaram em suas intermináveis guerras no exterior. Para que os protestos nos Estados Unidos dêem origem a um novo sentimento de solidariedade entre seus cidadãos, é preciso que se estendam a todas as populações que sofreram com a agressão imperial americana e suas com a manutenção de suas ocupações — especialmente em direção àquelas populações nativas em cuja despossessão a própria nação foi fundada.

A infra-estrutura do policiamento racista já é internacional. As agências policiais americanas são treinadas pelas forças armadas israelenses. Os produtores de armas dos EUA fornecem seus produtos para polícias em todo o Brasil. Empresas americanas equipam o governo indiano com tecnologia de vigilância. E as abordagens policiais em bairros de minorias (stop-and-frisk) foram exportadas mundo afora.

A tarefa de nossa Internacional Progressista é fazer um balanço dessa infra-estrutura internacional — ouvir os ativistas e organizadores que dedicaram suas vidas a essa luta — e trabalhar com eles para desarmá-la: tijolo por tijolo, dólar por dólar, departamento de polícia por departamento de polícia.

Lista de signatários:

 

Noam Chomsky

Professor do Instituto, mais tarde tornou-se Professor emérito.

Hilda Heine

Senadora pela Aur Atoll, República das Ilhas Marshall

Ece Temelkuran

romancistas e comentaristas políticos da Turquia

Gael García Bernal

ator, México

Áurea Carolina

Deputada federal PSOL/MG

Celso Amorim

Diplomata brasileiro

Renata Ávila

Advogada internacional de direitos humanos

Srec?ko Horvat

Filósofo

Carola Rackete

Yanis Varoufakis

Membro do Parlamento Helênico

John McDonnell

 membro do Parlamento britânico

Alicia Castro

Diplomata argentina

David Adler

Coordenador Geral da Internacional Progressista.

Aruna Roy

Ativista política e social indiana que co-fundou a Mazdoor Kisan Shakti Sangathan, uma organização de base sediada na zona rural do Rajastão.

Nikhil Dey

Liderança do ativismo social indiano e co-fundadora da Mazdoor Kisan Shakti Sangathan (MKSS) – Índia

Ertugrul Kürkçü

Presidente Honorário do Partido Democrata Popular – Turquia

Nick Estes

Cidadão da Tribo Lower Brule Sioux – EUA

Paola Veja

Congressista costarriquenha – Costa Rica

Scott Ludlam

Escritor, ativista e ex-senador dos Verdes Australianos

Elizabeth Gómez Alcorta

Ministra da Mulher, do Gênero e da Diversidade da Argentina

Alvaro Garcia-Linera

Político boliviano de Cochabamba – Bolívia

Rafael Correa

ex-presidente constitucional da República do Equador

 

Nota DefesaNet

A Esquerda Internacional criou duas organizções em um ano.

Em 2019 foi criado o Grupo de Puebla para substituir o Foro de São Paulo

Ver matéria –  Grupo de Puebla: Nova estrutura substitui o Foro de São Paulo para a retomada do Poder

Em 2020 surge a Internacional Progressista ou Progressive Intenational

Ver matéria GHL – Surge o Movimento Internacional Progressista

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