Tropa anfíbia da Marinha completa 216 anos

Conheça a história dos Fuzileiros Navais, força estratégica de caráter expedicionário e de projeção do Poder Naval em terra

Por Agência Marinha de Notícias – Rio de Janeiro, RJ

“… Quem são estes vibrantes guerreiros? Estes homens valentes quem são? Da Marinha leais fuzileiros, combatentes de armas na mão…”. Essas frases fazem parte da canção “Soldados da Liberdade” e representam a coragem, a dedicação, o profissionalismo e a determinação dos combatentes anfíbios da Marinha do Brasil (MB). Os Fuzileiros Navais (FN) são a força estratégica da MB, de caráter expedicionário, que está permanentemente pronta para ser empregada em diversas missões e projetar o Poder Naval em terra. Mas o que significa isso?

O encarregado do Museu do Corpo de Fuzileiros Navais (CFN), Capitão de Corveta Fuzileiro Naval (FN) Esley Rodrigues de Jesus Teixeira, é o convidado da Agência Marinha de Notícias (AgMN) para explicar a história, algumas curiosidades, o preparo e o emprego desses militares, capazes de atuar na terra, no mar e em locais de difícil acesso, e são essenciais para a defesa de instalações navais e portuárias, arquipélagos e ilhas oceânicas nas águas jurisdicionais brasileiras e para o controle das margens das vias fluviais.

AgMN – Como surgiram os Fuzileiros Navais do Brasil? Em que momento ocorreu a necessidade de ter esta capacidade especial e por quê?

Capitão de Corveta (FN) Esley Rodrigues – Os Fuzileiros Navais (FN) surgiram com o Terço da Armada da Coroa de Portugal durante a Guerra dos Trinta Anos (1618-1648), quando Felipe III, Rei da Espanha e de Portugal, viu a necessidade de resgatar os domínios portugueses nas Novas Índias, dos quais o Brasil fazia parte, e estavam dominados pelos Holandeses em 1624.

Com a invasão napoleônica em Portugal, a Família Real embarcou rumo ao Brasil, sendo escoltada pelos FN, e aqui chegaram em 1808. Eles foram a única tropa profissional terrestre do Brasil até a criação do Exército Imperial, por Dom Pedro I, nas guerras de Independência, e tiveram um papel importante na conquista da Capital Francesa nas Américas, em 1809, hoje conhecida como Guiana Francesa. Esse batismo de fogo ficou conhecido como a Tomada de Caiena.

Essa característica anfíbia e expedicionária foi, portanto, essencial para que Portugal tivesse maior poder de barganha no Congresso de Viena em 1815. Desde então, tornou-se condição primária ao Brasil possuir essas capacidades operativas.

AgMN – O Brasil foi descoberto pelos portugueses e recebeu influência deles. Quais as diferenças entre os Fuzileiros Navais portugueses daquela época e os brasileiros?

Capitão de Corveta (FN) Esley Rodrigues – Os Fuzileiros Navais brasileiros, na verdade, eram os militares portugueses da Brigada Real da Marinha, criada em 1797, pela Rainha Dona Maria I, que permaneceram no Brasil mesmo após o retorno de Dom João VI a Portugal para conter a Revolta Constitucionalista do Porto.

Desde então, não sairiam mais daqui. Aliás, o mesmo local em que foram instalados em 1809, na Fortaleza de São José da Ilha das Cobras no Rio de Janeiro, continua sendo a sede de seu Comando-Geral.

AgMN – Os FN são muito conhecidos por enfrentar situações extremas, que exigem bastante preparação física e psicológica. Como eram os treinamentos?

Capitão de Corveta (FN) Esley Rodrigues – O treinamento físico sempre esteve presente na história do CFN, sendo adaptado de acordo com a tecnologia e conhecimento da época e com a característica de determinada guerra. Antigamente, os exercícios eram ligados ao aumento do número de passos por minuto, a fim de dar maior velocidade de progressão e impulsão do ataque, além de ordem unida silenciosa, precisão do tiro e marchas.

No início do século XX, o treinamento aplicado aos FN serviu de inspiração para a Polícia Militar de São Paulo, que implementou no seu dia a dia. A fama internacional do preparo físico dos navais brasileiros veio, na década de 1920, quando o adido militar da Alemanha relatou para o seu país sobre as técnicas aqui utilizadas pelos nossos Fuzileiros Navais.

AgMN – Os FN participaram de batalhas importantes para o Brasil. Quais delas merecem destaque?

Capitão de Corveta (FN) Esley Rodrigues – As Batalhas de Passo da Pátria, Riachuelo e Humaitá foram memoráveis. Acredito, contudo, que o mais importante foi seu batismo de fogo em Caiena, na Guiana Francesa. As implicações políticas dessa batalha foram imensas: Portugal voltou a ser visto em pé de igualdade em relação às potências europeias, obtendo uma força maior no Congresso de Viena; foi a primeira operação combinada de nossa história, contando com a participação de navios ingleses, mercenários da força terrestre brasileira e a Brigada Real da Marinha; e ajudou a reforçar a ideia de que o Brasil mereceria ter maior relevância dentro do Império Ultramarino português, o que ocorreu, em 1815, quando recebeu o título de Reino Unido a Portugal e Algarves.

Essas mudanças – no cenário regional, como único país administrativamente independente da região, e global, particularmente o europeu – foram importantes para o Movimento da Independência (1821-1822) do Brasil.

AgMN – Tem alguma curiosidade que poucas pessoas conhecem sobre os combatentes anfíbios? Conte para os leitores da Agência.

Capitão de Corveta (FN) Esley Rodrigues – Há várias curiosidades, mas vamos limitar a quatro personagens civis que marcaram nossa história:

Paula Baiana foi escrava e, após a sua alforria, começou a vender quitutes na entrada do antigo Arsenal de Marinha. Ela passou a fazer parte do nosso dia a dia no início do século XX. Ela desfilou nas comemorações do 7 de setembro. Quando morreu, recebeu honrarias e salvas de graduação de Sargento;

Violeta Telles Ribeiro, esposa do Almirante Telles Ribeiro, criou o lema “Adsumus”, que é um termo de origem latina com significado de “aqui estamos!”, “estar presente”, “estar junto” e, por extensão, significa um sentimento de permanente prontidão;

A poetisa imortal Rachel de Queiroz é considerada a madrinha dos Fuzileiros Navais, pois fazia questão de exaltar a postura desses militares em suas obras; e

Emilinha Borba, cantora e considerada a rainha do rádio no século XX, ganhou o título de “Favorita da Marinha”, por dedicar canções à Força Naval, como “Aí Vem a Marinha” e “Cisne Branco”.

AgMN – Quais os principais marcos na evolução tática do emprego dos Fuzileiros Navais brasileiros desde sua origem até os dias atuais?

Capitão de Corveta (FN) Esley Rodrigues – A evolução tática foi gradual, com pontos bem delineados e alinhados com as tarefas por eles desempenhadas, até se tornar estratégica nos anos 2000.

Em 1797, os Fuzileiros Navais eram responsáveis, categoricamente, pelo guarnecimento de armas navais e segurança das instalações de interesse da Marinha. Já durante as guerras de Independência, as abordagens e desembarques passaram a ser uma constante, como podemos observar nas campanhas da Cisplatina com o desembarque em Maldonado e, em 1864, na tomada de Paysandu.

Na Guerra da Tríplice Aliança (1864 a 1870), os FN desembarcaram com os canhões swivels (giratórios) dos navios para apoiar o estabelecimento de corredores de trânsito e interdição fluvial. Na década de 1910, o então Capitão-Tenente Protógenes, um grande entusiasta das Operações Anfíbias, impulsionou atividades neste campo.

Já no período de 1940 a 1950, os FN passaram a apresentar uma grande evolução na doutrina e ensino, legado do Almirante Sylvio de Camargo, o patrono do CFN. Em 1960, sob o comando-geral do Almirante Heitor Lopes de Souza, as Operações Dragão começaram a ser realizadas regularmente, envolvendo meios da Esquadra e planejamento com a Aviação Naval.

A partir dos anos 2000, com a aquisição de novos meios navais, maiores e com maior autonomia, foi fundamental estimular uma cultura de uma revisão doutrinária por meio dos simpósios. Também ocorreram mudanças no ambiente operacional global, como: fim da guerra fria, crescimento de operações de paz, instabilidades marítimas e publicações da Política e Estratégia Nacionais de Defesa, que contribuíram para fortalecer o papel das operações anfíbias e a capacidade expedicionária.

Dia dos Fuzileiros Navais

No dia 7 de março de 1808, chegou ao Brasil a Brigada Real da Marinha, juntamente com a Família Real portuguesa, que transmigrava a sede do reino para o Brasil. Essa unidade foi o embrião do atual Corpo de Fuzileiros Navais (CFN) da Marinha do Brasil e o 7 de março se tornou a data de aniversário da tropa anfíbia brasileira. A partir deste ano, em que se comemora o 216º aniversário do CFN, a data passa a ser conhecida como o Dia dos Fuzileiros Navais.

Saiba mais sobre o Museu do Corpo de Fuzileiros Navais

Localizado na Fortaleza de São José, na Ilha das Cobras, no Rio de Janeiro (RJ), o Museu do Corpo de Fuzileiros Navais está situado nas instalações que, desde o fim da campanha contra os franceses em Caiena (Guiana Francesa – 1809), foram ocupadas pelos componentes da Brigada Real da Marinha, origem do  atual CFN. O circuito do Museu é composto por dois túneis subterrâneos que, historicamente, foram construídos para servir de ligação segura pelos portugueses e onde estão expostos: documentos, medalhas, pratarias, material arqueológico, fotografias, equipamentos e armamentos.

Já no salão principal, podem ser observadas obras de arte, esculturas, medalhística, pratarias, maquete da ilha em 1736 e miniaturas. Também há uma galeria de uniformes, com diversos modelos utilizados no decorrer da trajetória histórica, além de um salão com 40 painéis e monitores de LCD, que retratam a participação dos FN nos eventos ligados à formação da nacionalidade e do Estado brasileiro. Na área externa do museu, o visitante terá contato com viaturas operativas, canhões, metralhadoras e motocicletas de combate.

O museu está aberto de terça a sexta-feira, das 9h às 12h e das 13h30 às 16h. As visitas podem ser marcadas pelo telefone (21) 2126-5053. A entrada é gratuita. O acesso é pela área do 1º Distrito Naval, situado na Praça Mauá, nº 65, no Centro (RJ).

Fonte: Agência Marinha de Notícias

Compartilhar:

Leia também

Inscreva-se na nossa newsletter