EUA tentam combater armas baratas e poderosas – ciberataques e minas

Thom Shanker

A nova estratégia militar do presidente Barack Obama chamou a atenção para uma ameaça cada vez mais presente: o uso de armas de baixo custo como minas e ataques cibernéticos, que não necessariamente visam derrotar os militares americanos em uma batalha, mas sim mantê-los à distância.

O presidente e sua equipe de segurança nacional preveem que os desafios de segurança da próxima década serão definidos por essa ameaça, assim como os desafios da última foram definidos pelo terrorismo e pela insurgência.

Um número crescente de países cujas Forças Armadas são menos potentes que a dos Estados Unidos estão começando a utilizar essas armas, que podem retardar, interromper e talvez até mesmo por um fim a uma estratégia ofensiva americana. Planos de guerra podem ficar atolados em meio a defesas antiaérea, minas, mísseis, interferência eletrônica e ataques realizados por meio de uma rede de computadores e destinados a tirar as vantagens das tecnologias adotadas nos Estados Unidos.

Essa é uma lição que potenciais inimigos aprenderam no momento em que os Estados Unidos perderam o apoio público nas guerras do Iraque e do Afeganistão quando veículos blindados – cada um custando milhões de dólares – foram atingidos e seus soldados mortos e mutilados por bombas de beira de estrada fabricadas com um investimento de algumas centenas de dólares.

A China e o Irã foram identificados como os países que estavam liderando a busca de "meios assimétricos" para combater a força militar americana, de acordo com o documento que apresentou a nova estratégia, que advertiu que essas medidas relativamente baratas estão se espalhando por células terroristas e guerrilhas.
 

No discurso no Pentágono, na semana passada, Obama disse que o país deve investir "na capacidade de operar em ambientes aos quais os adversários tentam nos negar o acesso".

A nova estratégia ordena especificamente que os esforços para combater a ameaça, que os militares chamam de "anti-access, area-denial" (anti acesso, entrada negada, em tradução livre) se torne um dos dez principais objetivos militares dos Estados Unidos. Isso vai ajudar a definir a maneira como as forças armadas vão competir por uma parte de um orçamento do Pentágono que está cada vez mais menor.

"Os Estados Unidos devem manter a sua capacidade de projetar seu poder em áreas em que o nosso acesso e liberdade para operar são limitados", diz o documento que detalha a estratégia.

"Adversários mais sofisticados irão utilizar das capacidades assimétricas, que devem incluir mísseis eletrônicos e guerras cibernéticas, defesas aéreas avançadas, implementação de minas e outros métodos, para complicar o nosso cálculo operacional."

Em exercícios realizados recentemente do setor naval da Guarda Revolucionária, por exemplo, o Irã praticou um exercício de ataques por uma série de barcos pequenos em alta velocidade que podem ser carregados com explosivos de alta potência. Se um barco desses conseguir passar pelas defesas, pode abrir um buraco no casco de um navio de guerra dos Estados Unidos.

"A Marinha do Irã – especialmente o setor naval da Guarda Revolucionária – tem investido em navios e armamentos que estão bem adaptados para a guerra assimétrica, em vez do tipo de conflito entre navios maiores que o Irã certamente perderia", disse Michael Singh, diretor geral do Instituto de Washington para a Política do Oriente Próximo.

Com a ajuda dos chineses e dos russos, Singh acrescentou, o Irã também terá minas mais sofisticadas, mini-submarinos e mísseis de cruzeiro anti-navios.

Nathan Freier, um membro sênior do Centro para Estudos Internacionais e Estratégicos, disse que "a capacidade do Irã para impor custos elevados – aqueles que possam precisar forçar seu caminho através do Estreito de Ormuz, e aqueles na região a quem o os iranianos veem como possíveis cúmplices em permitir o acesso estrangeiro – é muito boa".

O desafio potencial da China é ainda mais significativo, segundo os analistas. A China tem uma frota de submarinos de ataque movida a diesel, que podem operar em silêncio e de forma eficaz em águas perto da costa da China e assim ameaçar navios de guerra estrangeiros. A China também possui mísseis de curto, médio e longo alcance que poderiam colocar em risco os navios de guerra e possuem uma grande quantidade de radares e de mísseis de superfície ao longo da costa.
 

Encontrar, identificar e marcar um navio de guerra dos Estados Unidos é uma operação militar complexa. Mas o emaranhado de defesas chinesas poderia obrigar um porta-aviões americano e a sua frota aérea a operar a centenas de quilômetros longe da costa, diminuindo o número de ataques que seus aviões poderiam efetuar em um dia e assim diminuindo sua eficácia.

Talvez o mais preocupante seja o foco da China na guerra eletrônica e nos ataques a computadores em rede que podem confundir a precisão de munições americanas guiadas por satélite.

Para combater essas ameaças, a Força Aérea e a Marinha americana montaram um escritório para desenvolver táticas e armas para complementar o que eles estão chamando de batalha aérea-marinha.

Uma ideia é atacar um setor externo das defesas aéreas inimigas com caças F-35, abrindo um espaço para que um jato F-22 transportando unidades de vigilância possa entrar mais profundamente em um território contestado, onde poderia, por exemplo, servir de guia para um míssil de cruzeiro lançado pelo mar até um alvo móvel ou escondido.

O vice-almirante Bruce W. Clingan, vice-chefe de operações, planos e estratégia da Marinha, disse que os militares estão estudando cautelosamente a técnica anti-aérea de acesso negado para identificar potenciais pontos fracos na capacidade que um adversário possa ter em identificar e atacar alvos dos Estados Unidos.

"Você o impede de disparar? Você o elimina uma vez que tenha disparado? Você o impede de ter precisão uma vez que o míssil estiver no ar e então cria uma maior possibilidade para erro? " perguntou Clingan. "Você tem que pensar em todas essas questões e verificar como vai fazer tudo para impedir que os mísseis não sejam uma ameaça para você."

O General Martin E. Dempsey, o presidente do Estado-Maior Conjunto, em breve divulgará qual é o seu conceito para operar nesse ambiente. A diretiva de 65 páginas irá identificar 30 recursos dos quais as Forças Armadas precisarão para realizar missões em campos de batalha contestados.

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