DNA Naval e Inovação

DNA Naval e Inovação

Pedro Paulo Rezende

Especial para DefesaNet

Fundada em 1905, as histórias da OTO Melara, hoje Leonardo, e a da artilharia naval se confundem ao longo de quase 120 anos (Nota 1). Entre a década de 1960 e os dias de hoje, a empresa forneceu peças de todas as categorias para mais de 60 marinhas. Suas armas equipam mais de 1 mil navios de combate, de patrulheiros a contratorpedeiros. A presença da empresa é visível em todos os continentes, inclusive na Marinha do Brasil, que adotou o canhão OTO 76 mm SR para uso nas quatro fragatas leves da Classe Tamandaré, programa que entra em fase de produção no próximo ano.

O OTO 76/62 mm SR (Super Rapido) é fruto de mais de 60 anos de desenvolvimento contínuo. Seu ancestral, o 76 mm MMI, nasceu em 1958 (Nota 2). Hoje, a peça dispõe de um escudo equipado com material furtivo e tem a capacidade de disparar até 120 tiros por minuto. A empresa disponibiliza duas versões do equipamento, a SR, que emprega tecnologia tradicional, e o sistema na configuracao Strales, capaz de disparar projéteis guiados. O sistema de refrigeração permite o uso contínuo da peça, ao contrário dos concorrentes. O carrossel dispõe de 80 projéteis para uso imediato e a recarga, automática, é assistida por dois tripulantes abaixo do convés.

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A Marinha do Brasil optou pela solução tradicional. O Super Rapido Multi – Feeding derivado do OTO Compatto da 76/62 mm, apresenta, como maior novidade, a possibilidade de alternar munições rapidamente de acordo com a necessidade do combate. A gama oferecida inclui projéteis antiaéreos com espoletas programáveis (3AP Multifunction Programmable Fuse) contra alvos aéreos, de superfície e terrestres (Nota 3) com um alcance eficaz de 16 km.

Existe uma opção subcalibrada, a SAPOMER, com alcance de 20 km. O sistema de combate do navio determina o tipo da ameaça mais urgente, programa a espoleta e aciona o projétil adequado para enfrentá-la.

Dimensões e Características da torre Naval OTO 76/62 mm SR  

Torres inteligentes

O Sistema Strales da Leonardo coloca a artilharia naval de calibre médio em outro patamar e permite o uso de munição antiaérea guiada por rádio frequência. A torre abriga, além da peça de artilharia, uma antena emissora com a eletrônica associada. A DART é uma munição subcalibrada para defesa de ponto, de alta velocidade e que pode se deslocar 15° em qualquer direção sob o comando da torre. De maneira simples, é um míssil sem propelente. Ao perceber uma ameaça, o sistema seleciona a munição e faz quatro disparos. A detonação é por fuso de proximidade e o alcance máximo é de oito quilômetros.

Leonardo, hoje, é a única fabricante de torres navais novas de 127 mm, com a OTO 127/64 LightWeight (LW) Vulcano. A concorrente, a Mk 45 Mod 4 da BAE Systems, não é um produto novo em produção regular. Basicamente é uma modernização de torres retiradas pela Marinha dos Estados Unidos de navios que saíram do serviço ativo. O produto italiano, entre outras vantagens, dispõe de uma maior cadência de fogo, com 32 tiros por minuto contra 20 do concorrente. A torre dispõe de 56 tiros em quatro carrosséis para uso imediato atè 400 tiros armazenados que podem ser alimentados nos carrosséis automaticamente.

 

Munição Dart

Vulcano V76 BER

A munição VULCANO

Trata-se de um sistema subcalibrado guiado por GPS já disponível nos calibres 155 mm, para uso terrestre, e 127 mm, de emprego naval. Na versão naval, o alvo é acoplado na trajetória final por infravermelho, com a possibilidade de se mover 5° em cada eixo para ampliar a capacidade de acerto. O alcance chega a 90 quilômetros. LEONARDO, desenvolve uma versão da munição VULCANO para o calibre 76 mm que ampliaria o alcance efetivo para 40 quilômetros .

 

A munição naval de 127 mm da Leonardo, disponível nas versões não guiada (BER) e guiada (GLR), tem alcance de até 85 km mantendo precisão de precisão. A munição Vulcano 76mm, também disponível na versão não guiada e guiada, pode ultrapassar os 40km.

Quanto à versão terrestre de 155 mm, além da configuração guiada com RF Fuze, existe a configuração com Fuze SAL (Semi Active Laser), através da qual a munição também pode engajar efetivamente alvos designados pelo laser, estacionários ou móveis, designados por um sistema de laser, com precisão ainda melhor em relação à orientação GPS pura. A empresa também oferece uma atualização para sistemas autopropulsados que usam esse calibre por meio de um aumento no comprimento do cano para aumentar ainda mais o alcance. O projeto pode ser incorporado ao M109A5 e inclui a substituição do tubo de 39 calibres por um de 52 calibres. O alcance, com munição VULCANO, atingiria 70 quilômetros.

Capacidades

O canhão OTO 76/62 Super Rapid (SR) apresenta capacidades múltiplas, tais como: defesa aérea,  alvos de superfície e em especial antimissil. Disparos contra alvos na costa garantem uma capacidade multifunção.

A cadência de disparo pode ser selecionada, tanto tiro a tiro, como até 120 tiros/min.

O canhão OTO 76/62 SR (junto ao 76/62 Compact) é único sistema naval capaz de sustentar uma cadência de disparo, o que é um requisito esssencial em qualquer cenário envolvendo o engajamento simultâneo de vários alvos em movimento, como requerido no ambiente de ameaças assimétricas. Carregamento automático é proporcionado inclusive durante os disparos.

Características Técnicas da OTO 76/62 mm SR

NOTA 1

Em 1908, a Vickers, britânica, firmou uma sociedade com a siderúrgica Acciaierie di Terni, fundada pelo engenheiro naval Benedeto Brin, ministro da Marinha entre 1876–1898, para construir uma fábrica no distrito de Melara, em La Spezia. Também faziam parte da junta acionária os estaleiros Irmãos Orlando e Odero. Os proprietários das duas últimas indústrias, Giuseppe Orlando e Attilio Odero, também integralizaram ações do novo empreendimento. O objetivo da nova companhia era a fabricação de canhões automáticos leves contra torpedeiros, de 40 mm. Aos poucos, a empresa ganhou terreno e fabricou os canhões de 381 mm que seriam usados nos couraçados da Classe Caracciolo, projetados para serem os mais velozes e bem armados da Primeira Guerra Mundial, mas as prioridades mudaram durante o conflito e as peças foram empregadas em monitores e em trens blindados. Em 1922, a Vickers sai da joint venture e a Acciaierie di Terni passa a ser o único proprietário da sociedade até 1927. Neste ano, a Odero assume o controle acionário da Terni. Dois anos depois, o grupo adquiriu os estaleiros Orlando e a nova sociedade, responsável pela fabricação de quase todos os canhões da Real Marinha Italiana, passou a se chamar Odero-Terni-Orlando, nome abeviado para OTO.

Nota 2:

O 76 mm MMI, automático e refrigerado a água, era capaz de disparar 60 tiros por minuto, três vezes mais que seu concorrente ocidental mais próximo. A Marinha Italiana padronizou seu uso em cruzadores porta-helicópteros, contratorpedeiros, fragatas e corvetas. Para a época, era uma arma revolucionária, mas que não conquistou o mercado externo. A empresa continuou o desenvolvimento e, em 1963, apresentou o protótipo do 76/62 mm Compatto. O sistema de alimentação passou a empregar um carrossel e a proteção contra o tempo passou a usar um escudo de fibra de vidro leve. A capacidade de disparo subiu para 85 tiros por minuto. O modelo ganhou o mercado europeu e equipou praticamente todas as marinhas da Organização do Tratado do Atlântico Norte, com exceção de Bélgica, França, Portugal e Reino Unido. A versão mais moderna do Compatto, equipada com aperfeiçoamentos no carrossel e no sistema de refrigeração do canhão, atingiu o ritmo de 120 tiros por minuto.

 

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