Polo aeroespacial busca soluções em parcerias com o leste europeu


 

Júlio Ottoboni
Especial para DefesaNet


Se os países comunistas do leste europeu foram o grande fantasma da ditadura militar no Brasil, agora surgem com a redenção para o programa espacial brasileiro. Russos, ucranianos e tchecos estão cada vez mais próximos de institutos e empresas envolvidas em projetos espaciais, principalmente as sediadas no polo de São José dos Campos (SP).
 
 A aproximação teve inicio no começo dos anos 90 com o antigo Ministério da Aeronáutica adquirindo peças e partes dos mísseis intercontinentais do sucateado parque bélico soviético. Essa era uma maneira de driblar as sansões do Regime de Controle de Tecnologia de Mísseis (MTCR) para construir o Veículo Lançador de Satélites (VLS), integrante da Missão Espacial Completa Brasileira (Mecb).
 
A situação reverteu totalmente favorável aos antigos países da cortina de ferro com o acidente em agosto de 2003, quando uma comissão de ucranianos visitava a sede da Agência Espacial Brasileira (AEB) e o presidente da entidade, Luiz Bevilacqua, recebeu a noticia da ignição espontânea de um dos boosters e a morte de 21 funcionários do Centro Técnico Aeroespacial (CTA), entre técnicos e engenheiros. De imediato, os europeus passaram a colaborar com o programa espacial.
 
A consolidação deste processo veio com a criação da empresa binacional Cyclone, que auxiliará no desenvolvimento técnico do VLS e na transformação da Base de Lançamentos de Alcântara (MA) em algo moderno e rentável. Pelo menos essa é a expectativa das autoridades brasileiras, que já investiram mais de US$ 100 milhões na constituição dessa sociedade.
 
Com o Programa Nacional de Atividades Espaciais (Pnae) aberto para essas associações, a aproximação dos antigos países comunistas sob influência da União Soviética é inevitável, até mesmo pelo fato do Brasil não deter diversas das tecnologias de voo envolvidas.  Atualmente o Parque Tecnológico de São José dos Campos estuda as possibilidades de cooperação entre a República Tcheca e o Brasil no setor espacial, que foi tema de um seminário entre dirigentes do setor na semana passada.
 
Outro avanço, esse existente oficialmente há quase uma década, é com a Ucrânia e com a Rússia tanto na parte de lançadores como na de satélites de médio e grande portes. O Brasil já tem uma parceria firmada deste o governo de José Sarney com a República Popular da China, para a produção dos satélites sino-brasileiros de sensoriamento remeto (Cbers).
 
A intenção é estreitar relações empresariais e tecnológicas com esses países e conseguir o conhecimento necessário para alavancar o combalido programa espacial brasileiro. A ligação com empresas tchecas e brasileiras é visto como fundamental para identificar áreas das parcerias e projetos conjuntos. Além de potenciais acordos e troca de conhecimento na área da pesquisa espacial.
 
No mês passado, representantes da empresa ucraniana Yuzhnoye e o cônsul do país, Olexandr Markov,estiveram no polo aeroespacial de São José dos Campos e na prefeitura, administrada pelo PT. O objetivo é instalar uma representação comercial na cidade, para atuar nos segmentos aeroespacial, energia e telecomunicações. 
 
Pelo lado tcheco, a missão tecnológica que se encontra no município é formada por representantes da Aliança Espacial Tcheca, Agência para Apoio de Empreendedorismo e Investimentos da República Tcheca e uma representação do Ministério da Indústria e Comércio da República Tcheca em São Paulo. Ainda estão na comitiva membros da diplomacia da República Tcheca em Brasília e em São Paulo.
 
A Aliança Espacial Tcheca é uma associação que reúne em sua maioria empresas de pequeno e médio portes. O grupo recebe cerca de 80% do orçamento espacial do governo tcheco voltados para atuar em processos competitivos da Agência Espacial Europeia. Essa entidade atua com pesquisa e desenvolvimento em eletrônica de uso espacial, em órbitas terrestre e planetária, softwares para controle de satélites e sistemas de missão, além de software de bordo e de posicionamento orbital.
 
Apesar do programa espacial e as atividades da Ucrânia serem monitoradas de perto pelos Estados Unidos, seu governo pretende estabelecer parcerias com universidades e centros de pesquisa e oportunidades de negócios com as empresas do município e do Vale do Paraíba paulista. A Yuzhnoye participa do projeto do foguete Cyclone – 4, em parceria com a AEB e o governo ucraniano. O foguete, segundo os militares, será lançado do Centro de Lançamento de Alcântara 2, no Maranhão, no final de 2014.

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