AZEDO – Militares temem desconstrução de Lula

 


Luiz Carlos Azedo
Jornalista, colunista do Correio Braziliense


Tudo o que todos querem, nesta altura do campeonato, é uma luz no fim do túnel na crise brasileira, mas até agora não apareceu. Passada a quarta-feira de cinzas, ou seja, depois de um dos carnavais mais animados dos últimos tempos – “nunca vi tanta gente nas ruas, em 38 anos de trabalho”, disse-me um taxista carioca -, a sensação é de que tudo não passou de um megabaile da Ilha Fiscal, pois nada impede que a situação do país possa piorar.

Enquanto os brasileiros caíam na folia, as bolsas globais afundaram pelo quinto pregão seguido, em um movimento que não ocorria desde o início do ano. A Bolsa de Tóquio caiu 5,4% na terça-feira de carnaval. Londres recuou 1% e Nova York perdeu 0,08%.

A queda continuou na quarta-feira de cinzas e o Brasil sentiu o impacto. Os bancos corrigiram as previsões de recessão para 4% em 2016, com inflação de 7,6% e dólar a R$ 4,70. O que mais os assusta é a combinação de uma crise dos bancos europeus com a volta da “nova matriz econômica”, sob comando do ministro da Fazenda, Nelson Barbosa.
 

Para os que não sabem, seis dias antes da Proclamação da República, em 9 de novembro de 1889, Dom Pedro II promoveu um baile para 2 mil pessoas na pequena e charmosa ilha da baía de Guanabara, em frente ao Paço Imperial, na hoje denominada Praça XV de Novembro. A festa homenageava a oficialidade do encouraçado chileno Almirante Cochrane (ele mesmo, o comandante da recém-criada Marinha brasileira na Guerra da Independência) e, ao mesmo tempo, comemorava as bodas de prata da princesa Isabel e do Conde D’Eu.
 
A intenção do imperador era provar que a monarquia seguia viva e forte, mas a conspiração republicana estava em marcha. Em 17 de novembro, o governo provisório comandado pelo Marechal Deodoro da Fonseca obrigou a família imperial a deixar o país para o exílio em Paris, onde Dom Pedro II morreu dois anos depois. Antes que alguém tire conclusões apressadas, vamos deixar claro: não há nenhum golpe militar em marcha.
 
O alto-comando do Exército, porém, anda preocupado com a radicalização política e as consequências da desconstrução da candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência em 2018, por causa da Operação Lava-Jato. O que os militares temem é a violência política nas ruas.

Cresce a mobilização do PT e de seus aliados contra os protestos dos “coxinhas”, como são chamados os militantes da oposição organizada via redes sociais, para barrar a proposta de impeachment da presidente Dilma Rousseff e defender a candidatura de Lula em 2018.
 

Um sinal de que o PT e seus aliados, como o PCdoB, que está no comando do Ministério da Defesa, pretendem radicalizar a atuação de rua é o protesto marcado para 17 de fevereiro, pela CUT, MST, UNE e UBES, na porta do Fórum de São Paulo, onde o ex-presidente Lula deverá depor para esclarecer à Justiça qual é a sua verdadeira relação com os imóveis mais badalados do momento: o tríplex do Condomínio Solaris, no Guarujá, e o sítio Santa Bárbara, em Atibaia. O Ministério Público Paulista investiga se as propriedades pertencem de fato ao ex-presidente ou não.
 
Manifestações deste tipo não costumam dar muito certo, pois somente irritam as autoridades do Judiciário, que não costumam aceitar pressões, ainda mais abertas, como essa. Mas o PT resolveu politizar o debate sobre a suposta ocultação de patrimônio de Lula, cuja defesa argumenta que o ex-presidente e sua esposa, Mariza Letícia, desistiram da compra do apartamento de praia e apenas utilizam o sítio de Atibaia porque o imóvel foi “disponibilizado” pelos sócios de um dos filhos.

Pode ser que esse inquérito não dê em nada, além do desgaste de imagem já ocorrido, pois é preciso provar que Lula seja mesmo proprietário de um ou dos dois imóveis. Mobiliário e benfeitorias, por ora, são apenas os indícios. Com base nisso, o PT decidiu utilizar todos os meios ao alcance para ir às ruas contra o que caracteriza como um suposto cerco político ao ex-presidente para incriminá-lo na Lava-Jato.
 

A culpa
 
Quem semeia vento colhe tempestade. O juiz federal Sérgio Moro, de Curitiba, responsável pelos processos da Operação Lava-Jato, autorizou a abertura de um inquérito específico para que a PF investigue o Sítio Santa Bárbara, em Atibaia (SP). A força-tarefa suspeita que empreiteiras como OAS e Odebrecht tenham realizado obras na propriedade como compensação por contratos com o governo.
 
Lula é a luz no fim do túnel para o PT, na sucessão de Dilma, em 2018. Pode não ser para Dilma, que acabará responsabilizada por ele, publicamente, pela crise econômica e pela desarticulação da base política do governo — o que já o faz reservadamente. Mas o ex-presidente não tem como proceder da mesma maneira em relação à crise ética.

Nesse caso, Dilma é quem poderia responsabilizar Lula pelo escândalo da Petrobras, do qual tirou o corpo fora, e outros descalabros, mas isso seria um suicídio político, que não oferece garantia de que se livrará da pecha de incompetente.

Nota DefesaNet

Trata-se do segundo artigo na mesma linha em menos de uma semana.

Leia o artigo:

Raul Jungmann – Os Militares e a Crise Link

Quando o General Hamilton Mourão expôs em palestra reservada, os receios de desestruturação do Estado foi perserguido pelos Jornalistas Tulio Millmann (Zero Hora) e Mirian Leitão (Globo). Também a a máquina partidária do PCdoB, que estava assumindo o Ministério da Defesa.

O editor
 

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