O futuro da indústria aeronáutica do Brasil passa pelo ITA

Júlio Ottoboni
Especial para DefesaNet


A indústria aeroespacial brasileira se prepara para enfrentar a maior mudança de sua existência. O principal alvo é a aviação, por conta do elevado número de exigências dos acordos internacionais. O Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), em São José dos Campos, será o grande responsável por essa transformação. Serão investidos R$ 300 milhões na reestruturação da entidade e é programada uma série imensa de parcerias com a iniciativa privada e órgãos estatais para a execução desta tarefa.

A previsão dos especialistas é que os próximos 20 a 25 anos serão marcados por uma quebra de paradigmas e conceitos aeronáuticos. Uma nova ordem mundial para o setor. O reitor da principal escola de engenharia aeronáutica do hemisfério sul, o engenheiro e economista Carlos Américo Pacheco, vê esse cenário como algo mais que apenas desafiador, mas altamente transformador. 

Para se mudar a fisionomia atual e dar uma cara futura para a indústria do país há uma única saída, a inovação tecnológica. Pacheco se concentra neste binômio para promover as alterações necessárias que já começam a despontar no horizonte. Cada vez será mais rígidos os requisitos para as novas aeronaves em termos ambientais, cobradas pelos países signatários das Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) entre outros acordos internacionais que forçarão a uma revisão total no próprio conceito tecnológico do avião.

 “Temos um mega desafio no setor aeroespacial que é permanentemente estimulado, essa renovação da indústria aeronáutica passa pela remodelagem do ITA e sabemos que se trata de uma agenda pesada e difícil”, reconheceu o reitor do instituto, Carlos Pacheco.

Isso se dará por meio de uma ruptura tecnológica brusca e a consequente abertura do setor para competidores como russos, chineses, japoneses habilitados a disputar o mercado internacional de aeronaves. A porta de entrada será o segmento regional, no qual a Empresa Brasileira de Aeronáutica (EMBRAER), uma das crias do ITA, mantém uma liderança consolidada no atual cenário mundial.

“Os requisitos de emissões e ruídos mudarão o próprio conceito de aeronave, o modelo de avião existente desde a 2ª Grande Guerra desaparecerá. Terá que se melhorar em tudo. Talvez seja a maior revolução da aeronáutica desde sua criação. O próprio ITA terá que ser renovado e com uma engenharia muito integrada”, salientou Pacheco.

O ITA tem atualmente diversos acordos de parceria, a maioria deles com a EMBRAER. Mas há com a BOEING e a também norte americana Pratt & Whitney, para pesquisar e desenvolver novas turbinas usadas em jatos para obter maior rendimento e eficiência.

Para suportar a demanda, o ITA terá do Ministério da Educação (MEC) R$ 300 milhões em obras para expandir sua capacidade físicas. A ideia desta ampliação tem alguns anos e foi consolidada em dezembro de 2011 pelo Ministério da Defesa, pasta a qual o ITA está ligado via Comando da Aeronáutica. O instituto sai dos atuais 50 mil metros quadrados de área para ocupar 100 mil m², espaço suficiente para dobrar também o números de estudantes de 600 para 1,2 mil na graduação, atualmente em seis cursos, e aumentar a oferta de 1,2 mil para 1,8 mil vagas na pós graduação. Isso dentro de um prazo estimado entre 5 anos.

O ITA mostrou que o Brasil consegue produzir o que era privilégio de poucos países, o avião. Seu primeiro núcleo foi formado em 1947, com a contratação de professores estrangeiros, a maioria do Instituto de Tecnologia de Massachussets (MIT). Cerca de 20 anos depois, a escola de engenharia aeronáutica gerava a Embraer e se consolidava como um centro de excelência em engenharia no país, com reflexos em diversos setores produtivos.

O quadro de professores também está sendo ampliado, de 150 para 300 novos profissionais escolhidos dentro do novo perfil que colocará a prova a engenharia brasileira. Os docentes terão uma responsabilidade inédita, habilitar uma reforma curricular na qual se mantenha as atuais áreas como mecânica aeronáutica, aeronáutica, aeroespacial, civil aeronáutica, eletrônica e computação.

“Teremos uma segunda opção para os alunos, que é fazer um minor em outra área que não seja das especialidades de engenharia. Será uma complementação ao currículo que possibilitará com mais um tempo no ITA sair com dois diplomas, com a primeira opção e engenharia física ou engenharia de inovação. Isso possibilitará a formação de um engenheiro cientista ou um engenheiro empreendedor, voltado para criação de novas empresas”, comentou o reitor.

A agenda de inovação tecnológica que surgir deste novo processo impactará a indústria bem mais além dos setores aeroespacial e de defesa. Até mesmo as empresas ainda voltadas para o mercado doméstico sentirão o choque. Para Pacheco os processos inovadores associados a pesquisa e desenvolvimento serão as principais determinantes para a competitividade do segmento industrial do Brasil.

O referencial de qualidade para Pacheco implementar essas mudanças é um dos maiores e melhores centros de excelência em engenharia do mundo, o Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech), criado em 1891 e que administra um dos mais importantes órgãos de pesquisa em tecnologia avançada da NASA, o Laboratório de Jato Propulsão (JPL).

“O Caltech é um sonho, algo a ser atingido um dia, mas o pessoal do MIT diz que os nossos alunos são melhores que os deles, mas precisamos agora do perfil empreendedor existente em Stanford”, salientou o professor se recordando da famosa Escola de Graduação em Negócios de Stanford e da Universidade local, de onde saíram empresas como Google, Sun Microsystems, Hewlett-Packard entre outras companhias que estão espalhadas por todos os continentes. “A agenda da inovação veio para ficar”, concluiu.

Perfil

O engenheiro e professor universitário, Carlos Américo Pacheco, preparará a indústria aeronáutica brasileira para o futuro. Acostumado a desafios, desde os 17 anos de idade, quando deixou Curitiba (PR) para ingressar no curso de engenharia eletrônica do ITA, em São José dos Campos.

Escolhido como reitor do ITA no final de 2011, Pacheco traz em seu imenso currículo o doutorado em Ciência Econômica pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), entidade na qual é professor, e um PhD pela Columbia University, além de integrar diversos conselhos de tecnologia e da área de economia. Foi Secretário Executivo do Ministério de Ciencia e Tecnologia e Presidente do Conselho de Administração da FINEP.

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