GEN Ex Villas Boas – Discurso de Despedida

Comando do Exército

General de Exército Eduardo Villas Boas

Discurso de Despedida

Inclui vídeo

Brasília DF 11 Janeiro 2019

Excelentíssimo senhor presidente Bolsonaro e senhora Michelle. Festejamos suas presenças, assim como a nação brasileira festeja os sentimentos coletivos que se desencadearam a partir de sua eleição e assunção do cargo. O senhor traz a necessária renovação e a liberação das amarras ideológicas que sequestraram o livre pensar, embotaram o discernimento e induziram a um pensamento único, nefasto como assinala o jornalista americano Walter Lippman, “quando todos pensam da mesma maneira, é porque ninguém está pensando”.

2018 foi um ano rico em acontecimentos desafiadores para as instituições e até mesmo para a identidade nacional. Nele três personalidades se destacaram para que o “Rio da História” voltasse ao seu curso normal. O Brasil muito lhes deve. Refiro-me ao próprio presidente Bolsonaro, que fez com que se liberassem novas energias, um forte entusiasmo e um sentimento patriótico há muito tempo adormecido. Ao ministro Sérgio Moro, protagonista da cruzada contra a corrupção ora em curso e ao general Braga Netto, pela forma exitosa com que conduziu a Intervenção Federal no Rio de Janeiro. Todos demonstraram que nenhum problema no Brasil é insolúvel.

 

Destaco a presença do ministro Dias Toffoli, que, desde que assumiu a presidência do STF, vem fortalecendo o judiciário, conectando-o com a sociedade brasileira e seus anseios. Aqui se inscrevem também os ministros Luiz Fux, Carmen Lúcia e Alexandre de Moraes, a Procuradora Geral da República Raquel Dodge e a Advogada Geral da União, ministra Grace Mendonça, o ministro do STJ Francisco Cândido de Melo Falcão Neto, o desembargador Thompson Flores, presidente do TRF4 e o Dr. Wilson, consultor jurídico do Exército.

Igualmente o Superior Tribunal Militar e o Ministério Público Militar tiveram atuação determinante para a manutenção da disciplina nas Forças, bem como nos proporcionaram a segurança jurídica indispensável ao nosso êxito nas situações de emprego.

Desde que assumi o comando, tive como uma das principais preocupações a coesão do Exército e a identificação com a sociedade de onde temos origem. Nesse sentido, prestaram grande serviço os companheiros da reserva em todo o Brasil, incluindo-se aí os oficiais R2 representados pelas associações (AORE) e 3C de São Paulo. A todos sou muito agradecido pela aderência as nossas mensagens e diretrizes e pelas manifestações de apoio e confiança que em nenhum segundo me faltaram.

Minha homenagem especial e agradecimento às esposas de soldado, abnegadas mestras na arte de se readaptar a cada nova guarnição e esteio indispensável ao exercício da profissão pelos maridos. São essenciais ao êxito da estratégia da presença em locais remotos e, por vezes, inóspitos, pois o coração do soldado reside onde está sua família. Talvez por sua juventude, muitas vezes não têm noção da grandeza do que realizam. Ali estão tão somente por amor aos esposos, pelo dom de servir e por dedicação ao Brasil.

No mundo moderno, as Forças Armadas incorporaram funções inéditas. Uma delas é a Indução do Desenvolvimento econômico, científico, tecnológico e social. Para essa tarefa tornam-se indispensáveis o esforço e a participação conjunta das indústrias de defesa. Rendo minha homenagem e agradeço aos empresários que, com resiliência, conseguiram superar os percalços decorrentes da incerteza e descontinuidade dos repasses orçamentários que enfrentamos.

Boas vindas aos integrantes da imprensa, que, permanentemente vigilantes, produziram o efeito de induzir o nosso aperfeiçoamento institucional. Nesses quatro anos, convivemos com notáveis jornalistas, formadores de opinião da estatura de William Waack, Alexandre Garcia, Tânia Monteiro, Natuza Nery, Heraldo Pereira, Marco Antônio Villa, Merval Pereira, Pedro Bial, Júlio Mosquera, Thais Oyama, Igor Gielow, Ana Dubuex, Délis Ortiz, Gerson Camaroti, Eliane Cantanhêde, Fernando Gabeira e o empresário João Saad, dentre outros.

Minha jornada, como comandante, começou a partir da indicação da presidente Dilma Roussef e do Ministro Jaques Wagner. A ambos sou reconhecido.

Posteriormente, fomos honrados com a permanência no cargo pelo presidente Temer, que dedicou grande deferência às Forças Armadas e manifestou enorme confiança, evidenciada pela complexidade das missões que nos atribuiu.

No Ministério da Defesa sucederam-se três amigos, Aldo Rebelo, Raul Jungman e general Silva e Luna, que bem souberam nos representar politicamente e pleitear os recursos necessários à manutenção da prontidão das Forças e ao desenvolvimento dos projetos de modernização.

Ao assumir o comando, de imediato busquei inspiração em meus antecessores, generais Leônidas, Tinoco e Zenildo, todos em memória, e os generais Gleuber, Albuquerque e Enzo, cujas presenças agradeço. O momento especial vivido pelo Brasil se deve não somente aos protagonistas contemporâneos como nós, mas também, a ações remotas empreendidas por eles, com determinação, resiliência, firme ação de comando e liderança. Lograram superar sucessivas dificuldades orçamentárias, políticas e ideológicas, mantendo-nos coesos, apegados a nossos valores e identificados com a Nação Brasileira.

Nesses quatro anos fui ainda um expectador privilegiado da ação de comando sobre suas Forças por parte do almirante Eduardo Bacelar Leal Ferreira e pelo brigadeiro Nivaldo Luiz Rossato. Com esses novos velhos amigos, nos identificamos e alcançamos total integração. Quero ressaltar que diante de situações delicadas, que exigiram tomadas de posição, o fizemos com respaldo mútuo. Com ambos e as queridas Cris e Rosa, vivemos momentos inesquecíveis de compartilhada alegria e intensa amizade, que tenho certeza, enfeitará a nossa vida para sempre.

Igualmente desfrutei da camaradagem profissional do Almirantado e do Alto-Comando da Aeronáutica, que em ligação com seus correspondentes do Exército, foram facilitadores da integração das ações de interesses comuns.

No MD, a atuação das Forças foi potencializada pela capacidade de coordenação do almirante Ademir, bem como dos Secretários Gerais, inicialmente o próprio general Silva e Luna e, posteriormente, o brigadeiro Amaral. Deles dependeu o atendimento das necessidades orçamentárias e administrativas das Forças.

Volto ao meu Exército, onde ingressei há 52 anos, precisamente no dia 15 de março de 1967, inspirado em meu pai, artilheiro de boa cepa, e estimulado por minha mãe, verdadeira mulher de soldado.

Desde os 16 anos de idade, vivi abrigado em uma instituição onde o sucesso profissional jamais me exigiu abrir mão dos meus valores. Instituição de gente feliz, realizada e comprometida, em ambientes saudáveis, onde, despreocupadamente, minha família conviveu sob o manto da amizade e da camaradagem.

Trata-se de um Exército sempre presente nos mais remotos rincões, a proporcionar estabilidade, segurança, defesa e ações em prol do desenvolvimento econômico, científico, tecnológico e social.

Um Exército democrático, apartidário e inteiramente dedicado ao serviço da Nação, que desenvolve suas atividades em ambiente respeitoso, humano, fraterno, digno, honesto, disciplinado, responsável e solidário.

Um Exército presente onde for necessário, defendendo a soberania, vigiando as fronteiras, distribuindo água, abrindo estradas, protegendo índios, preservando o meio ambiente, guardando as riquezas, assistindo a população, garantindo a lei e a ordem ou promovendo a paz em nações irmãs.

Um Exército que ensina nas suas escolas, desde muito cedo, a disciplina própria dos homens livres, que estimula a fraternidade, o entusiasmo e a criatividade.

Um Exército em que sob a aura do patriotismo acolhe a todos, igualando oportunidades, independente de raça, credo, naturalidade, alinhamento político, condição econômica ou nível social.

Um Exército que objetiva transformar-se por meio de projetos amplamente apoiados na indústria nacional, na vanguarda da pesquisa e do desenvolvimento, geradores de empregos e de avançadas tecnologias, sobre os quais repousarão suas capacidades operacionais do futuro, as quais, por sua vez, darão consistência à estrutura dissuasória do país.

Um Exército no qual brasileiros de todos os rincões encontram proteção e segurança, razão pela qual o elevam, ao lado da Marinha de Tamandaré e da Força Aérea de Eduardo Gomes, à condição de Instituição com o mais elevado índice de confiabilidade do País.

Um Exército em que espero jamais ter transmitido maus exemplos, porque nunca os recebi.

Um Exército em que apreciei, com muita felicidade, o profissionalismo e o comprometimento dos oficiais e sargentos, cada vez mais ativos protagonistas no preparo e no fortalecimento dos valores da nossa Força.

No universo militar há ainda um componente fundamental, indutor de algumas características importantes de nosso ethos: as bandas de música, Napoleão dizia: “Ponha uma banda na rua e o povo a seguirá para a festa ou para a guerra”. Eu próprio talvez não soubesse ser militar e nem tampouco comandar sem a emulação de nossas canções e dobrados.

Inspirados pelo Gen Etchegoyen, criamos a função de Adjunto de Comando (Sargent Major em outros Exércitos). O êxito dessa iniciativa se deveu ao entusiasmo e ao engajamento dos nossos praças, que entenderam e avançaram no potencial desse novo sistema e, sobretudo, à atuação brilhante, à competência e à proatividade do Ten Crivelatti.

Devo a ele também um consistente assessoramento e o vislumbre de ações que tornaram a existência dos adjuntos de comando irreversível. Na pessoa do Ten Crivelatti agradeço e destaco a atuação de todos os adjuntos de comando, pelo fortalecimento dos laços de liderança e camaradagem nos ambientes onde atuaram.

Minha ação de comando ancorou-se no assessoramento de meus subordinados diretos, o que foi decisivo para os eventuais êxitos. No primeiro escalão estiveram meus Chefes de Estado-Maior: generais Etchegoyen, Fernando e Paulo Humberto, cujo critério de escolha respaldou-se na capacidade profissional, no amor à profissão e na amizade pessoal, atributos que, a bem da verdade, poderiam ser encontrados em todos os integrantes do Alto Comando. Esse colegiado que, emblematicamente, reunia-se em torno de uma távola redonda, onde as espadas unidas, simbolizavam nosso compromisso diante dos valores mais elevados do Exército.

Na mesma linha posicionam-se meus assessores diretos, desde o chefe de gabinete, Gen Tomás, importante contraponto e fator de equilíbrio das ações que empreendemos, extremamente criativo e de enorme perspicácia. Por detrás de nossas iniciativas operacionais, políticas ou estratégicas, encontraremos sempre alguma contribuição desse amigo.

No mesmo nível encontram-se o CIE, chefiado pelos generais Leme e Poty, decisivo para o embasamento de minhas decisões. O CCOMSEx, sob a liderança do Gen Rêgo Barros que preencheu todos os espaços possíveis de comunicação interna e externa, alçando a Comunicação Social do Exército a um elevado patamar na Era Digital e por fim a Secretaria Geral do Exército, com os generais Pereira Gomes, Negraes e Montenegro, infalíveis em suas ações, o Estado Maior Pessoal, chefiado pelos coronéis Ermindo, Guedes, Allão e Nigri e a equipe de segurança, chefiada pelo coronel Gilmar.

O cumprimento de minha missão só foi possível pelo desvelo desses oficiais e praças, que se multiplicaram em atenções e providências criativas com o intuito de mitigar as limitações pessoais decorrentes da minha doença.

Foram determinantes também as equipes de saúde, incluindo fisioterapeutas e fonoaudiólogos, tanto de São Paulo, quanto em Brasília. Em cada área contei com a atenção e a perícia de alguns dos mais renomados médicos do Brasil: Dra Lúcia, diretora do Hospital Sarah Kubitschek, Dr Acary, Dr Benny Schmidt, Dr Antônio Carlos Lopes, Dr Paulo Muzzi, Dr José Bento, Dra. Major Virgínia Satuf e Dr Ângelo Monesi. A todos, meu coração abriga na condição de filhos ou de irmãos, com infinita gratidão.

Cida, a quem de novo me refiro como a minha segunda espada, parafraseando o general Mascarenhas de Morais. Tua presença ao meu lado tornou-me possível viver, prosseguir no comando e aqueceu o coração do Exército. Mais uma vez, me dá a mão para juntos prosseguirmos em novas jornadas.

Quanto a nossos filhos, Tici, Mano e Drika, felizmente, teu DNA é mais forte que o meu. Lindos e que vieram ao mundo para torná-lo um lugar melhor. Talvez eu nunca lhes tenha dito o quanto deles me orgulho, inclusive, pelas famílias que constituíram.

Por fim, nesse momento, embora emocionado, sinto-me extremamente feliz, pela circunstância de estar passando o comando do Exército de Caxias a um profissional que elevará os níveis de desempenho da Força Terrestre, tanto no que diz respeito à parte anímica, quanto na eficiência operacional, ancorado na evolução tecnológica que vigorosamente persegue, bem como na interação com a sociedade, respaldado em sua evidente e renomada capacidade intelectual, na cultura profissional, na sólida liderança estratégica e na vasta experiência.

Amigo Leal Pujol.

Quando você olhar para trás, me verá em forma, imóvel, coberto e alinhado a sua retaguarda, como só os infantes sabem fazer, sob sua liderança, ansioso por contribuir para a grandeza do nosso Exército, desejando, de coração, absoluto êxito em sua gestão e muitas felicidades para você, Regina e sua família.

Que meu último ato como comandante seja um abraço de gratidão em cada integrante do Exército de Caxias. Levo como principal legado a saudade, porque, na minha alma, permanecerá esse vínculo com todos aqueles que comigo ombrearam nesses 52 anos de caserna, eternizado em cada sorriso e continência que me prestaram.

Em meu coração ecoam todos os brados que nos emulam:

Selva! Força! Comandos! Precede! Pantanal! Montanha! Aço! Aviação! Caatinga! Aeromóvel! Planalto! Pátria! Sertão! Zum zaravalho!

Brasil acima de tudo!

General-de-Exército Eduardo Villas Boas

Brasília 11 Janeiro 2019

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