Exclusivo – Brasil abre novas parcerias

 

Pedro Paulo Rezende
Especial para o DefesaNet

O Brasil diversifica suas parcerias na área de tecnologias sensíveis e de defesa e volta sua atenção para o leste da Europa e a Ásia. Depois de um longo namoro, o Brasil e a República Popular da China começam a tomar providências para o casamento. Os campos de cooperação na área da indústria de defesa são inúmeros e vão da ampliação do número de programas espaciais a ações na área de guerra cibernética.

Com a Rússia, há propostas concretas de cooperação na área nuclear. Por último, o país recebeu a visita do subministro da Defesa do Japão, Minoru Kihara, que esteve no Itamaraty e no Ministério da Defesa com o objetivo de estabelecer laços políticos com o Brasil.

Nos últimos 40 anos, os chineses conseguiram superar os problemas causados pela Revolução Cultural, que cobraram um alto preço no desenvolvimento científico-industrial do país, e se tornaram em criadores de tecnologia em setores de ponta. Além disso, os avanços econômicos não podem ser minimizados. Hoje, o gigante asiático encontra-se no posto de segunda economia global, com forte poupança interna, superior, segundo avaliação do Banco Central do país, a US$ 24 trilhões.

O Brasil, por enquanto, tem crédito. Graças ao apoio da Marinha do Brasil, que enviou seis especialistas em gerenciamento de porta aviões, a Marinha da República Popular da China conseguiu operacionalizar o Liaoning, seu primeiro navio aeródromo. A equipe brasileira, enviada pelo ex-ministro da Defesa Nelson Jobim, empregou uma instalação em concreto próxima à cidade de Wuhan para ensinar como planejar e executar operações embarcadas.

Um navio-aeródromo é um organismo complexo, que implica na organização sistêmica de lançamento e recuperação de aeronaves simultaneamente à movimentação de equipamentos e armas nos hangares. O know how desenvolvido com o uso do A-11 Minas Gerais foi repassado aos marinheiros chineses durante um período de um ano. ( Ver Matéria – Ministro da Defesa Nelson Jobim fala à DefesaNet – Link)
 

Nota DefesaNet

Sem grande alarde ocorreram as visitas oficiais dos líderes políticos dos seguintes países:

Em Julho relacionado  à VI Cúpula dos BRICS e visitas oficiais próprias:

Rússia – Presidente da Federação Russa Vladimir Putin
China – Presidente Li Xiping da Republica Popular da China

Em 1-2 Agosto
Japão – Primeiro-Ministro Shinzo Abe. Posteriormente a visita do subministro da Defesa do Japão, Minoru Kihara

Amazônia

Em novembro de 2011, durante a visita do vice-chefe do Estado-Maior Geral do Exército Popular de Libertação da China, tenente-brigadeiro Ma Xiaotian, os visitantes pediram o envio de um grupo de 30 especialistas em aviação embarcada. A parte brasileira recusou. Solicitara, durante a reunião, a cessão de tecnologia de comunicação em frequências ultrabaixas para uso em submarinos e foi ignorada.

Em compensação, estabeleceram-se alguns pontos para cooperação futura. Um dos pontos altos da programação foi a visita ao 1º Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle do Tráfego Aéreo (CINDACTA I) e uma palestra no Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (CENSIPAM). Os frutos deste encontro foram colhidos no mês passado, durante a visita do presidente da República Popular da China, Xi Jiping, depois do encontro dos chefes de Estado do BRICS em Fortaleza.

O ponto alto dos 32 atos bilaterais firmados no Palácio do Planalto foi a ampliação do uso do CBERS 4, que será lançado em breve, nas ações para a defesa e proteção da Amazônia. O satélite, agora, estará completamente integrado ao CENSIPAM, ajudando na prevenção de ilícitos internacionais na zona fronteiriça. Antes, os dados serviam apenas para o combate ao desmatamento e levantamento de recursos naturais.

O acordo firmado pelos ministros da Defesa do Brasil, Celso Amorim, e da Ciência, Tecnologia e Indústria de Defesa da República Popular da China, Xu Dazhe, também abriu a possibilidade futura do uso de outros equipamentos de sensoriamento remoto a serem lançados pelo país asiático, que empregarão a tecnologia de radares de abertura sintética. Os chineses manifestaram seu grande interesse em participar do Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul (SisGAAz) como fornecedores de tecnologia e de equipamentos. (Nota DefesaNet – Este movimento chinês tem colocado em agitação as empresas Main Contractors do SisGAAz)

Energia

A cooperação na área energética abre possibilidades de financiamentos para a pesquisa e produção de novas jazidas de hidrocarbonetos em terra e no mar. A China, como segunda maior economia global, tem enormes necessidades nesse setor. Os futuros programas a serem desenvolvidos incluempesquisaspara a viabilização de métodos seguros para a exploração de xisto betuminoso. Os dois países possuem grandes reservas, que atualmente não têm utilização economicamente viável.

Os sistemas por craqueamento por injeção de água, desenvolvidos pelos Estados Unidos, apresentam sérios danos ao lençol freático, um dos mais importantes recursos brasileiros — a China, por sua vez, já apresenta alto índice de poluição de seus recursos hídricos e precisa revertê-lo. Beijing também abrirá linhas de financiamento para pesquisas de novas jazidas no Pré-Sal e na plataforma terrestre brasileira. Este esforço será de mão-dupla. O Brasil repassará tecnologia de exploração em águas profundas para ser empregada em plataformas no Mar da China.

Rússia

No próximo mês, uma comitiva da ROSATOM virá ao Brasil para fechar contrato de fornecimento de tecnologia para a construção de reatores nucleares em parceria com a Camargo Correa. Será o primeiro passo concreto desde a assinatura de acordos durante a visita do presidente da Federação Russa, Vladimir Putin, ao Brasil. Na ocasião, estabeleceu-se cooperação na área de petróleo e gás e na geração de energia elétrica.

Com as sanções aplicadas pelos Estados Unidos e a União Europeia, a exportação de alimentos para a Rússia deverá gerar um grande superávit a favor do Brasil na balança comercial, que pode ser compensado por meio de importações ou desenvolvimento conjunto de produtos de alta tecnologia de origem russa como supercomputadores, servidores e roteadores de alta potência para uma rede própria e fechada a ser mantida pelo Governo Federal, de maneira a impedir eventuais invasões como as desenvolvidas pela NSA estadunidense em data recente.

Transporte

No setor de logística, a República Popular da China se dispôs a investir no desenvolvimento do setor ferroviário, portuário e de construção naval. O país desenvolveu projetos de trens-bala que poderiam ser empregados em linhas-tronco ligando Rio, São Paulo e Belo Horizonte, que serviriam como excelente alternativa às rodovias e aerovias.

A Rússia, em recente visita, propôs a transferência de tecnologia para um sistema centralizado de controle do transporte de carga. Durante a existência da União Soviética, o país desenvolveu uma extensa malha que inclui a maior ferrovia do mundo, a Transiberiana, e movimenta mais de 90% de sua produção por meio de comboios. Em suma, as duas propostas se complementam.

Esse tema interessa ao governo brasileiro, que pensa em recuperar o sistema degradado durante o regime militar, que priorizou as rodovias. Trata-se de uma área que se encontra em crise, perdendo malha viária e sob intenso sucateamento. O processo de privatização imposto por Fernando Henrique Cardoso não deu bons resultados, uma vez que os compradores não investiram conforme o previsto.

Japão

Por último, o país recebeu a visita do subministro da Defesa do Japão, Minoru Kihara, que esteve no Itamaraty e no Ministério da Defesa com o objetivo de estabelecer laços políticos com o Brasil. Os encontros tiveram caráter político e prospectivo. Basicamente, ele explicou a nova política de Defesa do país, que abandona as rígidas regras constitucionais instituídas ao final da Segunda Guerra Mundial, e o entorno político da região, com o crescimento militar da República Popular da China e da República Popular da Coreia. Ele também deixou claro o interesse do seu governo em relação a participar de concorrências futuras para fornecimento de equipamentos de defesa para o Brasil.
 

Visita de Kihara Minoru à EMBRAER em 08 de Agosto de 2014. Ver o interesse no KC-390 e compare com a foto da visita ao C-2 publicada acima.
 


Sintomaticamente, a visita teve início pelo SINDACTA-I e o CONDABRA. Os dois organismos estudam a adoção de novos satélites de vigilância para apoiar as atividades de controle de fronteiras. O Japão se especializou em sistemas que empregam varredura por radar que se mostraram extremamente efetivos sobre a Amazônia. Entre 2008 e 2010, um satélite da série ALOS prestou serviços ao IBAMA, o que permitiu detectar e deter o avanço do desmatamento na região. Os sistemas óticos, como o CBERS sino-brasileiro, não davam a exata dimensão do problema por não atravessarem a copa das árvores.

Minoru Kihara fechou sua visita ao Brasil conhecendo as instalações da EMBRAER e da EMGEPRON, em São José dos Campos e no Rio de Janeiro.
 
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