Ministro da Defesa Nelson Jobim fala à DefesaNet

Nelson Düring

Editor-Chefe DefesaNet

DefesaNet – O Senhor está completando dois anos à frente do Ministério da Defesa (assumiu 25 de julho de 2007). Que avaliação desse período o Senhor pode nos fazer?

Min Jobim – Primeiro, a questão aérea, que já foi controlada. Tem uma série de mudanças a serem estabelecidas na aviação. Principalmente a criação e regulamentação de uma aviação regional no Brasil. Eu demonstrei ao Presidente que aviação aérea no Brasil é toda ela, digamos, de “caranguejo”, pois ela toda no litoral não passou do Tratado de Tordesilhas.

Não temos vôos horizontais . Você sai de uma capital do Nordeste para ir a outra no Nordeste e tem de passar por Brasília. E estes casos todos nos levaram a criar a opção de uma política de aviação diferenciada para aquilo que chamamos de aviação regional.

Na verdade não seria aviação regional, mas linhas de baixa e média densidade. E teremos que ter a participação do Estado através de incentivos e também de regras regulatórias diferenciadas. Isto já está definido e em um mês apresentamos o projeto.

Quanto às Forças Armadas, apresentamos a Estratégia Nacional de Defesa na quinta-feira passada no Clube Militar onde reuniram-se os sócios dos Clubes Militares da Marinha, da Aeronáutica e do Exército. Mostramos assim a consolidação da transição democrática. E isso significa uma nova postura do Ministério da Defesa. Assim, criamos dentro do MD uma estrutura que chamamos de Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas para termos a ação conjunta dessas Forças junto ao Presidente da República, bem como todo o critério de vetores de desenvolvimento: o espacial, o nuclear e o cibernético.

DefesaNet – Ministro voltando aos seus dois anos uma série de projetos estão em curso: o helicóptero EC725, o submarino, Projeto F-X2, o KC-390 e agora, o veículo blindado do Exército. Em meio às incertezas da área econômica como o Senhor vê a perenidade destes projetos?

Min Jobim – A existência de crise pode “elastecer,” mas não paralisar o projeto. O que foi fixado pela Estratégia Nacional de Defesa é que teremos uma legislação que assegura a manutenção dos projetos. Este é o ponto fundamental, a questão da defesa politicamente não era vista como uma questão nacional e sim setorial, que interessava exclusivamente aos militares não tinha comprometimento da sociedade.

Logo, não tendo comprometimento da sociedade não havia comprometimento orçamentário algum. E esta é exatamente a inversão que estamos fazendo para ter uma política fixada pelo poder civil. Serão programas militares, mas com apoio da sociedade civil. Daí a ligação que estamos fazendo dentro da Estratégia Nacional de Defesa entre as forças armadas com o desenvolvimento da indústria nacional de defesa.

Completando que no KC-390 estamos investindo 53 milhões e nos aeroportos 50 milhões este ano.

DefesaNet – O senhor vê apoio dentro do governo e na área política?

Min Jobim – Ah, sim não tem dúvida. Nós conseguimos formar um frente parlamentar muito forte e conseguimos despartidarizar a questão. O assunto não é partidário, não é um debate entre A e B. Não é uma questão de governo mas uma questão de Estado.

DefesaNet – Quais os próximos passos da área de defesa nestes ainda 18 meses na sua gestão?

Min Jobim – Vamos prosseguir nos desenvolvimentos dos projetos dos submarinos. Para atingirmos o submarino com propulsão nuclear levará uns 20 anos pelo menos. Vamos iniciar a produção dos helicópteros, ainda neste ano, espero. Os contratos já foram firmados mas a efetividade será quando o presidente Sarkozy visitar o Brasil para a comemoração do 7 de setembro.

Temos de desenvolver este novo veículo blindado que está sendo projetado pela IVECO e sendo construído em Sete Lagoas (MG). E há um projeto novo que estamos implementando que é a Amazônia Protegida ou seja o aumento da presença militar na Amazônia. Além disso, estamos desenvolvendo paralelamente o programa VANT (Veículo Aéreo não-Tripulado).

DefesaNet – E quanto à VBTP-MR já estão solucionadas as questões referentes à este projeto como um Programa de Aquisição?

Min Jobim – Ainda não. Isto estaremos discutindo nesses próximos 15 dias, quando do retorno do Presidente da República, que viajará a Arábia Saudita, a Turquia e a China. Nesse período converso com o Ministro do Planejamento mas já há numa linha de desenvolvimento para o projeto do blindado.

DefesaNet – Há uma série de aproximações militares com a China. Como o Senhor vê essa aproximações com a China no âmbito do Ministério da Defesa?

Min Jobim – A aproximação com a China está mais voltada para a Marinha. Eles (os chineses) querem que a Marinha do Brasil seja o elemento de ligação para a criação da Marinha Chinesa. A China não tem uma marinha. Inclusive nós vamos trazer oficiais chineses para cá. Eles farão estágio. Lógico que terão de aprender português.

Eles farão estágio no porta-aviões São Paulo. Os chineses já estão adquirindo porta-aviões para projeção de poder na região, que é uma situação completamente diferente da nossa. Estou indo à China entre setembro ou outubro.

Nota DefesaNet – No dia 23, o Alte Esq Moura Neto foi convidado a representar todas as Marinhas participantes e fazer, em nome de todos, um discurso em agradecimento ao Presidente da China, Hu Jintao pelas comemorações dos 60 anos da Marinha do PLA. Link

DefesaNet – Quando da visita do vice-presidente da Comissão Central Militar da China, General Xu Caihou foi informado que o Senhor iria à China…

Min Jobim – O Presidente irá agora a China, mas não vou acompanhá-lo. Irei em setembro ou outubro a China, a Índia e a Coréia do Sul, onde temos grande interesses de partidas estratégicas. Isto é fundamental para mostrar nossa autonomia. Não dá para ficarmos dependentes de uma linha que tínhamos somente.

Nota DefesaNet – O Presidente Luiz Inácio visitará a Arábia Saudita (16-17 Maio), China (18-20 Maio) e Turquia (20-23 Maio)

DefesaNet – Há expectativa de alguma cooperação industrial entre os dois países(Brasil e China)?

Min Jobim – Isto poderá ocorrer a partir destes entendimentos entre os dois países. Hoje a China está muito forte na África, por exemplo. Irei a África dentro de poucos dias para encontro dos Ministros de Defesa de Língua Portuguesa. Vou a República do Congo e a Angola e a Namíbia. E não vou só a Angola, irei também a Argélia onde há um entendimento industrial importante. A Namíbia foi a área onde mais houve troca de relações com a Marinha do Brasil. Nós montamos a marinha da Namíbia. Inclusive, vamos incorporar à marinha da Namíbia um navio de patrulha costeira produzido pelo estaleiro INACE do Ceará.

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