Pólos Aeronáuticos – A corrida por se tornar um novo no Brasil


Júlio Ottoboni
Especial para DefesaNet


Enquanto a EMBRAER anuncia mudanças em sua estrutura produtiva, com fábricas nos Estados Unidos, Portugal e unidades na Austrália, Singapura e podendo chegar em breve no continente africano, mais precisamente na África do Sul, no Brasil há uma corrida entre Estados e municípios para se estabelecerem como novo polo aeronáutico. A disputa aumentou depois dos anúncios de recordes na carteira de pedidos da ex- estatal e na crescente demanda por aviões mais baratos e alternativos aos grandes fabricantes.

Dentro da Estratégia Nacional de Defesa (END) há a intenção de desconcentrar a Base Industria de Defesa (BID), ainda hoje fortemente localizada em São José dos Campos (SP). 

São Paulo – O Estado dá início na segunda metade dos anos 90 ao processo de descentralização produtiva do polo aeronáutico estabelecido principalmente em São José dos Campos, no Vale do Paraíba, com a aquisição de uma grande área na então recém-emancipada Gavião Peixoto, nas proximidades de Araraquara.

Com a expansão das atividades da EMBRAER Defesa & Segurança nas instalações de Gavião Peixoto, com o Projeto da Aeronave de Transporte Multimissão KC-390 e outros programas de defesa, deverá crescer significativamente as instalações nesta região.

Botucatu, Sorocaba ,Taubaté, Caçapava entram na disputa. O polo tecnológico de São José dos Campos dá sinais de saturação e decadência, principalmente por ausência do governo federal em manter projetos e criar outros em instituições como o DCTA, ITA e em encomendas para o setor. Caçapava manteve até esse ano um ousado empreendimento privado, o condomínio aeroespacial Aerovale, que faliu ainda em meio as obras. Sorocaba corre por fora com seu parque tecnológico.

São João da Boa Vista (SP) recebe neste ano dois cursos universitários na área da aviação. A engenharia aeronáutica pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), e de aviação civil, no Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino (Unifae). Os cursos estão inseridos na proposta da cidade em se transformar em um polo da indústria da aviação depois da instalação de duas empresas fabricantes de aviões experimentais.

Em 2012,  duas empresas de aviões se instalaram no local. Juntas, elas somam em torno de 300 empregos. Em uma delas, são realizados projetos nacionais e produzidas em média três aeronaves por mês.

Já considerado  uma realidade, um dos principais polos aeronáuticos emergentes está na cidade de São Carlos. Ela tem a expectativa de, nos próximos anos, assistir a um boom de investimentos no setor, que vai impulsionar a economia local. O governo do estado de São Paulo, em sua ação de descentralização do polo aeroespacial, levou o curso de engenharia aeronáutica para a cidade, que tem um forte perfil universitário.

Lá se encontra a TAM MRO – Unidade de negócios da TAM especializada em serviços de manutenção,reparo e revisão de aviões e componentes aeronáuticos. A AIRSHIP, empresa especializada em desenvolver, fabricar, comercializar e operar produtos usando tecnologias mais leves que o ar. Um dos investidores já encomendou 50 dirigíveis. Também se fixou na cidade a AGX Tecnologias e Desenvolvimento e pesquisa de drones para mapeamento e análises agrícolas e ambientais.

Depois de muito alarde, o Polo Aeronáutico de São Bernardo ainda é uma incógnita, mesmo contando com o núcleo da SAAB e um esforço que unem o governo federal e o ex-ministro do governo Lula e atual prefeito, Luiz Marinho (PT). O Centro de Pesquisas Aeronáuticas a atuar como grande núcleo estratégico responsável pela viabilidade de projetos na área de Defesa, Aeronáutica e Inovação Urbana ainda não decolou.  Neste núcleo há a intenção de se criar cursos de engenharia aeronáutica nas universidades locais.

Paraíba – A STRATUS Indústria Aeronáutica já está instalada em outra São José, a da Mata – distrito de Campina Grande. A  fabricante de aviões, primeira do segmento a se instalar na Paraíba, representou um “momento de ratificação de mais um grande projeto de desenvolvimento econômico local” como definiu o governo local.

A Stratus é parceira da Empresa Volato Aeronaves, indústria brasileira com sede em Bauru, com mais de 15 anos no mercado e que desenvolveu no Brasil as aeronaves Volato 400 e Volato 200. Esses aviões foram feitos pelo projetista norte americano Richard Trickell.  O governo paraibano afirma que em apenas cinco anos um polo aeronáutico muito desenvolvido surgirá no local. E em até dez anos se transformará numa referência no Nordeste.

Ceará – Cotado para ter uma instalação avançado do Instituto de Tecnologia da Aeronáutica (ITA), pelo grande volume de estudantes oriundos do Estado. A Companhia Interamericana de Tecnologia Aeroespacial (CITASA) assinou um Protocolo de Intenções com a prefeitura de São Gonçalo do Amarante para abrir o polo cearense de aeronautica.

Um terreno de 30 hectares abrigará a empresa no Distrito Industrial de Serviços da Sede (DIS-Sede). A CITASA pretende investir R$ 450 milhões em São Gonçalo do Amarante. O que envolve a construção das instalações da fábrica, compra de máquinas, equipamentos, veículos e aquisição de tecnologia. Isto gerará cerca de 900 empregos especializados. O alvo, num primeiro momento, é a construção de helicópteros.

Segundo o governo cearense, a parceria com uma tradicional fabricante de helicópteros dos Estados Unidos e com a também norte-americana Space Exploration será muito útil para desenvolver mão de obra qualificada, fornecedores e prestadores de serviços, para que possam compor uma cadeia produtiva. A intenção é ter um alto grau de nacionalização do produto, inclusive em soluções tecnológicas em motores à propulsão, pistão e turbinas. Os recursos para isso serão provenientes de um fundo de investimentos e das empresas americanas.

Goiás – O governo de Goiás já teve um encontro com diretores da OGMA, a tradicional indústria de aviões de Portugal que tem a brasileira Embraer como maior acionista, quando foi aventada a possibilidade da companhia que opera na renovação da frota de caças da Força Área Brasileira, instalar uma de suas unidades em Anápolis.

A lógica do governo goiano é convincente. A  compra dos caças Gripen pelo governo brasileiro, a Base Aérea de Anápolis (BAAN), terá que se preparar para receber nova e moderna unidade de manutenção dos caças, gerando novas oportunidades de negócios para a indústria aeronáutica.

O governo tenta aproveitar a implantação de tecnologia para manutenção dos novos caças da Força Aérea Brasileira para gerar um movimento de interesse de empresas fornecedoras de peças, serviços e até mão de obra para a indústria aeronáutica em Anápolis e Goiânia, além de incentivar a migração de projetos tecnológicos para o Estado.

A prefeitura de Aparecida de Goiânia investirá na formação de parcerias privadas para a construção de um aeroporto executivo. Está previsto a construção de uma pista com extensão de 2,4 mil quilômetros, além de terminal de passageiros. O projeto visa dar suporte para a área que vai abrigar o novo Polo Aeronáutico do Estado.

Trata-se de um conjunto de empresas de manutenção de aeronaves e sistemas aviônicos  que prometem tornar Goiás o segundo maior polo nacional de manutenção. Em Aparecida de Goiânia outras empresas que desenvolvem aviões e tecnologia aeroespacial se instalarão nas proximidades do novo aeroporto, denominado Antares.

Minas Gerais – Itajubá, no sul de Minas, com o Projeto H-XBR (EC225M), contrato de produção de 50 helicópteros está propiciando a expansão da área ediucacional e de fornecedores em Minas Gerais

 A AIRBUS Helicopter, empresa européia controladora da HELIBRAS, investiu na expansão da fábrica em Itajubá, para a implantação da linha de produção do helicóptero. Parte da cadeia produtiva da HELIBRAS se encontra no polo de São José dos Campos, onde a companhia nasceu.

Enquanto isso, o  Polo Aeroespacial de Tupaciguara, no triângulo mineiro, avança como parte do projeto do Complexo Aeronáutico, que terá mais três polos no estado, que inclui Itajubá, Lagoa Santa e Goianá e o aeroporto internacional Tancredo Neves como aerotrópolis, uma cidade aeroporto, inspirada em Cingapura e Dubai.

A implantação do Centro de Inovação Aeroespacial, em parceria com a empresa AXIS Aeroespacial e Universidade Federal de Uberlândia (UFU), foi o primeiro passo para a construção da Escola Técnica do programa Brasil Profissionalizado, que formará profissionais para o segmento.

 A escolha do município de Tupaciguara está relacionada diretamente aos aspectos de topografia e logística com apoio da prefeitura de Tupaciguara, além  da proximidade com o curso de Engenharia Aeronáutica da UFU e envolverá Uberlândia e Uberaba no processo.

A EMBRAER inaugurou, em novembro 2014, a expansão do Centro de Engenharia e Tecnologia de Minas Gerais (CETE-MG), localizado nas instalações doCentro de Inovação e Tecnologia do Serviço Nacional da Indústria (SENAI) e da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG), em Belo Horizonte.

Dentro da área do Aeroporto de Confins também são criadas vários núcleos como a Base Operacional da empresa aérea Gol.

Paraná – O Centro Universitário de Maringá (UNICESUMAR) terá dois novos cursos para a área de aeronáutica. A medida faz parte do projeto de tornar o lugar em um polo aeronáutico e de defesa no Paraná. Serão iniciados os cursos de Tecnologia em Manutenção de Aeronaves  e de Engenharia em Manutenção de Aeronaves.

Isso faz parte do projeto de tornar Maringá, na região norte pioneiro paranaense, um polo aeronáutico e de defesa no Paraná. A holding suíça Avio International Group assinou um protocolo de intenções para instalar uma fábrica de aviões e helicópteros na cidade.

Desde o início deste ano, a UNICESUMAR conta com o curso de Tecnologia em Pilotagem Profissional de Aeronaves. Para atender os novos cursos, a instituição adquiriu um simulador de voo que ficará numa unidade avançada no Aeroporto Silvio Name Júnior.

A UNICESUMAR e a Universidade Estadual de Maringá (UEM)  negociam parcerias com Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), para a abertura de cursos da área. O clima aeronáutico é reforçado com a realização da Feira de Aviação EAB Air Show em Maringá.

Já foi oficializada a vinda de três empresas interessadas em se estabelecer na cidade, a Flyer, Edra e Paradise. A Prefeitura já está comercializando 40 alqueires de terras com terrenos de 10 mil m²  e a  desapropriação de outros 300 alqueires para consolidar o segmento aéreo na cidade. A UNOPAR ( Universidade do Norte do Paraná) também já teve diversos projetos no setor aeroespacial, como a produção de transponder e micro satélites.

Santa Catarina – O governo de Santa Catarina tem feito um trabalho eficiente para atrair fábricas de aeronaves de pequeno porte e montar seu cluster aeronáutico. O polo de alta tecnologia terá o centro de engenharia no Sapiens Park, em Florianópolis, e a cadeia produtiva em Lages.

Praticamente fugida das dificuldades do polo de São José dos Campos, que tem perdido diversas empresas ao longo dos últimos anos, a Novaer Craft produzirá 120 aeronaves por ano a um preço médio de US$ 700 mil cada. Uma empresa norte-americana já se comprometeu em comprar as 200 primeiras aeronaves T-Xc . Também foi tentado trazer a fábrica da Antonov, da Ucrânia, para a região de Lages, porém sem sucesso.

Rio Grande do Sul – A Universidade de Cruz Alta oferecerá, a partir dos próximos semestres, dois novos cursos de graduação, o de Engenharia Civil e Ciências Aeronáuticas. O curso de Ciências Aeronáuticas será o 13º do Brasil e o 2º do Rio Grande do Sul. O objetivo é formar profissionais que atuem como pilotos, mas também possam desempenhar funções gerenciais na aviação civil.

A busca pela formação do polo aeronáutico gaúcho começou em 2009, quando empresas fabricantes de equipamentos, instituições formadoras de mão de obra e representantes do setor aeronáutico se reuniram  na PUC-RS, para a construção de um projeto que visa a instalação de um polo industrial do setor no RS. A primeira tentativa foi falha, mas agora retomada.

Em uma ação mais independente, o município de Santa Maria, na região central do Estado, criou seu parque tecnológico e um programa para atrair empresas de defesa, do setor espacial e também aeronáutico. Ela tem divulgado seus projetos em grandes encontros, como a LAAD, deste ano e também na edição de 2014.

Assim os executivos, Diogo De Gregori – Superintendente Executivo, : Agência de Desenvolvimento de Santa Maria (ADESM), e Cristiano Silveira – Gestor Executivo do Santa Maria Tecnoparque tem acompanhado os principais eventos na área para divulgar as vantagens de Santa Maria.

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