AF447 – Familiares pedem que MP investique acidente

 

Mariana Tokarnia 
 

A Associação dos Familiares das Vítimas do Voo 447 (AFVV447) vai pedir que o Ministério Público investigue o acidente com o voo da Air France que matou 228 pessoas em 31 de maio de 2009. A associação discorda da Justiça francesa que, em posicionamento recente, concluiu que os culpados pela queda do airbus foram os pilotos.

"Sabemos que nada disso é verdade", diz o presidente da associação Nelson Faria Marinho. Segundo ele, são várias as análises que indicam problemas com as aeronaves do modelo A330. A falha teria sido mecânica e eletrônica, atribuída ao pitot, que é o sensor de velocidade. As informações estão em carta aberta divulgada pela entidade (ver carta abaixo).

"Isso é muito grave. Esse modelo continua voando e colocando em risco a vida de todos [a bordo]", indigna-se Marinho. O presidente da AFVV447 explica também que a França tomou a frente das investigações, quando, pela proximidade territorial com o acidente, o Btasil deveria ser o responsável.

O caso foi levado à Procuradoria da República em Pernambuco, onde foi aberto inquérito criminal. Impedido de avançar por questões técnicas, o procurador Anderson Vagner Góis dos Santos, responsável pelo inquérito, mandou o caso para Brasília, de onde foi encaminhado à Justiça do Rio de Janeiro, onde tramita em sigilo. Marinho diz que, até agora, o Brasil acompanhou a investigação francesa. O pedido será para que o país investigue paralemamente.

Em relação às idenizações, o presidente da associação diz que apenas algumas famílias conseguiram recebê-las porque negociaram diretamente com a Air France. Os demais casos tramitam em tribunais no Brasil e em outros países.

O acidente com o airbus, que seguia do Rio de Janeiro para Paris, completou ontem (31) cinco anos. Os familiares prepararam um evento no Rio de Janeiro com um missa e uma palestra sobre a conclusão das investigações. A homenagem às vítimas seria feita com recursos da Air France. De acordo com a AFVV447, a companhia não concordou em arcar com as despesas dos familiares de vítimas de fora do Brasil.

Marinho e outros familiares boicotaram o evento porque não acreditam que está sendo feito de acordo com um modelo pedido pelo Brasil.

Resposta a justiça Francesa.

Original no site AFVV447 Link

 

CARTA ABERTA DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE FAMILIARES DE VÍTIMAS DO VÔO AIR FRANCE 447

A AFVV447, na pessoa de seu presidente, Sr. Nelson Faria Marinho, vem a todos se manifestar sobre as últimas noticias acerca da investigação francesa sobre as causas do acidente que vitimaram 228 pessoas em 31 de maio de 2009.

A justiça francesa, em posicionamento recente, concluiu que os culpados pela queda do Airbus que vitimaram 228 pessoas foram os pilotos, que infelizmente não tem o direito de se defender.

Além disso, tal conclusão atual é conflitante com tudo o apurado até então, inclusive com o relatório anterior do BEA, que concluiu que problemas ocorridos na sonda PITOT da aeronave, aliado a excessiva automação da máquina, geraram informações que induziram a erro os pilotos.

Insta salientar que tanto o BEA quanto a justiça francesa compartilham o mesmo perito, o que no mínimo é preocupante, para não dizer vergonhoso, além de subestimar a inteligência das pessoas.

Durante esses 05 (cinco) anos que se passaram após o acidente, diversos especialistas mundiais, dentre eles o Gerhard Ernst Hütting, aeronauta, renomado na Universidade de Berlim e profissionais da COPPE/UFRJ e da OBSERVO (Organização Brasileira de Segurança de Vôo), além de relatório do CENIPA – Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos, da Aeronáutica, após diversos testes e análises das situações experimentadas quando do acidente, concluíram que a falha foi mecânica e eletrônica, atribuída ao PITOT, que é o sensor de velocidade, não imputando qualquer responsabilidade aos pilotos pela causa do acidente.

Além desses órgãos, ao longo destes anos, estivemos em várias reuniões com pilotos, inclusive com o ex-dirigente do sindicato de pilotos franceses, o Sr. Gerard Arnoux e com pilotos de aviões de mesmo modelo do referido no processo – Airbus A330, e todos concordaram que o problema é do avião, por ser excessivamente automático, seja, quando ocorre um problema o piloto fica “refém” da máquina.

O que se pretende com essa nota é demonstrar nosso repúdio com o rumo das investigações francesas, e deixar claro que o CAPITAL não pode se sobrepor a vida, por isso não podemos deixar acordos econômicos entre países ignorar a perda de vidas e a prevalência da iminência de eventos de mesma natureza.

Devemos lembrar à justiça francesa que logo após a tragédia houve ameaça de greve dos pilotos da AIR FRANCE, recusando-se a voar enquanto não se trocassem o pitot de todas as aeronaves do modelo A330, porque temiam por suas próprias vidas.

Não podemos esquecer-nos da contradição do BEA em admitir a priori que foi o sensor de velocidade o responsável pela ocorrência da tragédia, mas depois disso diz que é falha humana.

É preciso lembrar também do caso 787 da Boeing, que sem matar ninguém foi proibido pelo governo japonês de levantar voo enquanto não resolvesse seu problema, sendo adotada a mesma medida pelo governo norte-americano, ao contrário do governo francês que permite, após a tragédia do 447, que vitimou 228 vidas continuar voando como se nada tivesse acontecido.

Em 15/10/2013 a AFVV447, representada pelo seu presidente, questionou ao Sr. Jean-Paul TROADEC que apresentou 41 recomendações, sendo uma delas referida ao treinamento de pilotos. Venderam o avião para o mundo inteiro para depois dar o treinamento aos pilotos. Quando indagado pelo presidente da AFVV447 da caixa de voz porque não foi divulgada, o Sr. TROADEC respondeu que era para não afetar o lado emocional das famílias dos pilotos. Mais uma contradição, pois agora diz que os pilotos são os causadores deste acidente. Onde está o bom censo?

O próprio Gerard Arnoux, concluiu que o treinamento dado aos pilotos não os preparava para enfrentar situação como a geradora da queda do avião, como veremos abaixo:

“Em razão da leitura incorreta dos Pitot, os pilotos podem ter sido induzidos a pensar que o avião voava em velocidade superior a real. Empinando o nariz do avião tentaram frear sua velocidade. Ou dando potência plena se imaginaram que o avião estava lento. Aliás, nesta última hipótese, era o procedimento preconizado pela Airbus até janeiro de 2011”

Uma nota do dia 20 de março de 2011 redigida por cinco peritos em acidentes aéreos engajados pela Justiça francesa sustenta que:

“À época do acidente, os pilotos não estavam preparados para afrontá-lo” por falta de “informação” e “treinamento”. Os procedimentos criados pela Airbus para resolver o problema dos Pitot eram de difícil execução e não especificamente adaptados para o caso”.

Especialistas que debruçaram sobre o relato do BEA pescaram uma curiosa situação em uma ação que independe completamente da ação dos pilotos:

“Sob ordem exclusiva do A330, a posição normal de 3 graus do estabilizador horizontal traseiro do avião – Trimmable Horizontal Stabilizer (THS, na sigla em inglês) – passou para um angulo de incidência de 13 graus no espaço de apenas um minuto, uma mudança brusca de 10 graus. A situação, segundo eles, pode ter contribuído para ter impedido a recuperação do controle da aeronave”

Sabendo disso, perguntamos: seriam os pilotos os culpados?

Os acontecimentos denotam a inexistência de medidas preventivas por parte do governo francês. É lamentável que essas recomendações não tenham sido dadas num período anterior a venda dessas aeronaves.

O senhor TROADEC estimou ainda que essas recomendações levariam um prazo de três a cinco anos para ao seu destino, ou seja, ao fabricante das aeronaves e aos pilotos.

Vão continuar caindo aviões A330 desenfreadamente até lá?

Devemos ressaltar que depois do voo 447 várias outras tragédias aconteceram, matando a todos que estavam no A330. Vou citar a primeira tragédia que foi o voo que saiu de Marseille, e o último na Líbia.

Temos direito, de acordo com o Tratado de Chicago, de fazer uma investigação limpa, transparente e cristalina.

O Tratado de Chicago garante que o país mais perto do local do acidente participe da investigação.

Assim nos lembra a OBSERVO, e com base nisso constatamos que:

1. O fabricante do avião é francês;

2. O investigador é um órgão público francês, ligado ao Ministério dos transportes;

3. A companhia aérea é francesa;

4. A justiça, que o momento julga o caso, é francesa, e a mesma que culpabilizou os pilotos.

Por conta do andamento processual, e da contradição de suas constatações e da ausência total de vontade em apontar seriamente os erros, para que sejam corrigidos e vidas não sejam ceifadas sem nenhum motivo, é mister afirmar que a França é, no mínimo, suspeita em manter-se na direção destas investigações.

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