EB no combate às “fake news”e no combate à “desinformação”

O Exército Brasileiro lança, nesta semana, a campanha de utilidade pública, com foco informativo e educacional, de esclarecimento sobre as fake news. Com o nome de #COMBATAFAKENEWS, a ação será composta por postagens, banners, vídeos e chamadas de áudio, que serão veiculadas a partir do dia 20 de agosto de 2018. Os meios de divulgação serão o portal na internet, a Rádio Verde-Oliva FM e as mídias sociais do Exército Brasileiro.
 
A campanha objetiva estimular o pensamento crítico e a avaliação das informações que consumimos da internet, seja por meio de aplicativos de troca de mensagens ou das redes sociais. Os produtos que integram a #COMBATAFAKENEWS foram pensados de forma a utilizar elementos gráficos e textuais que remetam à linguagem militar e a situações de combate, sempre associando fake news com “desinformação”.
 
Escolhida como palavra do ano em 2017 pelo dicionário Collins, fake news é um termo simplista demais para definir e qualificar um conteúdo cujo objetivo é enganar o cidadão. Se por um lado chamamos de fake news tudo o que nos parece mentira, seja por convicções pessoais consolidadas ou influência de grupos sociais, por outro lado, fake news serve como proteção contra fatos que possam prejudicar os interesses de pessoas, empresas e instituições. Basta registrar “isso é fake” e o assunto está resolvido, pois no cenário de desordem informacional é mais difícil discernir sobre o que são fatos e torna-se mais fácil destruir reputações.
 
Amplamente utilizado por todos, o termo fake news engloba desde o que é falso até o que é nocivo. Porém, o perigo para a sociedade é quando a expressão é utilizada para designar informações que se esguiam entre essas duas definições. Esse conteúdo é chamado de “desinformação” e pode vir a causar, além de um estado de apatia por fatos reais, a corrosão de uma das bases de um sistema democrático, que é o acesso a informação.
 
No ambiente digital, a desinformação abrange conteúdos de natureza muito diversa – desde sátiras e paródias, feitas para ridicularizar personalidades, mas que podem enganar o leitor – até algo totalmente fabricado de forma maliciosa, como a “notícia” de que o Papa Francisco teria declarado apoio ao então candidato Donald Trump à Presidência dos Estados Unidos da América (EUA), segundo o Manual da Credibilidade, publicado em 2018.
 
Claire Wardle, em seu artigo “Information Disorder: The Definitional Toolbox”, publicado no First Draft News (2018), apresentou o gráfico abaixo, que mostra o espectro de atuação dos conteúdos maliciosos.


A desinformação envolve uma complexa rede de incentivos para criação, difusão e consumo de mensagens manipuladas. São empregados inúmeros conteúdos e técnicas para ampliar o alcance do conteúdo, apoiados por inúmeras plataformas hospedando e reproduzindo tal conteúdo e velocidades vertiginosas de comunicação entre colegas confiáveis (rede de amigos).
 
Os impactos diretos e indiretos da poluição da informação são difíceis de quantificar. Estamos apenas em meio aos estágios iniciais de compreensão de suas implicações. Segundo Claire Wardle e Hossein Derakhshan, em sua publicação “Information Disordem: toward an interdisciplinary frameword for research” (2017), após o resultado do voto "Brexit" no Reino Unido, a vitória de Donald Trump nos EUA e a recente decisão do Quênia de anular o resultado das eleições nacionais, houve muita discussão de como a desordem da informação está influenciando as democracias.
 
De acordo com esses dois autores, o que preocupa mesmo no processo de desinformação são “as implicações de longo prazo das campanhas de divulgação concebidas especificamente para semear a desconfiança e a confusão, além de aprofundar as divisões socioculturais existentes usando tensões nacionalistas, étnicas, raciais e religiosas”.
 
No entanto, como combater a desinformação? Para o Projeto Credibilidade, iniciativa do PROJOR (Instituto para o Desenvolvimento do Jornalismo) e da UNESP (Universidade Estadual Paulista), as frentes de batalha são as seguintes:
 
1. Definições: pensar mais criticamente sobre a linguagem que usamos, a fim de entendermos efetivamente a complexidade do fenômeno.
 
2. Implicações para a democracia: investigar adequadamente as implicações para a democracia quando informações on-line falsas ou enganosas circulam na rede.
 
3. Papel da televisão: compreender o poder da mídia tradicional e, em particular, da televisão, na disseminação e ampliação de informações de baixa qualidade que se originam on-line.
 
4. Implicações da mídia local enfraquecida – entender como o colapso do jornalismo local permitiu que a informação incorreta e a desinformação se estabeleçam e encontrar formas de apoiar o jornalismo local.
 
5. Amplificação computacional – investigar, a medida em que a influência é comprada, o uso de bots e ciborgues para manipular o resultado de petições on-line, alterar os resultados dos mecanismos de pesquisa e aumentar certas mensagens nas mídias sociais.
 
6. Filtros bolha e câmaras de eco: considerar as implicações dos filtros bolha e câmaras de eco que surgiram em decorrência da fragmentação da mídia, tanto off-line (mediada por intermédio de programas partidários no rádio e notícias a TV a cabo) e on-line (mediada por sites hiper-partidários, alimentação derivada algoritmicamente em redes sociais e comunidades radicais em plataformas como WhatsApp e Facebook).
  
7. Queda da credibilidade em evidência – compreender as implicações de diferentes comunidades não compartilharem um senso de realidade baseado em fatos e conhecimentos especializados. Em vez de empregar o termo "notícias falsas" os autores introduzem um novo quadro conceitual para examinar a desordem da informação: usando as dimensões do dano e da falsidade, descrevem as diferenças entre esses três tipos de informação.
 
Com a campanha #COMBATAFAKENEWS, o Exército Brasileiro se propõe a incentivar o pensamento crítico sobre o assunto, pois a formação de uma consciência dos perigos da desordem informacional é parte da solução.

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