15 Agosto 2021 – 50 anos do fim do Padrão Ouro

15 Agosto 2021 – 50 anos do fim do Padrão Ouro

 

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Agosto 2021

 

Cinquenta anos são passados desde o fatídico discurso do presidente estadunidense Richard Nixon, em 15 de agosto de 1971, no qual ele anunciou medidas radicais para o futuro da economia e da política mundiais. No entanto, não há nada para comemorar.

 

A decisão significou o fim do padrão–ouro; até então, os países detentores de reservas em dólares podiam solicitar a sua conversão em ouro a qualquer momento. Com ela, os EUA estavam livres para “imprimir dinheiro” novamente, sem a obrigação de possuir uma quantidade de ouro equivalente às notas verdes em circulação.

 

Igualmente, foi deixado de lado o regi-me de câmbio fixo, que regulava as relações entre as principais moedas, um dos pilares do sistema de Bretton Woods, criado em 1944.

 

Em lugar dele, foi introduzida a taxa de câmbio flutuante, que sempre esteve e continua sujeita às especulações do mercado de câmbio. Infelizmente, foi também o início da “desregulamentação”.

 

Nos EUA, salários e preços também foram congelados por 90 dias, além de adotada uma tarifa de 10% nas importações. Os controles de preços interromperam temporariamente a inflação, que logo voltou mais forte do que antes.

 

Com a decisão unilateral da flutuação do dólar, iniciou-se um período de instabilidade que levou à desvalorização da moeda estadunidense, o que favoreceu os consequentes choques do petróleo de 1974 e 1979 e, no final da década, levou os juros da Reserva Federal para a casa de 20%, um choque econômico global sem precedentes.

 

A intenção de Nixon era induzir os países industrializados a revalorizar as suas moedas em relação ao dólar, para reduzir o crescente déficit da balança de pagamentos estadunidense. Os efeitos, entretanto, saíram de controle e as coisas aconteceram de forma diferente.

 

As novas “regras do jogo” pavimentaram o caminho para a globalização financeira.

De fato, a situação econômica dos EUA era insustentável, inclusive, devido ao endividamento com a Guerra do Vietnã.

 

As próprias reservas de ouro do país caíram de 24 bilhões de dólares, em 1948, para 10 bilhões, em 1971.

 

Desde então, os EUA têm enfrentado os seus déficits orçamentários e gastos crescentes imprimindo cada vez mais dólares, inundando o mundo com eles.

Em 1971, a relação dívida pública/PIB estadunidense era de 36,2%; hoje, passa de 135%. Sem contar as dívidas das duas gigantes do mercado imobiliário público, Freddie Mac e Fannie Mae, que não foram uma causa secundária da crise de 2008.

 

Durante esse meio século, os EUA têm vivido além das suas possibilidades. Para administrar uma dívida crescente e uma situação financeira cada vez mais precária, os governos estadunidenses mudaram muitas outras regras ao longo do tempo, quebrando todo o conjunto de regras criado pelo presidente Franklin

Roosevelt para superar a Grande Depressão da década de 1930. Em particular, em 1998, foi revogada a Lei Glass-Steagall de 1933, que estabelecia uma separação bancária entre bancos comerciais e de investimento, proibindo os primeiros de usar os depósitos e poupanças de cidadãos em transações financeiras especulativas e de alto risco.

 

Após a Crise de 2008, com as vastas injeções de liquidez (“flexibilização quantitativa”), os muitos desafios planetários, a pandemia de Covid-19 e a crise econômica, está claro que, para evitar perigosas guerras de moedas, será preciso construir um novo

acordo monetário internacional, preferencialmente, um sistema multipolar baseado em uma “cesta estável de moedas” – problema ainda não resolvido.

 

Em seu discurso de 1971, o próprio Nixon falou da “necessidade urgente de se criar um novo sistema monetário internacional”. Talvez ele estivesse mais ciente do que os outros da gravidade de sua decisão.

 

Edição do New York Times de 16 August 1971.

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