Vazamento de discussões de militares alemães sobre Ucrânia

Em videoconferência vazada pela Rússia, altos oficiais debatiam impacto de mísseis Taurus nos combates e fornecimento de dados sobre alvos para ucranianos. Moscou acusa Ocidente de “guerra híbrida” e exige explicações.

(DW) O Ministério alemão da Defesa confirmou neste sábado (02/03) a autenticidade da gravação clandestina de uma conversa confidencial entre altos oficiais da Bundeswehr (Forças Armadas da Alemanha) a respeito da guerra na Ucrânia, vazada pela mídia estatal russa.

“De acordo com nossa avaliação, foi interceptada uma conversa na Aeronáutica. No momento não podemos dizer com certeza se foram feitas mudanças na versão gravada ou escrita que circula nas redes sociais”, informou uma porta-voz da pasta. Em visita a Roma, o chanceler federal da Alemanha, Olaf Scholz, descreveu a questão como “muito séria”, que “agora será investigada forma muito cuidadosa, intensa e rápida”.

Na véspera, Margarita Simonyan, diretora da emissora estatal russa RT, divulgara na plataforma Telegram um suposto áudio entre quatro oficiais alemães, inclusive o chefe da Aeronáutica, tenente-general Ingo Gerhartz. Ao que tudo indica, a gravação foi feita durante uma videoconferência. Segundo a revista alemã Der Spiegel, a reunião virtual se realizou através da plataforma Webex, não de uma linha segura.

As fontes oficiais evitam até agora falar de espionagem. Um dos assuntos discutidos é se mísseis de cruzeiro Taurus seriam capazes de destruir uma ponte – uma aparente alusão à nova ligação entre a península da Crimeia, sob ocupação russa, e o território do país invasor, através do Estreito de Kerch.

Os altos oficiais também debatem como militares alemães poderiam fornecer aos ucranianos informações sobre alvos, sem aparentar estarem diretamente envolvidos no conflito com a Rússia. Há ainda referência a “pessoal in loco” do Reino Unido, em conexão com a mobilização de mísseis de cruzeiro Storm Shadow fornecidos pelo país a Kiev.

“Prova de guerra híbrida do Ocidente”

O presidente do grêmio de controle do Bundestag (câmara baixa do parlamento alemão), Konstantin von Notz, comentou ao serviço de notícias Redaktionsnetzwerk Deutschland: “Se ficar constatado que essa história é verdade, seria um incidente altamente problemático.” O político verde acrescentou ser preciso determinar “se este é um incidente isolado ou um problema estrutural de segurança”.

Falando à emissora de direito público ZDF, o vice-presidente do comitê, Roderich Kiesewetter, da União Democrata Cristã (CDU), de centro-direita, disse crer que a Rússia vazou a interação para pressionar Berlim a não fornecer os Taurus para a Ucrânia: “Um número de outras conversas terá certamente sido interceptado e talvez será revelado mais tarde para beneficiar a Rússia”, antecipou.

Até o momento Scholz tem se recusado a disponibilizar os Taurus para a defesa contra os russos. Poucos dias atrás, argumentou que o alcance das armas e a provável necessidade de assistência por soldados da Bundeswehr eram problemáticos, podendo ser interpretados como uma participação indireta na guerra.

A porta-voz do Ministério do Exterior russo, Maria Zakharova, exigiu da Alemanha uma explicação “imediata”, alegando que o áudio seria prova de uma “guerra híbrida” do Ocidente contra a Rússia.

Ministro acusa Putin de guerra de informação contra Alemanha

Na primeira reação oficial ao vazamento, por uma emissora estatal russa, de informações sensíveis relativas à segurança da Alemanha, o ministro da Defesa Boris Pistorius acusou neste domingo (03/03) Moscou de estar travando uma “guerra de informação”.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, estaria tentando “desestabilizar” a Alemanha, afirmou Pristorius à imprensa. “O objetivo é claramente minar a nossa unidade […], semear a divisão política em casa. Espero sinceramente que Putin não tenha sucesso e que permaneçamos unidos.” O incidente “é muito mais do que apenas a intercepção e divulgação de uma conversa, é parte de uma guerra de informação que Putin está travando”.

Na sexta-feira, Margarita Simonyan, diretora da emissora estatal russa RT, divulgara na plataforma Telegram um áudio de 38 minutos em que quatro altos oficiais alemães, inclusive o chefe da Aeronáutica, tenente-general Ingo Gerhartz, debatiam a possibilidade de fornecer mísseis de longo alcance Taurus para a Ucrânia, o que seria necessário para permitir que as forças locais os utilizassem e o possível impacto deles.

Embaraço para Berlim

No áudio vazado, os oficiais consideram se os mísseis Taurus, de fabricação alemã, seriam capazes de destruir uma ponte – uma aparente alusão à nova ligação entre a península da Crimeia, sob ocupação russa, e o território do país invasor, através do Estreito de Kerch. Eles debatem ainda como se poderia fornecer aos ucranianos informações sobre alvos estratégicos sem se envolver diretamente no conflito com a Rússia.

O conteúdo dessa conversa confidencial é altamente embaraçoso para a Alemanha, que oficialmente se recusa a fornecer os mísseis a Kiev, temendo envolvimento maior na guerra na Ucrânia. Os oficiais também revelam pormenores sobre como o Reino Unido e a França estão ajudando o Exército ucraniano a utilizar os mísseis de cruzeiro Storm Shadow e Scalp-EG, que ambos os países forneceram a Kiev para o combate ao invasor.

No sábado, o Ministério da Defesa alemão confirmou a autenticidade do material. Ao que tudo indica, a gravação foi feita durante uma videoconferência, a qual, segundo a revista alemã Der Spiegel, não teria se realizado através de uma linha segura, mas pela plataforma Webex.

Em visita a Roma, o chanceler federal da Alemanha, Olaf Scholz, descreveu a questão como “muito séria”, prometendo que “agora será investigada de forma muito cuidadosa, intensa e rápida”.

Por sua vez, a porta-voz do Ministério do Exterior russo, Maria Zakharova, exigiu de Berlim uma explicação “imediata”, alegando que o áudio seria prova de uma “guerra híbrida” do Ocidente contra a Rússia.

Incidente isolado ou falha estrutural de segurança?

Até agora as autoridades alemãs têm evitado o termo “espionagem”. A comissária especial do Bundestag (Parlamento) para assuntos militares, Eva Högl, apelou para a necessidade de os altos oficiais militares passarem por treinamento intensivo sobre comunicações seguras.

O presidente do grêmio de controle do Bundestag, Konstantin von Notz, comentou ser preciso determinar “se este é um incidente isolado ou um problema estrutural de segurança”. O vice-presidente do comitê, Roderich Kiesewetter, disse crer que a Rússia vazou a interação para pressionar Berlim a não fornecer os Taurus para a Ucrânia. E antecipou: “Um número de outras conversas terá certamente sido interceptado e talvez vá ser revelado mais tarde, para beneficiar a Rússia.”

Até o momento, Scholz tem se recusado a disponibilizar os mísseis de cruzeiro para a defesa contra os russos. Poucos dias atrás, argumentou que o alcance das armas e a provável necessidade de assistência por soldados da Bundeswehr (Forças Armadas alemãs) eram problemáticos, podendo ser interpretados como uma participação indireta na guerra.

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