Petrobras começa a chamar fornecedores estrangeiros

Fernando Torres e Thais Carrança

A Petrobras já recorre a fornecedores estrangeiros para substituir os 23 grupos empresariais citados nas investigações da Operação Lava-Jato e que estão afastados temporariamente das suas licitações por força do bloqueio cautelar imposto pela estatal. A petroleira informou ao Valor PRO, serviço de notícias em tempo real do Valor, que abriu licitação para recontratar os serviços de construção dos módulos de compressão de gás antes contratados da Iesa Óleo e Gás.

A estatal não informa quais companhias foram convidadas, mas a concorrência se destina a estrangeiras. O contrato com a Iesa foi rescindido pela Petrobras em novembro. Pelo acordo original, de US$ 720 milhões, a Iesa, do grupo Inepar e que está em recuperação judicial, se comprometeu a construir 24 módulos de compressão de gás para seis plataformas flutuantes do pré-sal. A companhia, contudo, não conseguiu cumprir os compromissos assumidos. Os equipamentos vão compor as plataformas P-66, P-67, P-68, P-69, P-70 e P-71 e devem começar a operar entre 2016 e 2018, em Lula e Iara, no pré-sal da Bacia de Santos.
Assuntos relacionados

O contrato original com a Iesa foi rescindido em meio a citações da empresa na Operação Lava-Jato. A adoção da medida cautelar, no fim do ano passado, tem por finalidade resguardar a petroleira e suas parceiras de danos de difícil reparação financeira e de prejuízos à sua imagem. A ação foi tomada após a direção da companhia ter tido acesso ao conteúdo dos depoimentos da delação premiada do ex-diretor de Abastecimento da empresa, Paulo Roberto Costa, e dos depoimentos do doleiro Alberto Yousseff e dos executivos da Toyo Setal, Augusto Mendonça Neto e Julio Camargo.

A Petrobras admitiu, em nota, que poderia recorrer a fornecedores externos para dar sequência a seu plano de investimentos e que buscaria alternativas caso se constatasse algum obstáculo ao cumprimento das metas de conteúdo local.

Além dos módulos, a decisão da estatal de afastar temporariamente de suas licitações as principais empreiteiras nacionais poderá ter impacto também outras concorrências de projetos em curso.

A Petrobras deverá ir ao mercado nos próximos meses para recontratar as obras de construção e montagem de uma unidade de fertilizantes em Três Lagoas (MS). Em dezembro, a estatal rescindiu o contrato com o consórcio formado pela chinesa Sinopec e a brasileira Galvão Engenharia, por descumprimento dos termos do acordo.

Grupo da Lava-Jato devia R$ 35 bi em 2013
 

Um grupo de oito empresas citados na Operação Lava-Jato e que estão proibidas de participar de licitações da Petrobras possuía uma dívida bruta somada de R$ 35,3 bilhões ao fim de 2013, conforme levantamento do Valor.

Desse total, R$ 9,55 bilhões eram em operações bancárias, incluindo repasses do BNDES, R$ 6,27 bilhões em notas promissórias e debêntures e R$ 19,56 bilhões em bônus e financiamentos de longo prazo no exterior.

Entraram no levantamento, feito com base em dados da ferramenta Valor Empresas, do Valor PRO, serviço de informação em tempo real do Valor, as dívidas de OAS, UTC Participações, Galvão Participações, Engevix, Mendes Júnior Trading e Engenharia e Iesa, além de Camargo Corrêa e Odebrecht, que tiveram tratamento específico. No caso da Camargo, que não divulga balanço consolidado do grupo, entraram na conta as dívidas da holding principal (CCSA) e da Camargo Corrêa Construção e Comércio. Na Odebrecht, foram consideradas as dívidas apenas da construtora (CNO) e da divisão de óleo e gás, que aluga embarcações para a Petrobras. Não foram encontrados dados de dívida da Queiroz Galvão, seja dos segmentos de engenharia e óleo e gás.

Na sexta-feira, a Fitch alertou que é elevado o risco de que outras construtoras brasileiras, além da OAS, deem calote nas suas dívidas nos próximos meses – ainda que para preservar liquidez – e que diversos rebaixamentos de notas de crédito devem ocorrer.

Para essas empresas, acessar linhas de crédito, receber pagamento por projetos concluídos e ter reconhecidos recebíveis relacionados a emendas contratuais têm se tornado cada vez mais difícil, avalia a agência, que colocou todas as empresas do setor no Brasil em revisão para possível rebaixamento em novembro.

No levantamento do Valor, a maior dívida é da Odebrecht, de R$ 20,41 bilhões, sendo R$ 9,73 bilhões da construtora e R$ 10,69 bilhões da unidade de óleo e gás. A maior parte da dívida da construtora se refere a uma emissão de R$ 7,36 bilhões em bônus no exterior, cujo próximo pagamento relevante se dará em 2025. O Valor apurou que a CNO, por ser geradora de caixa, entrou como garantidora de uma captação que teve os recursos destinados a outros negócios do grupo.

No caso da divisão de óleo e gás da Odebrecht, a maior dívida é um bônus no exterior, com valor de R$ 6,71 bilhões em dezembro de 2013. Outra fatia relevante, de R$ 2,3 bilhões, é identificada como financiamentos de longo prazo em moeda estrangeira. Conforme o Valor apurou, as embarcações são dadas em garantia para os financiamentos.

A OAS, que deixou de pagar parte de seus compromissos, tem a segunda maior dívida entre as empresas do levantamento, no valor de R$ 7,86 bilhões, sendo R$ 3,19 bilhões em títulos no exterior, R$ 2,65 bilhões em debêntures e R$ 2,02 bilhões em bancos locais.

Somadas as duas empresas da Camargo incluídas no levantamento, ela aparece na terceira posição, com dívida de R$ 2,09 bilhões em dezembro de 2013, sendo R$ 1,71 bilhão em debêntures.

Em seguida vem a Galvão Participações, que tinha dívida de R$ 1,92 bilhão, sendo R$ 1,31 bilhão em debêntures e promissórias. Outra que também tem debêntures é a UTC, no valor de R$ 613 milhões, que integram uma dívida total de R$ 1,21 bilhão.

A Engevix, a Iesa e a Mendes Júnior tinham apenas dívida bancária, de R$ 1,28 bilhão, R$ 359 milhões e R$ 246 milhões, respectivamente.

Compartilhar:

Leia também

Inscreva-se na nossa newsletter