De Marinheira a Almirante: a presença da Mulher na Marinha

Até 2024, elas estarão incluídas em todos os Corpos, escolas e centros de instrução da Força

Por Primeiro-Tenente (RM2-T) Luciana Almeida – Brasília, DF

As mulheres contabilizam cada vez mais conquistas profissionais na carreira militar. Nos últimos dez anos, grandes mudanças foram feitas pela Marinha do Brasil (MB) para que elas ocupassem cargos que eram, tradicionalmente, exclusivos dos homens. Até 2024, estarão incluídas em todos os Corpos, escolas e centros de instrução da Força. 

Neste ano, ocorreu o ingresso das primeiras mulheres na Escola de Aprendizes-Marinheiros de Santa Catarina (EAMSC), o acesso da primeira turma de alunas no Colégio Naval e a primeira vez que mulheres poderão prestar concurso para Soldados Fuzileiros Navais.

A futura marinheira, Laila Izabel Gonçalves Lisboa, de 19 anos, conta que escolheu essa carreira por influência do pai, que também é da Marinha do Brasil. “Meu pai sempre conversou comigo sobre o trabalho dele, o que ele faz, me levava para os eventos da Força. Então, convivendo naquele ambiente, me despertou o interesse para também ser militar”, compartilha. Agora, suas metas são terminar o curso de formação e crescer na carreira. “Minha expectativa é alta. Pretendo crescer profissionalmente, dar o meu melhor, ser uma ótima militar e sempre estar apta a evoluir na carreira. E para mulheres que queiram prestar o concurso, digo que essa é uma profissão excelente, é uma porta que se abriu para nós mulheres. Então, não tenham dúvidas, estudem, se dediquem, foquem, porque vocês vão conseguir vir pra cá”, incentivou.

Na EAMSC, as principais mudanças realizadas para receber as futuras militares foram a criação de banheiros femininos no prédio principal e no laboratório de física e química; o alojamento para mulheres, que já existia, foi redimensionado, e todas as normas internas foram revisadas, a fim de adequar a rotina da escola a essa nova realidade. “Eu e toda minha tripulação viemos nos preparando há quase um ano para que elas, as candidatas a aprendizes, fossem recebidas com a melhor infraestrutura e apoio possíveis”, explicou o Comandante da EAMSC, Capitão de Fragata André Luiz Vilela de Assis.

Sophia Gomes Marinho, uma das alunas que ingressaram no Colégio Naval em 2023 – Imagem: Marinha do Brasil

Já no Colégio Naval, 12 candidatas foram aprovadas no concurso que, pela primeira vez, recebeu mulheres na instituição de Ensino Médio da Força. O ingresso das alunas foi cuidadosamente planejado. Algumas obras e serviços foram realizados, como a criação de um alojamento feminino; a instalação de câmeras de segurança no entorno desse alojamento; a adaptação da enfermaria, entre outras medidas.

Recentemente, a primeira militar formada pela Escola Naval, no Corpo de Fuzileiros Navais, foi a Guarda-Marinha (Fuzileiro Naval) Helena de Souza Monteiro, que afirma ser motivo de orgulho a oportunidade dada pela Força. “Meu sonho era entrar na Escola Naval, me tornar oficial da Marinha. E, quando ingressei na Escola, pude conhecer os Corpos, inclusive o de Fuzileiros Navais, que foi o que eu escolhi. Tenho muito orgulho de fazer parte dessa história”, afirmou.

Helena Monteiro, primeira Fuzileiro Naval formada pela Escola Naval – Imagem: Marinha do Brasil 

Histórico
A trajetória de pioneirismo das mulheres na Marinha foi um processo gradual, iniciado em 1980, com a criação do Corpo Auxiliar Feminino da Reserva da Marinha. Na década de 90, houve uma reestruturação de Corpos e Quadros, que amplia a participação das mulheres em cargos de Direção, Comando e Comissões. Em 2012, a primeira militar brasileira foi promovida ao posto de Oficial-General das Forças Armadas, a Contra-Almirante (Médica) Dalva Maria Carvalho Mendes, e, em 2018, ratificada com a inclusão de mais uma militar no círculo de Oficiais-Generais, a Contra-Almirante (Engenheira Naval) Luciana Mascarenhas Da Costa Marroni. 

Em 2014, 12 jovens entraram para a história da MB, por integrarem a primeira turma de Aspirantes femininas admitidas na Escola Naval, a mais antiga instituição de ensino superior do País. Em 2017, uma lei concedeu a oportunidade de as mulheres poderem ingressar no Corpo da Armada e no Corpo de Fuzileiros Navais da Escola Naval, além do Corpo de Intendentes da Marinha, opção que já era possível anteriormente. “Pertencer à primeira turma de mulheres a ingressar na Escola Naval é motivo de muito orgulho, por quebrar paradigmas e ter a importante tarefa de abrir novas portas de oportunidades para as mulheres, mostrando sua força e dedicação”, afirma a Primeiro-Tenente (Intendente da Marinha) Maria Carolina Dias Cavalcante Costa, da turma de 2017.

Contra-Almirante (Engenheira Naval) Luciana Mascarenhas da Costa Marroni – Imagem: Marinha do Brasil

As mulheres podem ingressar na Marinha das seguintes formas:

– Colégio Naval;

– Escolas de Aprendizes-Marinheiros;

– Escola Naval;

– Corpo Auxiliar de Praças;

– Corpo de Saúde: Quadro de Médicos, Quadro de Apoio à Saúde e Quadro de Cirurgião-Dentista;

– Corpo Auxiliar da Marinha: Quadro Técnico e Quadro de Capelães Navais, quando a religião permitir;

– Corpo de Engenheiros da Marinha;

– Quadro Complementar de Intendentes da Marinha;

– Serviço Militar Voluntário de Praças Temporárias  – Marinheiro Especializado;

– Serviço Militar Voluntário de Praças Temporárias – Cabo;

– Serviço Militar Voluntário de Oficiais Temporários RM2;

– Serviço Militar Voluntário de Oficiais Temporários RM3;

– Soldado Fuzileiro Naval; e

– Sargento Músico Fuzileiro Naval. 

Saiba mais em https://www.marinha.mil.br/ingresso-na-marinha

Principais posições ocupadas pelas mulheres na Marinha

Nessa trajetória, as mulheres militares já conquistaram posições importantes, como as funções de Diretora de Organizações Militares, Chefe do Destacamento do Posto Oceanográfico da Ilha da Trindade e Subchefe da Estação Antártica Comandante Ferraz. Também houve a participação feminina na Força-Tarefa Marítima na Força Interina das Nações Unidas no Líbano e na Missão de Paz das Nações Unidas na República Centro-Africana, que resultou no prêmio, por dois anos consecutivos, de Defensora Militar da Igualdade de Gênero da Organização das Nações Unidas, pelo trabalho realizado como assessora militar de gênero. Além disso, as mulheres compõem a tripulação dos meios da Esquadra, dos Navios da Esperança e dos Navios de Apoio Oceanográfico e Polar, no apoio à pesquisa científica no Continente Antártico.

Fonte: Agência Marinha de Notícias

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