Brasil na vanguarda científica: os 40 anos da Estação Antártica Comandante Ferraz

Base presta apoio a 15 projetos de pesquisa

Por Segundo-Tenente (RM2-T) Leonardo Sá – Brasília, DF

As espessas camadas de gelo e neve que recobrem a Antártica preservam a história do planeta. O Continente Branco configura-se como um arquivo natural que contém informações sobre as mudanças climáticas, biológicas, marinhas e geológicas que ocorrem ao longo de milhares de anos. Com temperaturas extremamente baixas e condições climáticas únicas, a região oferece um ambiente ideal para estudos científicos de diversas áreas do conhecimento.

Naquela área polar, a Marinha do Brasil (MB) mantém a Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF), que completa 40 anos de existência nesta terça-feira (6). Localizada na Ilha Rei George, Baía do Almirantado, a EACF reúne militares e pesquisadores que se dedicam em decifrar os enigmas do ecossistema antártico, em busca de descobertas científicas que só poderiam ser feitas na região.

Atualmente, a Estação dá suporte a 15 dos 24 projetos de pesquisa da 42ª Operação Antártica (OPERANTAR XLII), organizada pelo Programa Antártico Brasileiro (PROANTAR). Entre estudiosos da Biologia, Oceanografia, Medicina e outros campos, a estação brasileira deve receber 63 pesquisadores até o fim desta edição da operação. Cinco desses cientistas são estrangeiros, sendo três mulheres oriundas do Chile, Equador e Irã, respectivamente.

Segundo o Chefe do Grupo-Base da EACF, Capitão de Fragata Wagner Oliveira Machado, a base é essencial para o impulsionamento mundial da pesquisa científica brasileira. “Ao longo dos últimos 40 anos, os trabalhos realizados na Estação Antártica Comandante Ferraz se consolidaram em pesquisas transdisciplinares e interinstitucionais, permitindo a realização de ciência de forma colaborativa e participativa, em cooperação nacional e internacional.”

A manutenção de instalações de ponta no extremo sul do planeta é um fator indispensável para a continuidade da produção científica nacional na região. “O Brasil vem sendo uma das grandes referências mundiais nas publicações em periódicos e mídias de alto impacto. Esse protagonismo é fundamental para mantermos nosso status de Membro Consultivo no Sistema do Tratado Antártico”, acrescentou o Capitão de Fragata Machado.

Defesa do progresso científico

Um dos trabalhos que utilizam a EACF como base principal de pesquisas é o Projeto Mephysto, que investiga a distribuição de organismos na Confluência Brasil-Malvinas, além do fluxo de plásticos através da Passagem de Drake, entre o Oceano Pacífico e o Atlântico. Os cientistas do programa também buscam entender como acontece a transmissão de água e poluição entre a Baía do Almirantado e o Estreito de Bransfield.

“A existência da Estação Antártica é fundamental para que nós consigamos ter apoio para a coleta e análise das nossas amostras. Então, ela funciona como um porto seguro para realização dos estudos. Com as instalações avançadas, a EACF garante a execução dos trabalhos in loco”, destacou Moacyr Araújo, Coordenador do Projeto Mephysto e Vice-Reitor da Universidade Federal de Pernambuco.

A MB é responsável por garantir a eficiência e segurança das expedições. Além da montagem de acampamentos científicos, a Força faz o transporte de pesquisadores, equipamentos, suprimentos e materiais colhidos em campo, por meio do Navio de Apoio Oceanográfico “Ary Rangel” e do Navio Polar “Almirante Maximiano”.

“O suporte logístico da Marinha do Brasil é o pilar principal que sustenta as pesquisas realizadas na Antártica. É absolutamente necessário que a gente continue a ter esse apoio para a continuidade do Programa Antártico Brasileiro”, acrescentou Moacyr Araújo.

Reconstrução

A EACF passou por uma grande reestruturação e abriu as portas, novamente, em janeiro de 2020, quando passou a contar com 17 laboratórios, sendo 14 no edifício principal e três em módulos isolados, além das áreas técnicas, de convivência e de operação. A Estação é considerada, hoje, a mais moderna e segura entre as demais instaladas no Continente Antártico.

Após a reconstrução, a EACF passou a contar com mais de 900 m². Abastecida por energia limpa, a nova estação é constituída com material totalmente recuperável e transferível para outras localidades. O espaço possui capacidade de acomodar 66 pessoas em 45 módulos adaptados para o trabalho no ambiente polar.

Histórico

O Brasil aderiu ao Tratado Antártico em 1975 e a EACF começou a tomar forma em 1982, com a primeira edição da OPERANTAR. A expedição foi essencial para a aquisição de informações sobre a localidade, as restrições logísticas e as mais adequadas técnicas para a construção da base científica.

A inauguração da Estação Antártica aconteceu dois anos depois, em 6 de fevereiro de 1984, na Ilha Rei George, durante a OPERANTAR II. No verão daquele ano, durante 32 dias, 12 militares do Grupo-Base guarneceram a estrutura composta por 8 módulos, que totalizavam 150 m².

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