Otan discute missão no Afeganistão após retirada francesa

Os ministros de Defesa da Otan analisarão na quinta e sexta-feira a situação no Afeganistão, em reunião realizada após a França anunciar que antecipará a retirada de suas tropas de combate e depois que a divulgação de um relatório tenha voltado a alimentar a suspeita de que o Paquistão apoia os talibãs. A inesperada decisão do presidente francês, Nicolas Sarkozy, de acelerar a saída das forças francesas do Afeganistão, deveria ser um dos principais pontos de discussão, embora a Aliança Atlântica insista que o movimento de Paris não mudará o rumo do encontro.

Sarkozy anunciou na última sexta-feira que as forças de combate francesas finalizarão sua retirada no final de 2013, um ano antes do previsto, depois de na semana passada o Governo de Paris ter suspendido temporariamente as operações de formação do Exército afegão em resposta ao assassinato de quatro soldados franceses nas mãos de um militar do país. Além disso, o chefe do Eliseu pediu à Otan "uma reflexão sobre o fato de que o Exército afegão assuma totalmente o comando das missões de combate ao longo de 2013", frente ao prazo de 2014 fixado pelos aliados.

A Aliança Atlântica, no entanto, insistiu que manterão o caminho traçado em 2010 em sua cúpula de Lisboa. Segundo fontes aliadas, a maior parte dos parceiros continua comprometida com a data de 2014 como a adequada para completar o processo de transição. Os ministros terão nos próximos dias várias ocasiões para analisar a situação afegã, tanto na reunião da Otan como com o resto de países que apoiam sua operação Isaf, na sexta-feira.

Além disso, os responsáveis dos dez maiores contribuintes ao operacional no Afeganistão realizarão nesta quinta-feira um encontro prévio à reunião ministerial convocada pelos Estados Unidos, segundo afirmaram fontes diplomáticas. As discussões dos ministros sobre o Afeganistão chegam um dia depois que o vazamento de um relatório confidencial da própria Otan questionou o êxito de sua missão e voltou a despertar dúvidas sobre o papel do Paquistão.

O documento, que recolhe testemunhos de prisioneiros insurgentes, afirma que os talibãs se preparam para recuperar o poder, uma vez que as forças internacionais deixem o país. A porta-voz da Aliança, Oana Lungescu, diminuiu a importância do conteúdo do texto e ressaltou que se trata do que os talibãs capturados "pensam e querem que pensemos".

Sobre o suposto apoio dos serviços secretos paquistaneses à insurgência, lembrou que não é a primeira vez que essas acusações são feitas, e portanto as informações não representam "nada de novo". A Otan quer aprovar na cúpula que realizará em Chicago em maio sua estratégia para o Afeganistão a partir de 2014, que passa principalmente por garantir que as forças de segurança do país tenham preparação e financiamento suficiente para controlar a situação.

A Aliança espera que outras potências internacionais deem também dinheiro para o Exército e a Polícia afegãos, uma despesa que atualmente é assumida principalmente pelos Estados Unidos. Além disso, no Afeganistão, está previsto que os ministros da Defesa aproveitem seu encontro para repassar outros assuntos que chegarão na mesa dos líderes da organização em Chicago, como a defesa antimísseis e a reforma das estruturas da Otan.
 

EUA esperam encerrar missões de combate em 2013

Os Estados Unidos esperam que na "segunda metade de 2013" passem de uma missão de combate para uma missão de treinamento e assistência no Afeganistão, afirmou nesta quarta-feira o secretário americano de Defesa, Leon Panetta. Panetta disse que Washington deseja ver todos os países da Otan que participam da mesma missão no Afeganistão, entre eles a França, "respeitar" a estratégia elaborada na Cúpula de Lisboa de novembro de 2010, que previu colocar fim à transição da responsabilidade da segurança para as forças afegãs em 2014.

"Podemos esperar que até a metade de 2013 e na segunda parte do ano, passaremos de um papel de combate para um papel de capacitação e de assistência", afirmou o chefe do Pentágono, a bordo de um avião que lhe levou a Bruxelas para uma reunião ministerial da Otan. "Fomos juntos e saímos juntos, mas devemos fazê-lo sobre a base de uma aliança de grande alcance e do firme compromisso contraído em Lisboa", completou.

Os progressos realizados no ano passado pela coalizão internacional contra os talibãs e o desenvolvimento do exército afegão deve consolidar-se este ano, ressaltou Panetta. Segundo ele, o ano de 2013 será "crucial" para terminar a transição nas áreas que restam e passá-las para as mãos das forças afegãs. Sobre o número de soldados americanos que permanecerão mobilizados no Afeganistão em 2013, Panetta declarou que "não há nenhuma decisão" adotada ainda por parte de seu governo. Atualmente, há no território afegão cerca de 90.000 efetivos, que devem passar a 68.000 no fim do verão do Hemisfério Norte.

Com Agências: EFE e AFP

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