Alemanha – Em busca do IV Reich

GRAÇA MAGALHÃES-REUTHER


BERLIM- Björn Höcke, de 43 anos, tornou-se popular em toda a Alemanha em pouco tempo como um dos principais líderes da nova extrema-direita. Em consequência da crise dos refugiados, o seu partido Alternativa para a Alemanha (AfD, sigla do nome em alemão) subiu em pouco tempo de 5% para 8% das preferências de voto.

Höcke, presidente do AfD na Turíngia, reúne todas as semanas milhares de pessoas em eventos onde fala sobre “a ameaça da violência dos homens muçulmanos contra as mulheres louras alemãs”. Setenta anos depois do fim da Segunda Guerra Mundial e da morte do ditador Adolf Hitler, ele é aplaudido pelo povo quando fala sobre a Alemanha de mil anos, em referência ao “Reich de mil anos” dos nazistas. Pela terminologia, o estilo carismático e a capacidade de angariar a cada semana milhares de novos adeptos, Höcke começa a ser chamado de “novo Hitler”, embora, como lembra o cientista político Christoph Giesa, não exista nenhum perigo de a extrema-direita voltar a conquistar o poder no país.

Höcke e seus colegas são considerados “cidadãos perigosos” por alguns, mas autoridades de segurança consideram maior o perigo que vem dos seus adeptos, bem como os seguidores do Pegida, que têm tornado as cidades alemãs palcos da violência diária contra imigrantes, refugiados, políticos e jornalistas.

— Estamos muito preocupados com a nova tendência, que faz políticos e jornalistas vítimas da violência e deixa abrigos de refugiados em chamas — afirmou Thomas Oppermann, chefe dos socialdemocratas no Parlamento alemão.

RESISTÊNCIA AO MULTICULTURALISMO

Ontem, cerca de cinco mil adeptos do AfD, do PEGIDA (Patriotas Europeus contra a Islamização do Ocidente) e neonazistas foram às ruas de Berlim protestar contra a política de refugiados de Angela Merkel. Separados de uma contramanifestação de ativistas da esquerda, os direitistas levavam faixas com críticas ao governo, como “cartão vermelho para Merkel”, “Nós somos o povo” ou “Imprensa mentirosa”. Esta última, “Lügenpresse”, foi inspirada no ministro da propaganda de Hitler, Joseph Goebbels.

— Somos a resistência do povo alemão contra um governo chefiado por Merkel — disse Höcke num dos seus discursos panfletários, nos últimos dias.

Para o cientista politico Hajo Funke, da Universidade Livre de Berlim, os discursos carregados de ódio dos líderes da extrema-direita e os atentados lembram as ações de agitação das SA (Sturmabteilung, departamento de ataque), tropas paramilitares do partido nazista nos anos 1920.

— Certamente a Alemanha de hoje, uma democracia estável, o que não era antes da ditadura nazista, não corre o risco de ser dominada por essa extremadireita, mas o fenômeno não deixa de ser motivo de preocupação — alerta Funke.

Ao lado de outros líderes da nova extrema-direita, como Frauke Petry, de 40 anos, e Alexander Gauland, 74, do mesmo partido, ou Lutz Bachmann, 42, fundador do Pegida, Höcke comanda o ataque verbal contra a democracia alemã, tendo como alvo principal Merkel, “traidora da pátria” por ter aberto as fronteiras para os fugitivos da guerra civil síria.

No plano europeu, o AfD e o Pegida são parecidos com o movimento Génération Identitaire, que começou na França há três anos e tem como principal conteúdo e ideologia a mesma “pureza racial” pregada pelos nazistas.

Tendo como emblema a cruz gamada, inspirada na suástica do Partido Nazista, os líderes do grupo, forte também na Áustria, costumam convocar os adeptos a prestarem serviço voluntário nas fronteiras, para evitar a entrada de fugitivos na Europa. Höcke defende ainda a “pureza étnica” — no sentido de considerar alemães apenas os que são filhos de pai e mãe alemães.

Para Christoph Giesa, coautor do livro “Gefährliche Bürger” (“Cidadãos perigosos”), sobre a nova extrema-direita, a minoria está crescendo em número e em potencial de perigo. Antigamente, os neonazistas ateavam fogo aos abrigos de refugiados quando eles ainda estavam desabitados, antes da chegada dos moradores. As exceções foram os incêndios nas cidades de Solingen, Mölln e Rostock, no início dos anos 1990, matando habitantes turcos na onda de nacionalismo que ocorreu logo depois da Reunificação Alemã. Os últimos incêndios criminosos — foram mais de cem atentados contra abrigos em 2015 — tentariam ser uma nova edição dos massacres.

CÂMARAS DE GÁS SÃO LEMBRADAS

Segundo o Departamento Criminal Federal, atentados da extrema-direita triplicaram em 2015. De janeiro até o último dia 2, foram 560 contra “apenas” 200 em 2014. Ataques a abrigos de refugiados tornaram-se tão rotineiros a ponto de deixarem de ser notícia nos jornais do país.

Só quando as vítimas da agressão são pessoas conhecidas, como profissionais dos jornais “Der Tagesspiegel” e “Die Welt”, o caso é mais abordado pela imprensa. Mas Giesa considera o aumento do potencial de perigo o pior aspecto.

— O agressor da então candidata à prefeitura de Colônia, Henriette Reke (eleita), Frank S., era neonazista há 30 anos. Se antes concentrava sua agressividade em ataques verbais, agora ele se inspira nas SA. Agrediu uma política que defendia a abertura de fronteiras. Julga encontrar na sociedade o terreno propício para aceitar seu ato.

Giesa divide os “cidadãos perigosos” em típicos neonazistas, como Frank S., que levam em conta “pôr em risco sua existência burguesa para poder expressar com violência todo o seu ódio contra a democracia”, aos intelectuais, como Alexander Gauland, vice-presidente nacional do AfD, ou Frauke Petry, sua presidente. O AfD nasceu como partido antieuropeu, mas logo se tornou a voz da nova extrema-direita.

Mesmo quem nasceu na Alemanha, mas é filho de imigrantes, é alvo da aversão. Enquanto o AfD procura disfarçar suas verdadeiras ideias, o Pegida tem estilo mais direto, talvez porque o seu fundador, Lutz Bachmann, de 42 anos, tenha um passado criminoso: cumpriu pena de prisão por roubo.

— Os refugiados devem ser expulsos do país, já que as câmaras de gás estão desativadas — disse um participante em evento do Pegida, provocando aplausos dos presentes e consternação entre democratas.

Os dois partidos do governo (CDU/ CSU e SPD) e os dois da oposição (Verdes e A Esquerda) superaram diferenças para protestar contra um inimigo comum: o AfD. Mostram ao mundo que a extrema-direita está crescendo, mas a maioria dos alemães é democrática.

Nota DefesaNet

O presente texto segue a linha editorial da revista alemã Der Spiegel. Para protestar contra o PEGIDA e sua "xenofobia" contra "imigrantes" produziu um violento atque xenófobo ao PEGIDA e outros movimentos (ver  The German Lynchmob: Islamophobe Movement Returns With a Vengeance – Der Spiegel 14 Outubro 2015, publicado na página em inglês de DefesaNet)

 

Chancellor Angela Merkel has shown a soft side in the refugee crisis.

Capa da Revista Der Spiegel edição 19 Setembro 2015. Um factóie criado pelo governo / imprensa alemã que entrou em crise pela própria dinâmica dos acontecimentos.
 

A Chanceler Angela Merkel, sob a qual paira a eterna suspeita de ter sido uma das "Fraulein" do mestre espião da STASI Markus Wolf (ver Markus Wolf – Morre ex-chefe da STASI da RDA), agiu no estilo Obama: "we can do It".

Porém, os desacertos, a pressão colocada nos outros paises europeus e em especial a própria prepotência do governo alemão frente aos seus cidadãos.

Hoje, o próprio governo alemão e boa parte da imprensa usa a movimentação e tdesconforto daa população alemã, cira seus reclamos como atos xenófobos para desvirtuar o oportunismo estratégico e comercial alemão em atender ao grande de parceiro de negócios, a Rússia de Putin.


At a protest on Oct. 10 held by the Alternative for Germany, a right-wing populist party, in Freilassing, the a border city where many of the thousands of refugees are arriving, a demonstrator held up a sign reading:

Reação popular contra a Chanceler Angela Merkel


Em tempo é próprio ministro do interior alemão (que gerencia as agências de segurança e inteligência no âmbito do país), Thomas de Maizière tem alertado, de forma veemente, que a situação está fugindo ao controle.

Só que os fatos transscorrem de maneira diferente desde o início e hoje a própria imprensa, que apoia a Chanceler fala no fim "da era Merkel".

O Editor

 

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