EB: Nós e as Instituições Permanentes

Publicado: EBlog (blog oficial do Exército), terça, 15 de Março de 2016, 17h15

 

General-de- Exército Alberto Mendes Cardoso

Oficial General da Reserva do Exército e Ex-Ministro do Gabinete

de Segurança Institucional da Presidência da República

A Constituição Federal estabelece que as Forças Armadas brasileiras são instituições nacionais permanentes. Bastaria percorrer a história para constatar que realmente Marinha, Exército e Força Aérea mantêm ininterruptas suas linhas de vida, desde a criação oficial.

Assim deve ocorrer com a quase totalidade das forças armadas no mundo; cada país com suas peculiaridades. No caso brasileiro, as marcas fortes dessa sustentabilidade passam por algumas reformas administrativas e organizacionais, por evoluções doutrinárias, pela fidelidade à Pátria, pelo nacionalismo, por representatividade étnica do povo, por vitória nas guerras, pelos altos índices de credibilidade.

Mas o esteio fundamental, que origina todos os mencionados e outros mais, sempre esteve no pessoal que compõe nossas Forças. Na prática, elas se fazem permanentes pela consistência e sustentação que lhes dá o seu pessoal em todos os níveis, imbuído do sentimento de corresponsabilidade pelo cumprimento da destinação constitucional.

Esse efeito de pilar mestre decorre do forte compartilhamento dos valores da cultura militar, que se enraízam na vida de cada membro e se irradiam periférica e profundamente, como se fossem um dos sistemas orgânicos, e se tornam imanentes à personalidade. E, a partir dessas fontes individuais, irradiam-se para todo o conjunto de camaradas, gerando uma espécie de unidade de pensamento e conduta por identificação cultural. Mas não só isso.

Somos instituições permanentes também pela razão fundamental de que damos aplicação aos valores internalizados e os mantemos ativados. Nós realmente praticamos os valores militares. E, assim, pelo uso permanente, os fortalecemos. Não permitimos que se tornem letra morta de nosso Estatuto. As gerações de militares que se sucedem fizeram e continuam fazendo com que os valores “peguem” e não fiquem apenas posando como ideário, sem nunca virem a ser.

Ainda jovens, ao ingressarmos nas Forças Armadas, trazemos conosco uma base de ideias éticas e comportamentos moralmente bons, aprendidos anteriormente, mas, na maior parte dos novos militares, ainda não consolidados. A ética e a moral militar, em que então nos engolfamos, se encarregarão de completar a aprendizagem de valores, os quais passam a compor o eu de cada um e de todos, dando-nos unidade, coesão e orgulho por sermos militares – traços que se integram em espírito de corpo.

Selecionando poucos exemplos das consequências dessa imersão plena na cultura militar, tomemos os tão caros e arraigados valores verdade e probidade. Em curto tempo na caserna, ser veraz e honesto no íntimo, na palavra e nos atos transforma-se em virtude que reforça o que já sabíamos ser correto. Para os que permanecem na atividade militar, verdade e probidade enraízam-se de tal forma nas atitudes interiores que tornam impossível aceitarmos a mentira e a corrupção como simples malfeitos toleráveis.

Esse mesmo processo se aplica a patriotismo, à responsabilidade, a dever, à camaradagem e a outros pilares da cultura e, por via desta, das instituições militares. Isso gera uma massa de profissionais conscientemente imbuídos dos mesmos valores, que, por si sós, garantem às Forças o caráter constitucional de instituições permanentes, não importando as dificuldades conjunturais de quaisquer ordens e monta.

O artigo constitucional que nos impõe disciplina e hierarquia como bases organizacionais nos aponta um norte nos momentos em que consideramos afrontados os nossos valores. O rumo indicado é o da confiança nos camaradas ocupantes de postos na cadeia de comando, tendo sempre em mente que todos temos a mesma formação ética e moral, a mesma participação no fortalecimento e na sustentação do caráter permanente das instituições militares e a mesma certeza de que só somos fortes quando unidos. Essa confiança nos chefes ajuda a aceitar, sem angústia, que são necessariamente diferentes os níveis de conhecimento dos fatos e das providências em andamento.

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