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Presidente do Haiti assassinado: de onde são os mercenários estrangeiros presos pelo ataque a Jovenel Moïse

Um grupo composto em sua maioria por ex-soldados colombianos assassinou o presidente do Haiti, Jovenel Moïse, no início desta semana, informou a polícia haitiana.

O esquadrão da morte é composto por 26 colombianos, identificados pelo passaporte, e dois americanos de origem haitiana, disse o chefe de polícia Léon Charles aos repórteres.

"Os estrangeiros vieram ao nosso país para matar o presidente", afirmou.

Segundo Charles, 15 colombianos foram capturados, além dos dois haitianos americanos, identificados como James Solages e Joseph Vincent.

Três dos agressores morreram durante troca de tiros com a polícia na capital haitiana, Porto Príncipe, e oito escaparam, disse ele.

"Vamos fortalecer nossa investigação e técnicas de busca para interceptar os outros oito mercenários", acrescentou.

As autoridades divulgaram um vídeo que mostra 15 homens algemados sentados no chão contra a parede, enquanto a polícia coloca objetos apreendidos sobre uma mesa.

Entre os objetos, estão munição, dólares, fuzis de assalto, facões, rádios de comunicação bidirecional, alicate de corte, colete à prova de balas, duas placas de veículos de aluguel e vários telefones celulares.

"Era um comando completo e bem equipado, com mais de seis carros e muito equipamento", disse o ministro das Eleições e Relações Interpartidárias do Haiti, Mathias Pierre.

Segundo a mídia haitiana, os detidos norte-americanos alegaram que foram contratados como "tradutores" para os colombianos.

O assassinato de Moïse, ocorrido na madrugada de quarta-feira (7/7), causou comoção internacional e levou o governo haitiano a declarar estado de sítio por 15 dias.

O grupo de homens armados invadiu a casa do presidente e atirou nele e em sua esposa. Moïse foi encontrado deitado de costas com 12 ferimentos a bala e morreu no local, segundo as autoridades.

Sua esposa Martine ficou gravemente ferida e foi levada de avião para o Estado da Flórida, nos Estados Unidos, para tratamento, onde ela estaria estável.

Ainda não está claro quem planejou o ataque nem sua motivação. O primeiro-ministro interino do Haiti, Claude Joseph, no entanto, disse à BBC que o presidente de 53 anos pode ter sido o alvo porque estava lutando contra "oligarcas" no país.

Joseph que "mercenários estrangeiros" realizaram o ataque, e que não sabia se havia uma ligação entre eles e os oligarcas. Os primeiros relatórios afirmavam que os agressores falavam inglês e espanhol — as línguas oficiais do Haiti são o francês e o crioulo.

Charles, o chefe de polícia, disse que as autoridades haitianas estão investigando quem são os mentores por trás da morte de Moïse.

Moïse, de 53 anos, era profundamente impopular entre muitos haitianos e tinha diversos oponentes políticos. O Haiti também vinha sofrendo com graves conflitos entre gangues.

Confirmação da Colômbia

O Departamento de Estado dos EUA disse não poder confirmar se algum de seus cidadãos foi detido.

O governo colombiano, por sua vez, confirmou que pelo menos seis pessoas do grupo de estrangeiros capturados ou mortos no Haiti são membros aposentados de suas forças armadas.

"Inicialmente, as informações indicam que são cidadãos colombianos, membros aposentados do Exército Nacional", disse o ministro da Defesa, Diego Molano, em nota.

O ministro indicou que a Interpol havia oficialmente solicitado informações da Colômbia sobre os detidos na quinta-feira.

A vice-presidente da Colômbia, Marta Lucía Ramírez, condenou o ocorrido e pediu que "todo o peso da justiça" recaia sobre os detidos.

"Que a justiça do Haiti proceda, e que proceda com todo o rigor e contundência (…) porque a Colômbia não pode de forma alguma chegar às manchetes da imprensa internacional pelo nome de criminosos e pistoleiros", disse.

Um juiz haitiano, Clément Noël, disse ao jornal Le Nouvelliste que entre os mortos estão os colombianos Mauricio Javier Romeo Medina e Duberney Capador Giraldo.

Nas ruas, a população foi instada a manter a calma depois de episódios de vandalismo, com carros incendiados. Isso aconteceu após um grupo de pessoas deter dois "estrangeiros", posteriormente entregues à polícia.

Charles, o chefe de polícia, pediu que continuassem a colaborar para capturar aqueles que ainda estão foragidos. Mas pediu que a justiça não fosse feita com as próprias mãos em face da reivindicação de linchamento feita pela multidão na quinta-feira.

"Queime-os!", gritaram algumas das centenas de pessoas que se reuniram em frente à delegacia de polícia onde os suspeitos estavam detidos.

Embaixada de Taiwan

Em uma declaração incomum, a embaixada de Taiwan informou que a polícia haitiana havia capturado 11 suspeitos em suas instalações.

"A polícia fez uma operação por volta das 16h e prendeu, com sucesso, 11 suspeitos. O processo correu bem. A polícia haitiana os levou para interrogatório", disse.

Não está claro no momento se os detidos da embaixada de Taiwan fazem parte do grupo apresentado pela polícia ou por que esse grande grupo de suspeitos esteve na sede diplomática.

Quem está no controle do país?

A constituição haitiana diz que o presidente da Suprema Corte deve assumir no caso de uma vacância presidencial, mas essa autoridade morreu recentemente, vítima da covid-19.

Depois disso, as emendas sugerem que o primeiro-ministro deve liderar o país. Ariel Henry foi nomeado na segunda-feira, dois dias antes do crime, como o novo primeiro-ministro, mas ainda não foi empossado.

Ele insiste que deve ficar no comando do país. "É uma situação excepcional. Há um pouco de confusão. Eu sou o primeiro-ministro no cargo", disse Henry à agência de notícias AP.

Já Claude Joseph, que ocupa o cargo interinamente, disse à BBC que ficou "intrigado" com a declaração de Henry.

Na quinta-feira, a Organização das Nações Unidas (ONU) deu uma declaração favorável à permanência de Joseph no cargo, de maneira interina.

A enviada especial da ONU para o Haiti, Helen La Lime, disse que ele deve permanecer no cargo até que novas eleições possam ser realizadas ainda neste ano.

Já os Estados Unidos disseram novamente na quinta-feira que as eleições deveriam ocorrer neste ano, com o porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, afirmando que o novo pleito "facilitaria uma transferência pacífica de poder".

Joseph disse que não se candidataria à Presidência. "Não estou aqui para ficar muito tempo. Precisamos realizar eleições. Não tenho uma agenda pessoal", afirmou.

Como o ataque se desenrolou?

Assassinos fortemente armados invadiram a casa do presidente, localizada em uma área alta de Porto Príncipe, por volta da 1h da madrugada de quarta-feira.

O vídeo divulgado após o tiroteio mostra homens fortemente armados, vestidos de preto, fingindo ser agentes de combate às drogas dos Estados Unidos. Eles gritavam: "Operações da DEA [departamento de drogas dos EUA], todos fiquem abaixados."

Moïse foi morto no local. O corpo do presidente teve 12 ferimentos a bala, disse o magistrado Carl Henry Destin ao jornal Le Nouvelliste.

O escritório e o quarto do presidente foram saqueados, e ele foi encontrado deitado de costas, coberto de sangue.

Os três filhos do primeiro casal, Jomarlie, Jovenel Jr. e Joverlein, estão em um "local seguro", disseram as autoridades.

Mesmo antes do assassinato do presidente Moïse, a situação no Haiti era marcada pela instabilidade: protestos nas ruas pediam a renúncia do mandatário.

As eleições parlamentares deveriam ter sido realizadas em outubro de 2019, mas disputas políticas atrasaram o pleito, o que significa que Moïse estava governando por decreto.

 

 

 

 

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