OTAN se reúne em Varsóvia para debater ameaça russa

Nesta sexta-feira e sábado (07-08/07), os líderes dos 28 Estados-membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e numerosos países parceiros se reúnem em Varsóvia numa conferência de cúpula. O encontro é anunciado como um marco em que irão se tomar decisões para reforçar a segurança da Aliança Atlântica, aumentando seu poder de dissuasão e defesa e projetando estabilidade para além de suas fronteiras.

O país anfitrião, a Polônia, tem pressionado para obter a maior presença possível de tropas da OTAN em seu território, a fim de fazer frente à ameaça percebida partindo de Moscou. Também os países bálticos – Estônia, Letônia e Lituânia –, que têm fronteiras com a Rússia ou seu aliado Belarus, sustentam o slogan: "Quanto mais, melhor".

Em Varsóvia, a OTAN deverá atender, pelo menos em parte, a essa demanda. Segundo declarou o secretário-geral da Aliança, Jens Stoltenberg, os aliados no Leste Europeu deverão receber uma reafirmação de que, em caso real de perigo, os demais Estados vão socorrê-los. Essa será a mensagem da cúpula, afirmou um alto diplomata da OTAN que não quis ser identificado, acrescentando: "Em Varsóvia vai se decidir a direção a ser tomada. Isso não é rotina."

"Dissuadir e negociar"

Falando ao Parlamento nacional na véspera do encontro, a chanceler federal alemã, Angela Merkel, atribuiu à Rússia a culpa pelo agravamento da situação de segurança na Europa. Os países-membros da OTAN no Leste estão "profundamente abalados" devido à investida russa contra a Ucrânia, afirmou.

Algum tempo atrás, o ministro alemão do Exterior, Frank-Walter Steinmeier, criticara a OTAN por ficar brandindo demais a espada em direção à Rússia e entoando cantos de guerra, enquanto negligencia o diálogo. A organização procura abrandar tais temores com a oferta à Rússia de "transparência e minimização de riscos".

Merkel também lembrara ao Parlamento em Berlim que "só pode haver segurança duradoura na Europa com, não contra a Rússia", e que o procedimento da Aliança Atlântica não é "antirrusso", mas de natureza puramente defensiva. Por pressão alemã, a estratégia "dissuadir e negociar" será agora sustentada por todos os 28 Estados-membros da OTAN, inclusive pela anfitriã Polônia.

Medidas de caráter psicológico

Os chefes de Estado e governo reunidos na capital polonesa darão sinal verde definitivo para o estacionamento de contingentes adicionais de mil soldados da OTAN na Estônia, Letônia, Lituânia e Polônia, respectivamente. Além disso será fortalecida a brigada multinacional na Romênia.

Na opinião de Judy Dempsey, especialista em OTAN do think tank de política externa Carnegie Europe, a Polônia e o trio báltico aceitarão a oferta da Aliança Atlântica de reforço de tropas, já que não obterão mais do que isso. "Trata-se de uma medida psicológica para tranquilizar os poloneses e os bálticos. Do ponto de vista militar, seguramente não é o suficiente, quando se vê o que a Rússia está montando no exclave de Kaliningrado e em Belarus", disse à DW.

Desde a última cúpula da OTAN, em 2014, em Newport, no País de Gales, a organização já instalou seis depósitos de armamentos em países-membros do Leste, destinados ao abastecimento da tropa de ataque rápido da OTAN. Esta dispõe de 40 mil soldados estacionados em países ocidentais, aptos a serem mobilizados para o Leste no prazo de poucas semanas caso a Rússia prepare uma ofensiva.

O monitoramento do espaço aéreo na fronteira oriental também está sendo ampliado, assim como a presença de forças-tarefa da Marinha no Mar Báltico e no Mar Negro. O número e proporções das manobras no território dos aliados orientais será igualmente aumentado.

OTAN "aberta ao diálogo" com Moscou

Os estrategistas da Aliança Atlântica cuidam para que esses batalhões suplementares não fiquem estacionados permanentemente, mas em regime rotativo, sendo substituídos por novas tropas após alguns meses.

"Continuaremos nos orientando pelo Ato Fundador sobre Relações Mútuas entre a OTAN e a Rússia", prometeu Stoltenberg. Nesse acordo firmado em 1997 em Paris, a organização se compromete a não estacionar permanentemente "tropas de combate significativas" no território dos antigos Estados que estavam na órbita soviética.

No entanto o Kremlin não está satisfeito. O embaixador russo na OTAN critica o processo de armamento, e o Ministério russo da Defesa reagiu anunciando a mobilização, para as regiões oeste e sul, de mais três brigadas com um total de até 30 mil homens.

A OTAN, por sua vez, quer prosseguir negociando com Moscou, apesar do reforço das tropas. "Nós permanecemos abertos ao diálogo", anunciou o secretário-geral Stoltenberg. Logo após a cúpula em Varsóvia está planejado um novo encontro do Conselho OTAN-Rússia, em nível diplomático, no quartel-general da organização, em Bruxelas. As atividades desse conselho estão congeladas desde a anexação da península da Crimeia, em 2014, e da intervenção russa no conflito no leste da Ucrânia.

Como sinal de boa vontade, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, falou ao telefone com seu homólogo russo, Vladimir Putin, pouco antes da cúpula de Varsóvia. Ambos concordaram quanto a uma cooperação estreita no combate à organização terrorista "Estado Islâmico" (EI) na Síria, numa demonstração que Washington e Moscou têm interesses comuns.

 

OTAN envia sinal de unidade com cúpula

O confronto de dois blocos é, felizmente, coisa do passado. Se hoje em dia pessoas na Europa Ocidental se sentem ameaçadas por alguém, então esse alguém é, quase certamente, um terrorista islâmico.

Muitos jovens de hoje não podem imaginar como era na época da Guerra Fria. Então não devemos culpá-los quando reagem com ligeiro estranhamento quando cidadãos da Polônia e dos Estados bálticos falam sobre ameaças à segurança deles. Na Polônia, Lituânia, Letônia e Estônia ainda está viva a consciência – e também entre os mais jovens – de se ter um vizinho grande e potencialmente ameaçador: a Rússia.

Isso pode ser considerado um exagero. Mas quem mantém os olhos abertos não pode ignorar que há vários anos a Rússia tem feito muito para consolidar sua má reputação entre os países do Leste Europeu.

O temor foi reaceso em 2008, quando a Rússia tomou partes do território da Geórgia numa breve campanha bélica. As preocupações cresceram quando ficou claro que a Rússia não tinha por que temer quaisquer consequências graves. E tudo ficou pior ainda com o conflito na Ucrânia, país que a Rússia desestabilizou por inteiro através de ações militares.

É por isso que fazer parte da OTAN é tão importante para muitos dos antigos Estados satélites da União Soviética e para as suas populações. O tratado da OTAN lhes garante o apoio de todos os Estados-membros no caso de um ataque. Essa promessa de assistência é hoje mais importante do que nunca. Pois, por exemplo, os países bálticos foram, nos últimos anos, várias vezes vítimas de ataques cibernéticos, cuja origem foi localizada na Rússia.

Ao se reunirem em sua cúpula em Varsóvia, os líderes dos países da OTAN visam enviar uma mensagem de unidade. O destinatário mais importante desta mensagem é, naturalmente, o presidente russo, Vladimir Putin. Mas também os povos dos países do leste da aliança precisam desse gesto de confirmação. E isso não tem nada que ver com um "brandir de espadas", como o ministro do Exterior alemão disse recentemente ter ouvido do lado ocidental.

Reino Unido não deixará OTAN após saída da UE, diz ministro¹

O referendo do dia 23 de junho no qual os britânicos decidiram deixar a União Europeia não muda o comprometimento do país em continuar sendo um parceiro forte da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), disse o ministro britânico de Aquisições da Defesa, Philip Dunne, nesta sexta-feira.

Falando na Royal International Air Tattoo, a maior exibição militar aérea do mundo, Dunne disse aos repórteres: "(O Reino Unido) não irá se encolher dentro da concha."

A nação continua sendo o maior parceiro internacional do programa de caças de combate F-35 da fabricante de aviões Lockheed Martin Corp, e cerca de 15 por cento de cada aeronave é produzido por empresas no Reino Unido, afirmou Dunne.

"Não vemos razão para isso não continuar no futuro", acrescentou.

Dunne disse ser cedo demais para se prever o impacto do referendo nos arranjos comerciais britânicos, mas estar confiante de que o país irá continuar tendo a cadeia de suprimento de segurança e defesa mais robusta da Europa.

Segundo ele, autoridades da indústria lhe disseram acreditar que o setor aeroespacial será "amplamente preservado" na separação da UE.

¹com Reuters

 

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