Macron nega fracasso da missão militar no Mali

O presidente francês, Emmanuel Macron, rejeitou "por completo" nesta quinta-feira (17) a missão militar contra os grupos jihadistas no Mali tenha sido um fracasso e afirmou que se a França não tivesse atuado, o país africano teria entrado em colapso.

"O que teria acontecido em 2013 se a França (presidida então pelo socialista François Hollande) não tivesse decidido intervir? Teria acontecido, com certeza, um colapso do Estado malinês", declarou Macron em uma entrevista coletiva.

Os soldados da operação Barkhane, que tem o apoio da força europeia Takuba, registraram "muitos êxitos", incluindo a eliminação do emir da Al-Qaeda no Magreb Islâmico (AQMI) em junho de 2020, acrescentou Macron.

A França e seus aliados nesta operação, que busca expulsar os jihadistas vinculados à Al-Qaida e ao grupo Estado Islâmico (EI) da região do Sahel, anunciaram nesta quinta-feira a retirada do Mali, centro nervoso da missão.

O presidente francês criticou a atual junta que governa Bamako – que chegou ao poder após dois golpes de Estado em 2020 e 2021 – por querer conservar por tempo indeterminado o poder, com a desculpa da "luta contra o terrorismo".

"Não podemos seguir comprometidos militarmente com autoridades de fato, cuja estratégia e objetivos ocultos não compartilhamos", acrescentou Macron, semanas depois da expulsão do embaixador francês do Mali.

As autoridades do Mali também estão no centro das atenções por recorrer, segundo os países europeus, ao grupo de mercenários russos Wagner, presente em quase 20 países africanos e considerado próximo ao presidente russo, Vladimir Putin.

Estes mercenários estão presentes para "defender seus próprios interesses econômicos e (defender) a junta. Essa é a realidade do que vemos", disse Macron, enquanto as autoridades do país africano continuam negando a presença do grupo Wagner em seu território.

A retirada do Mali, que levará de "quatro a seis meses", não implica o fim do compromisso na região. A França, seus aliados europeus e o Canadá negociam com os sócios africanos no Sahel e no golfo da Guiné uma forma de ajuda.

"A luta contra o terrorismo no Sahel não pode ser responsabilidade exclusiva dos países africanos", afirmou em uma entrevista o presidente do Senegal, Macky Sall, que celebrou o "compromisso renovado" de seus aliados.

França anuncia retirada de sua missão antijihadista do Mali

A França anunciou nesta quinta-feira (17) a retirada de sua operação contra os grupos jihadistas no Mali, após nove anos de presença, embora tenha prometido, ao lado de seus aliados, prosseguir com a luta na região do Sahel, diante da crescente influência de outras potências rivais.

"Não existem mais as condições políticas, operacionais e jurídicas para continuar de forma efetiva com o atual compromisso militar na luta contra o terrorismo no Mali e, portanto, decidimos iniciar a retirada coordenada", afirma um comunicado conjunto.

A declaração, assinada pela França, seus aliados europeus, Canadá e os sócios africanos no Sahel e no golfo da Guiné, destaca a "vontade" de seguir com a luta na região, em "estreita coordenação com os países vizinhos" do Mali.

O anúncio coincide com uma reunião de cúpula em Bruxelas entre líderes da União Europeia (UE) e da União Africana (UA) sobre uma nova relação com a África, onde China, Rússia e Turquia também atuam para aumentar sua influência.

A retirada da França de sua ex-colônia acontece em um momento de tensão com a junta militar que tomou o poder no Mali após dois golpes de Estado e é acusada de adiar a transição, além de recorrer aos serviços da empresa de mercenários russos Wagner.

"Não podemos seguir comprometidos militarmente com as autoridades de fato, cuja estratégia e objetivos ocultos não compartilhamos", declarou em uma entrevista coletiva o presidente francês, Emmanuel Macron, para quem o grupo Wagner busca "defender" a junta e seus "próprios interesses econômicos".

Incerteza na UE e na ONU

Diante do avanço das forças jihadistas no norte do Mali, em janeiro de 2013, a França, presidida então pelo socialista François Hollande, decidiu iniciar a operação Serval, que permitiu recuperar cidades como Gao e Timbuktu.

Após o êxito militar, em meados 2014, o país iniciou uma nova operação, Barkhane, para expulsar os jihadistas vinculados à Al-Qaeda e ao grupo Estado Islâmico (EI) dos cinco países da região do Sahel – Mali, Mauritânia, Chade, Níger e Burkina Faso. Para reduzir o contingente francês, em 2020 foi criada a força especial europeia Takuba.

Mas apesar das vitórias táticas, o Estado malinês e suas Forças Armadas não conseguiram realmente recuperar o controle do terreno das mãos dos grupos jihadistas. Além disso, os soldados enfrentam um crescente sentimento antifrancês na região.

A retirada da Barkhane e da Takuba não implica a saída da missão de formação das Forças Armadas que a UE mantém no Mali (EUTM) nem da operação de manutenção da paz da ONU (Minusma), mas a incerteza passa a vigorar sobre ambas.

O chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, afirmou que nos próximos dias terá a resposta da missão enviada ao Mali para verificar com Bamako se a EUTM, presente desde 2013, pode permanecer e em quais condições.

O Reino Unido anunciou discussões com seus aliados sobre o futuro da presença britânica na Minusma, ao afirmar que o grupo Wagner está "efetivamente na cama" com a junta de Bamako.

Quase 25.000 soldados estão presentes atualmente no Sahel, incluindo 4.600 franceses. Segundo o Estado Maior francês, entre 2.500 e 3.000 permanecerão na região ao final da retirada do Mali, dentro de seis meses.

"Compromisso renovado"

Mali era o coração da operação antijihadista francesa no Sahel. Em 2021, Macron havia decidido iniciar uma redução da presença militar, mas a tensão com a junta militar que governa Bamako, que em janeiro expulsou o embaixador francês, o obrigou Paris a acelerar a reorganização.

Além de reforçar sua presença no vizinho Níger, a França e seus aliados ofereceram seus serviços aos países do golgo da Guiné para ajudá-los a conter os jihadistas. Uma decisão sobre o tema é aguardada "até junho de 2022", segundo o comunicado conjunto.

"A luta contra o terrorismo no Sahel não pode ser responsabilidade exclusiva dos países africanos", afirmou em uma entrevista o presidente do Senegal, Macky Sall, que celebrou o "compromisso renovado" de seus aliados.

A menos de dois meses das eleições presidenciais, uma retirada forçada do Mali, onde 48 soldados franceses morreram (53 em todo Sahel) em nove anos de operações, pode representar um revés a Macron, que ainda precisa confirmar sua candidatura.

Meses depois da caótica retirada dos Estados Unidos do Afeganistão, que rendeu uma onda de críticas nacionais e internacionais ao presidente Joe Biden, Macron tenta coordenar ao máximo a retirada do Mali para apresentar como uma decisão conjunta.

O presidente francês rejeitou "por completo" que a missão militar contra os grupos jihadistas no Mali tenha sido um fracasso. "O que teria acontecido em 2013 se a França não tivesse decidido intervir? Teria acontecido, com certeza, um colapso do Estado malinês", declarou.

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