Os Protestos e a Ideologização do Vazio


André Luís Woloszyn
Analista de Assuntos Estratégicos e
consultor de organizações internacionais.

 


Em pleno século XXI, com a nova configuração da política internacional resultante de diversos fenômenos político-sociais  e econômicos ocorridos, ainda, na segunda metade do século XX, como a queda da União Soviética, o processo de globalização e o surgimento de outros atores no cenário mundial, incluindo o Brasil, acreditava-se que movimentos cuja bandeira fosse de resistência, revolução, luta de massas, do proletariado e das classes camponesas, a exemplo dos surgidos na década de 60, faziam parte de um passado histórico.

Atualmente, estas lutas perderam completamente o sentido e são defendidas apenas pelos remanescentes da contra-cultura, um movimento de rebelião da juventude surgido também nos anos 60 somados a outras pessoas completamente alienadas da conjuntura atual que vivem ainda, na perspectiva da guerra fria, projetando seus efeitos e criando paranoias de uma retomada clássica do poder estatal. Resistência a que? A democracia e aos avanços tecnológicos? Revolução em que termos? Em busca de um socialismo que mostra-se  cada vez mais utópico e está presente apenas em Cuba, onde já existe uma abertura, na China e Coréia do Norte? Quem são as classes camponesas, expressão surgida na idade média e abandonada nas primeiras décadas do século XX, se a maioria dos habitantes estão concentrados nos grandes centros urbanos e a agricultura está completamente automatizada?

Neste contexto, pensar em socialismo da forma clássica e em como foi  implementado nas revoluções de 1917 na Rússia, em 1949 com a China Comunista de Mao e em 1959, com a revolução cubana de Fidel Castro, demonstra estarmos no mínimo com cem anos de atraso intelectual e cultural, próximos ao que descreve a polêmica obra Manual do Perfeito Idiota Latino Americano de 1996. Os tempos são outros e a população, de maneira geral, está mais politizada e especialmente, mais informada. 
 

 Provavelmente, seja este um dos fatores de não conseguirmos maior destaque em trabalhos científicos no âmbito internacional pois conseguimos a façanha da ideologização do vazio, ou seja, a propagação de ideias que existem apenas no imaginário, uma ilusão coletiva construída da pouca ou nenhuma capacidade de compreensão.

E, lamentavelmente, é desta forma que certos grupos vem se comportando, transformando manifestações populares em protestos violentos, pregando a agitação e a revolução como se estivessem na Rússia dos czares ou entoando slogans tipo “o poder do povo vai fazer um mundo novo”, como se um mundo novo e melhor pudesse ser construído com ausência do conhecimento. Estão imbuídos da ideia de que "somos pobres porque eles são ricos e vice-versa, que a história é uma conspiração bem-sucedida dos maus contra os bons".
 

Talvez, a bandeira mais apropriada destes movimentos pudesse ser a favor da construção e solidificação de uma melhor educação nacional, pois sem ela, os cidadãos estarão a margem de  qualquer  processo integrativo. Mas, este fator, não interessa aos aliciadores que verão reduzidas a matéria prima que tanto necessitam para lutar por seus interesses velados.

Assim, vejo como uma atitude verdadeiramente criminosa recrutar jovens e adolescentes em escolas e universidades, ou mesmo nas periferias urbanas para participarem de movimentos irregulares nas ruas, como inocentes úteis, onde a violência é o único instrumento válido substituindo as carências educacionais  Aproveitam-se da ingenuidade e do desejo destes em participar ativamente de uma grande mudança social e política, para expô-los como ocorreu com os jovens que atingiram o cinegrafista Santiago Almeida.
 

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