Entrevista Cel MORETZSOHN – Manifestações extremistas no dia 7 de setembro


DefesaNet entrevistou,  o Cel R1 Eugênio Moretzsohn, especialista em Inteligência e Segurança sobre o provável perfil das manifestações do Sete de Setembro.

O Cel Moretzsohn pode ser contatado através do e-mail coronelmoretzsohn@gmail.com

O que aconteceu com as manifestações ordeiras?

As manifestações de junho são apenas lembranças se comparadas à barbárie que ocorre hoje nas ruas. O perfil dos ativistas mudou. As pacíficas e emocionantes passeatas cidadãs deram lugar ao radicalismo ativista, perpetrado por alguns poucos movimentos sociais intolerantes, integrantes de partidos da esquerda ressentida, grupos sem identidade própria e os anarquistas de sempre.A classe média infelizmente saiu de cena e abriu espaço para extremistas que esvaziaram os protestos, tornando-os menores e violentos.
 
Quem são esses grupos que destroem vidraças e placas de rua?

Extremistas cujos sinais de vida mais recentes datam do início do anos 2000, em repúdio à globalização econômica e ao militarismo; depois, pelo “Fora, FMI!” e “Fora, FHC!”. Dentre eles, misturam-se representantes da extrema esquerda, de contestação anarcopunk, pretensos anarquistas e o mais recente efeito colateral da era digital, os hacktivistas. Todos empregam a violência como ferramenta de ação política, seguindo a mesma cartilha dos radicais de esquerda que, num passado recente, se aventuraram pela luta armada para tentar implantar sua doutrina, a qual, aliás, só sobrevive em duas ou três ditaduras pelo mundo. Nesta salada, ainda podemos incluir mercenários arregimentados pela baixa militância e pagos para causar desestabilização e violência, desviando o foco das justas reivindicações iniciais, atraindo a atenção da mídia para as cenas de confronto e, assim, afastando as pessoas de bem e os formadores de opinião que frequentaram os movimentos originalmente ordeiros.
 
Os anarquistas ainda são atuantes no atual cenário político?

A história registra uns poucos casos de tentativa de sobrevivência de agrupamentos anarquistas, derrotados por doenças, inanição e violência interna. A doutrina é contrária a quaisquer formas de governo e hierarquia: "Si hay gobierno, soy contra".

Caso se organizassem minimamente, talvez até tivessem tido alguma chance de construir uma forma libertária de vida, comunitária e colaborativa. Mas, o verdadeiro bicho homem se revela quando o alimento escasseia. A competição por comida, remédios e abrigo tornou impossível a vida nessas comunidades.
 
O que acha do fato de os extremistas usarem máscaras?

O fato de os extremistas se esconderem atrás de máscaras com a desculpa de se protegerem do gás de pimenta e do lacrimogêneo, na verdade, encobre a intenção deliberada do anonimato. Certíssima está a autoridade de Pernambuco que, citando o inciso IV do Artigo 5 da Constituição, lembrou que “é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato”. O vandalismo contra os patrimônios público e privado é considerado um desafio aberto contra o sistema, as elites, o establishment e, na falta de algo melhor, “contra tudo isso que está aí”.
 
Todos os manifestantes são extremistas?

Obrigado pela pergunta, pois ela permite colocar as coisas em seu devido tamanho. A chamada “primavera brasileira”, que chegou em junho, era formada pela maioria absoluta de ativistas cívicos, que reivindicavam mudanças em vários setores do governo e das instituições, como vimos nas faixas e palavras de ordem. Eram apartidários, organizavam-se em torno de pautas genéricas e de amplo espectro, misturadas num caldo de insatisfação generalizada, cujo ingrediente principal era a indignação contra a corrupção e a impunidade, em todos os setores da sociedade. Sua aglutinação ocorria de forma combinada, mas sem imposição vertical, pelas redes sociais, obedecendo a uma espécie de cérebro coletivo. Eram contrários a qualquer violência e, assim, conquistaram a simpatia e a adesão das famílias brasileiras, especialmente da classe média.
 
O que poderia ser feito para reduzir a ação dos extremistas?

Há cem anos, o jurista italiano Giuseppe Chiovenda lançou a obra “Dos Delitos e das Penas”, na qual afirmava “o que faz diminuir a incidência dos delitos não é a crueldade das penas, mas a certeza da punição”. Quando arruaceiros são detidos pela PM e liberados em seguida na delegacia, pois infelizmente prevalece a tese que suas ações são de “pequeno potencial ofensivo”, se propaga a ideia de absoluta impunidade dentre aqueles que assistem aos noticiários. O que resolve de imediato esse problema é a segregação dos envolvidos, ou seja, cadeia. Veja o que ocorreu com os torcedores do Corinthians que brigaram no estádio em Brasília – dois deles estavam presos na Bolívia. Isso demonstra que os bolivianos talvez não estivessem totalmente equivocados em mantê-los lá.
 
E por que os extremistas não ficam presos?

Por falta de coragem política. Basta editar urgentemente uma lei que os enquadre claramente e pronto. Sei que os juízes relutam em prender, para evitar que pessoas recuperáveis fiquem em contato com integrantes de facções criminosas fazendo mestrado em crime. Mas, se não há onde recolher essas pessoas, sejam rapidamente terceirizados estabelecimentos penais para contê-los (e a outros criminosos). Se o estado não tem pernas para fazer frente à inesgotável demanda prisional, abra espaço para a iniciativa privada. O que não pode ocorrer é as pessoas de bem, que são a imensa maioria, as que pagam impostos, as que têm potencial eleitoral, ficarem à mercê de depredadores.
 
 
Por que escolheram o 7 de setembro como dia de protesto?

Pela data emblemática, atacando, assim, instituições centenárias, e pela visibilidade proporcionada pela presença de autoridades nesses eventos. Há alguns anos, o Dia da Pátria vem recebendo a participação do Grito dos Excluídos, promovido pela CNBB. Isso já estava acomodado e vinha sendo acolhido como uma reivindicação justa. Como a manifestações ordeiras sofreram uma paralisação, parcialmente explicada pelas férias escolares e pela interrupção nos Grandes Eventos Mundiais que lhes proporcionavam holofotes, restaram os extremistas que escolheram a mais importante data do calendário cívico brasileiro para dar seu recado. Resta saber se somente os extremistas aproveitarão o momento, ou se o ativismo pacifista realizará manifestações sem violência, mas estou bastante pessimista.
 
Por quê?

Venho recebendo, por meio de uma rede social, material extremista de divulgação, convocando para o 7 de setembro e claramente estimulando a violência como forma de atingir seus objetivos. Não percebi convites dos pacifistas fazendo um contraponto.

Portanto, as famílias poderão se sentir inseguras de comparecer à parada. As forças policiais terão de fazer um trabalho de isolamento cuidadoso para evitar a infiltração de extremistas e garantir a tranquilidade das pessoas.
 
 Quais problemas poderiam ocorrer?

Os extremistas não se comportam da forma clássica, fugindo ao confronto. Eles sabem que a PM não pode usar de força letal e se preparam para suportar os efeitos das armas de controle de distúrbios civis, como a pimenta e o lacrimogêneo. Eles querem o embate com as tropas, pois isso lhes confere visibilidade; depois, exibem suas feridas para a TV e arregimentam mais simpatizantes, especialmente entre jovens. E tudo o que desejam é um mártir.

Portanto, podem ocorrer tentativas de depredação do patrimônio privado e equipamentos públicos, desafiando a autoridade e chamando-a para o combate urbano. Podem, ainda, tentar interferir na dinâmica do desfile cívico-militar. A data comporta todos os sentimentos da grande nação brasileira: o patriotismo dos soldados, o civismo das famílias e o desejo de reivindicação dos manifestantes. Aliás, manifestações ordeiras poderiam, sim, ser acolhidas, desde que combinassem previamente com as autoridades policiais. Só não pode ser aceita a covardia dos ataques de vandalismo, quaisquer sejam seus motivos e crenças.
 
Qual deveria ser no seu entender o posicionamento das autoridades?

Temos policiais competentes em nossas corporações, com bastante experiência em crises, como vimos em várias oportunidades. Apenas como sugestões:
 
Polícia Militar:
– manter um dispositivo de expectativa, pré-posicionando seus efetivos de forma descentralizada, reduzindo, assim, atrasos nos deslocamentos motorizados por eventuais transtornos de trânsito, deliberados ou não;
– gravar em vídeo o que servir para manter presos os extremistas, ou como contraponto às imagens capturadas por mídias alternativas;
– agir de forma conciliadora com os manifestantes ordeiros e reprimir energicamente o vandalismo, pois estamos num governo democrático e, como tal, exercido pela maioria pacífica e que precisa ser protegida;
– manter policiais bem descaracterizados acompanhando as manifestações, para assinalar os vândalos, aguardando por uma ocasião propícia para sua detenção.

Polícia Civil:
– realizar as necessárias diligências com agilidade, para tentar manter preso o vândalo que for conduzido pela PM até a delegacia;
– manter os arquivos digitais em dia e integrados, para enquadrar rapidamente os extremistas reincidentes;
– proteger as delegacias e não ceder às tentativas de pressão de extremistas que exijam a libertação de detidos;
– requisitar as gravações de câmaras de segurança privadas que possam contribuir para o esclarecimento de fatos nebulosos.

Grupamento aéreo:
– sobrevoo para monitorar, com observadores, a progressão de grupos suspeitos, permitindo melhor coordenação das ações;
– conduzir câmaras filmadoras que possam registrar eventuais conflitos, com zoom eficiente.

Bombeiros:
– manter-se em condições de atender aos pedidos de socorro, pré-posicionando parte de seus meios;
– preservar ao menos um caminhão de água com esguicho forte, pois é um excelente recurso para a contenção de tumultos e que não resulta em efeitos colaterais como os gases.

Forças Armadas: recente pesquisa as manteve entre as 3 mais respeitadas instituições do país. As famílias querem – e merecem – ver seus filhos marchando. As datas nacionais de independência são celebradas, em todo o mundo, com o desfile das armas da nação. Portanto, façam bonito, como sempre o fizeram. Caso contrário, eles vencerão.

Ministério Público e Poder Judiciário: é surpreendente que os resultados das detenções e investigações tenham produzido resultados até agora tão pífios. As imagens de coquetéis Molotov produzidos em série deveriam bastar para tirar o sono de quem tem a responsabilidade de proteger a sociedade, a mesma que, só para lembrar, paga seus ótimos salários. Não vejo diferença entre quem arremessa uma bomba incendiária num policial e um terrorista. Alguém vê? Para mim, seria perfeitamente lícito o policial responder usando de força letal, ou seja, abatendo a tiros seu agressor. Quantos mortos serão necessários para vencer essa inércia?

Autoridades públicas: daqui a pouco, as pessoas de bem irão se cansar e contratar milícias armadas que evitem a destruição de lojas, vitrines e bens privados. E darão o devido troco nas urnas, com toda a certeza. Aliás, esta é a melhor maneira de mudar as coisas: trocando os políticos.
 

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