Dominó Árabe – Irã desacata a ONU

Um relatório da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) denuncia que o Irã aumentou em 60% o seu estoque de urânio medianamente enriquecido — um grau de pureza maior do que o necessário para produzir energia nuclear. Em maio, o país possuía 72kg do material. A quantidade aumentou para 115,2kg. Além disso, a nação dobrou a capacidade de processar urânio ao aumentar o número de centrífugas da usina nuclear de Fordo, que passou de 1.064, em maio, para 2.140. Apenas 700 dos aparelhos estariam funcionando. A divulgação do documento coincidiu com a abertura da 16ª Cúpula dos Países Não Alinhados, em Teerã. A Casa Branca alertou ao Irã que as negociações diplomáticas sobre o projeto nuclear não vão durar indefinidamente.

A AIEA advertiu que Teerã "dificultou significativamente" a inspeção da base militar de Parchin, onde crê terem sido construídas armas nucleares. O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, criticou a República Islâmica por não cumprir com as resoluções da ONU. "No interesse da paz e da segurança no mundo, peço encarecidamente ao governo iraniano que adote as medidas necessárias para restabelecer a confiança sobre o caráter exclusivamente pacífico de seu programa nuclear", declarou Ki-moon. "O Irã deve cumprir totalmente com as resoluções pertinentes do Conselho de Segurança e cooperar com a AIEA." Ele mostrou seu desagravo pelo fato de o governo do presidente Mahmud Ahmadinejad negar o Holocausto e ameaçar destruir Israel: "Lamento firmemente qualquer ameaça de um Estado-membro (da ONU) de destruir outro, ou os comentários ultrajantes que negam fatos históricos como o Holocausto".

Pecado

O Irã mantém o discurso de que seu programa atômico tem fins pacíficos. Ao inaugurar a cúpula, o guia supremo iraniano, o aiatolá Ali Khamenei, garantiu que o país "não buscará jamais possuir a arma atômica". "Usar armas de destruição em massa é um grande e imperdoável pecado." Mas completou que sua nação não desistirá do direito à energia nuclear pacífica. Khamenei denunciou a Ki-moon a "estrutura antidemocrática" do Conselho de Segurança, que afirmou ser controlado pela ditadura do Ocidente. A AIEA, porém, divulgou que a República Islâmica produziu, desde 2010, cerca de 190kg de urânio enriquecido em grau de pureza maior do que o necessário para gerar energia. Em resposta às denúncias, o Irã assegurou que o material destina-se a um reator de pesquisas médicas.

Apesar de reconhecer que o aumento de centrífugas em Fordo, localizadas a 130km de Teerã  (veja mapa), amplie a capacidade de enriquecimento de urânio, Jim Walsh — pesquisador de segurança nuclear do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) — lembra que a instalação é monitorada pela AIEA. "Para fabricar bombas atômicas no local, eles teriam que expulsar os inspetores, o que provavelmente resultaria em uma resposta militar dos EUA." Kaveh Ehsani, especialista em Irã pela Universidade DePaul, em Chicago (EUA), acredita que o governo iraniano deseja ter a capacidade de construir armas atômicas. "O programa envolve questões políticas e econômicas. A dificuldade nas negociações com a ONU se deve ao fato de Teerã querer ser um parceiro igualitário nas discussões e não ter que se sujeitar apenas aos desejos dos EUA", esclareceu.

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