A China ‘desembarca’ na Argentina

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Déficit fiscal crescente, queda dos investimentos estrangeiros no país, redução das reservas do Banco Central, perda de respaldo político internacional, conflitos com seus sócios do Mercosul, urgência por fundos frescos para obras de infraestrutura, entre outros problemas. Perante este cenário – e sem poder contar com a ajuda que teve em décadas anteriores (dos Estados Unidos e da União Europeia) e sem acesso aos mercados internacionais de crédito desde o calote da dívida pública de 2001 – a presidente Cristina Kirchner, em meados do ano passado, iniciou uma rápida aproximação estratégica com a China.

O resultado desta aproximação foi o controvertido “Convênio Complementar de Cooperação de Infraestrutura”, aprovado em caráter de “urgência” pelo Parlamento em Buenos Aires em dezembro, dois dias antes do Réveillon. O convênio foi aprovado sem debate prévio no Senado na última sessão do ano.

Os partidos da oposição protestaram infrutiferamente, já que o kirchnerismo, apesar das baixas que teve nos últimos dois anos no Congresso Nacional, conta com uma ajustada maioria parlamentar. Segundo a oposição, o governo Kirchner, apesar de seu discurso “nacionalista”, está “entregando” setores da economia para a China, já que o país oriental terá prioridades em áreas como a energética, mineração, agricultura e o desenvolvimentos de parques industriais.

“É uma violação da soberania”, afirmam integrantes da oposição. Mas, segundo o chefe do gabinete de ministros, Jorge Capitanich, os acordos são de “vital importância” para “o desenvolvimento da infraestrutura pública”.

Em troca de financiamento as empresas chinesas terão vantagens inéditas no país como a importação de insumos sem tarifas alfandegárias.

Um dos pontos do convênio, o artigo 5, permite um processo de adjudicação direta das obras de infraestrutura, sem necessidade de participação de empresas chinesas nas licitações na Argentina. Outro ponto que gerou críticas da oposição foi o número 6, que determina a criação de “facilidades trabalhistas e profissionais” para operários chineses que seriam levados à Argentina.

Analistas sustentam que isto permitirá que empresas chinesas poderão transportar para o país seus próprios trabalhadores, que estarão sob a legislação chinesa.

As críticas também estiveram focalizadas no artigo 4, que estipula a promoção dos investimentos chineses na Argentina com o objetivo de aumentar a capacidade produtiva da indústria argentina. Mas, este estímulo somente seria aplicado nas indústrias que exportem produtos para o próprio mercado chinês.

O artigo número 2 do convênio permite que nos próximos cinco anos o governo da presidente Cristina e seu sucessor feche acordos comerciais e de investimentos com a China sem a necessidade de passar novamente pelo crivo do Parlamento.
 

BlogDilmaCristina

Presidente Dilma Rousseff prepara-se para abraçar a presidente Cristina Kirchner durante breve visita à cidade de Buenos Aires em 2013. Mas abraços, abraços, negócios à parte. Cristina está concedendo vantagens à China enquanto as barreiras comerciais contra os produtos elaborados pelos operários brasileiros permanecem. Na teoria deveria existir livre comércio dentro do Mercosul. 
 

BRASIL, DE ESCANTEIO – Os investimentos brasileiros na Argentina não contam com o leque de privilégios obtidos pela maior economia do planeta de parte da presidente Cristina.

As importações de produtos Made in Brazil, entre janeiro e novembro do ano passado caíram 25% em comparação com o mesmo período de 2013. Por trás da queda das importações de mercadorias brasileiras estiveram as diversas medidas protecionistas que a presidente Cristina aplica contra seu sócio do Mercosul. Além disso, a recessão argentina.

Mas, enquanto isso, as importações de produtos Made in China feitas pelos argentinos só registraram uma queda de 4%.

Miguel Ponce, porta-voz da Câmara de Importadores da Argentina, indicou que “em reuniões na secretaria de comércio em Buenos Aires, os integrantes do governo Kirchner ressaltaram que, se os empresários argentinos tiverem que importar…tem que ser da China”.
 

Blogxijinping

Vice-presidente Amado Boudou presenteia o presidente chinês Xi Jinping com camiseta da seleção argentina com o emblemático “10″ usado por Messi e Maradona.
 

APPROACH BEIJING-BUENOS AIRES – A aproximação Buenos Aires-Beijing implicou na assinatura de 20 convênios que envolvem investimentos chineses pelo valor de US$ 7,5 bilhões. Isso incluiu os acordos com a China para a compra de vagões de carga ferroviária Made in China, fato que irritou o líder sindicalista Antonio Caló, secretário-geral da Confederação Geral do Trabalho (CGT) alinhada com a presidente Cristina. Caló reclamou, alegando que esses vagões poderiam ser fabricados na Argentina por operários metalúrgicos argentinos.

Além de vagões Made in China para substituir as sucateadas unidades que circulam nas ferrovias entre os municípios da Grande Buenos Aires e a cidade de Buenos Aires – a presidente Cristina também obteve da China um acordo de “swap” de yuans para reforçar as esquálidas reservas do Banco Central argentino.

O BC, que tinha US$ 52 bilhões em 2011, atualmente possui US$ 30 bilhões. Desse total, US$ 2,713 bilhões são referentes aos fundos enviados pela China em troca do equivalente em pesos argentinos emitidos pela Casa da Moeda em Buenos Aires. O acordo implica em um total de “swap” de US$ 11 bilhões.

A China também fornecerá os fundos necessários para que a Argentina realize a construção – várias vezes anunciada e nunca iniciada – de duas hidrelétricas na província de Santa Cruz, feudo político dos Kirchners desde 1991. As hidrelétricas ostentarão os nomes do ex-governador Jorge Cepernic e do ex-presidente Néstor Kirchner. Além disso, o governo Kirchner está analisando com Beijing investimentos para a construção da quarta usina nuclear argentina.

O governo Kirchner também aprovou a construção de uma estação espacial chinesa na província de Neuquén, área famosa pela produção de gás e petróleo. A estação, que contará com uma área de 200 hectares, terá concessão de meio século de duração. No entanto, o governo mantém segredo sobre as atividades que essa estação terá no sul da Argentina e apenas informa que terá funções de “observação lunar”.

O senador kirchnerista Marcelo Fuentes retruca as críticas da oposição, afirmando que a construção da base – que já iniciou – indica uma “opção geopolítica” pela China e que mostra um “sinal de soberania” perante os Estados Unidos. Apesar de hospedar a base, a Argentina não contará com transferência d tecnologia por parte da China.

A presidente Cristina Kirchner viajará a Beijing nos dias 5 e 6 de fevereiro para reunir-se com o presidente Xi Jinping, que esteve em Buenos Aires em junho do ano passado. Neste novo encontro, os dois líderes assinariam novos acordos para ratificar a relação estratégica entre os dois países.

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