Reportagem: como o pelotão Karpatska Sich luta contra o avanço dos russos no Donbass

No noroeste de Donbass, as tropas ucranianas têm evitado o avanço das forças russas, concentradas principalmente em Severodonetsk et Lyssytchansk. A RFI acompanhou o pelotão nacionalista Karpatska Sich no campo de batalha. Criado em 2014, durante a revolução de Maidan, ele tem mais de 600 homens e é formado por voluntários que foram integrados às Forças Armadas do país.

A cidade de Izioum é atualmente controlada pelos russos, mas no sul, o batalhão Karpatska Sitch conseguiu evitar o avanço das tropas inimigas. A base do pelotão, onde os soldados descansam a cada duas semanas, está situada nesta área, cercada por colinas e planícies.

Os soldados ucranianos estão presentes em toda a região e utilizam principalmente tanques T72, posicionados discretamente em diversos locais estratégicos. Para se chegar até a posição deles, é necessário pegar 25 quilômetros de estrada.

O perigo é constante: os russos não dão trégua nos bombardeios e utilizam drones para localizar os veículos inimigos que estão em movimento. Durante o trajeto, os repórteres da RFI e os soldados a bordo precisaram parar diversas vezes e esconder o carro dentro da mata.

Os russos estão posicionados a cerca de 2 quilômetros ao norte, e atacam de maneira ininterrupta. A determinação das forças inimigas não intimida o comandante do pelotão ucraniano, que compara o conflito a uma guerra pela independência.

"Eles utilizam artilharia pesada contra a gente, tanques, morteiros, diversos tipos de foguetes, enfim, tudo o que está ao alcance deles. Mas nós estamos em nossas terras, queremos proteger nossa família e nosso país. Em 1991, nosso território foi separado da ex-União Soviética e estamos em um verdadeiro combate pela liberdade, para se tornar uma nação, um país, uma terra livre", resume.

Os voluntários do pelotão Karpatska Sich iniciaram os combates em 2014, no início do conflito no Donbass, no leste da Ucrânia, onde os separatistas pró-russos estão presentes. Desde o início da ofensiva russa, em fevereiro, seus membros também recebem armas dos países ocidentais.

Além disso, muitos combatentes estrangeiros se uniram ao pelotão contra as tropas russas. Muitos deles vieram de países da América do Sul, como Peru, Colômbia e até mesmo o Brasil. Todos disseram estar chocados com os ataques russos, com o número vítimas civis e os abusos das forças de Vladimir Putin.

"Combati as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), mas nunca tinha visto uma artilharia tão pesada. Minha família disse que sou louco de vir para cá, já que essa guerra não é minha", disse um soldado colombiano. Segundo ele, diante das atrocidades cometidas pelos russos, "essa é uma guerra de todos".

Severodonetsk pode cair na mão das tropas russas

A cidade ucraniana de Severodonetsk, uma localidade crucial ao leste do Donbass, está prestes a cair nas mãos das tropas de Moscou. "Os russos controlam 70% de Severodonetsk", afirmou Serhiy Haiday, governador da região de Lugansk. Ele afirmou que 90% da cidade está destruída.

Severodonetsk está na região de Lugansk, que, ao lado de Donetsk, integra a bacia de mineração do Donbass. Depois do fracasso na tentativa de tomar a capital Kiev, a Rússia passou a concentrar a ofensiva nesta área da Ucrânia. Diante do avanço das tropas russas, os Estados Unidos enviarão à Ucrânia sistemas de mísseis avançados Himars, que podem realizar lançamentos múltiplos de mísseis muito precisos, com um alcance de 80 quilômetros. Os equipamentos fazem parte de um novo pacote de assistência militar à Ucrânia estimado em US$ 700 milhões.

Lenha na fogueira

Após o anúncio do pacote de ajuda, o Kremlin acusou os Estados Unidos de "colocar lenha na fogueira". "Estas entregas não encorajam a liderança ucraniana a retomar as negociações de paz", reagiu o porta-voz da presidência russa, Dmitry Peskov. Nesta quarta-feira, pelo menos uma pessoa morreu e outras duas ficaram feridas em Soledar, entre Sloviansk e Severodonetsk.

No sul, os separatistas pró-russos afirmam ter cortado uma das duas únicas estradas que levam a Avdiivka, localizada perto de Donestsk e que ainda está controlada por Kiev. Uma vitória sobre esta cidade facilitaria às tropas russas a tomada de Kramatorsk, cidade estratégica do Donbass ainda controlada por Kiev, cerca de 100 quilômetros mais ao norte.

"Estamos perdendo de 60 a 100 soldados por dia", disse o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky. Ele disse que "a situação no leste é muito difícil". Um dos negociadores russos sobre o conflito na Ucrânia, Leonid Slutsky, disse à agência de notícias russa RIA Novosti que os territórios ucranianos conquistados militarmente pela Rússia poderão realizar referendos sobre uma possível anexação a partir de julho.

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