Rússia alerta para risco ‘real’ de uma Terceira Guerra Mundial pela Ucrânia

A Rússia alertou nesta segunda-feira (25) para o risco "real" de uma Terceira Guerra Mundial, depois que autoridades do alto escalão americano visitaram a Ucrânia e garantiram que é possível ganhar o conflito com o "equipamento adequado".

Diante das sanções sem precedentes contra Moscou impostas pelos países ocidentais e o crescente apoio militar à Ucrânia, o chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov, alertou que "o perigo (de uma guerra mundial) é grave, é real, não pode ser subestimado".

Lavrov também acusou o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelensky, de "fingir" negociar. "É um bom ator, mas se olhar com atenção e ler com cuidado o que ele diz, serão encontradas milhares de contradições", indicou.

"A boa vontade tem limites, mas se não for recíproca, não contribui para o processo de negociações. Mas seguimos mantendo negociações com a equipe enviada por Zelensky", continuou Lavrov.

Desde o início da guerra, há mais de dois meses, Zelensky pede incessantemente aos aliados ocidentais o envio de armamento mais pesado para fazer frente à teórica superioridade militar da Rússia.

E os pedidos parecem fazer efeito. Vários países da OTAN se comprometeram nos últimos dias a proporcionar armas pesadas e equipamentos para a Ucrânia, apesar dos protestos de Moscou.

Visita de autoridades americanas

Este apoio crescente ficou evidente com a visita no domingo a Kiev de dois funcionários do alto escalão americano, o chefe do Pentágono, Lloyd Austin, e o secretário de Estado, Antony Blinken, que se reuniram durante três horas com Zelensky.

"O primeiro passo para vencer é acreditar que você pode vencer. E eles acreditam que podem vencer", declarou Austin a um grupo de jornalistas depois da reunião. "Podem vencer se tiverem o equipamento certo, o apoio adequado", completou.

Em um discurso mais cedo, o presidente Zelensky afirmou que a vitória ucraniana era questão de tempo e que, "graças à coragem" do povo, a Ucrânia "é um verdadeiro símbolo da luta pela liberdade".

Durante a visita, Austin e Blinken anunciaram o envio de 700 milhões de dólares em ajuda militar adicional, elevando o total do aporte americano dos Estados Unidos para 3,4 bilhões.

"Queremos ver a Rússia enfraquecida ao ponto de não poder fazer o tipo de coisa que fez ao invadir a Rússia", afirmou Austin após voltar nesta segunda-feira à Polônia.

Somando-se a este apoio, o Reino Unido enviará uma "pequena quantidade" de lançadores de foguetes blindados antiaéreos Stormer, disse o ministro da Defesa.

Os Estados Unidos aproveitaram o encontro com Zelensky para anunciar a reabertura progressiva da embaixada americana em Kiev e a nomeação da atual embaixadora na Eslováquia, Bridget Brink, como chefe dessa missão, um posto vago desde 2019.

Rússia denuncia ataques fronteiriços

No campo de batalha, concentrado agora no leste e sul da Ucrânia, os combates prosseguiam provocando danos na Ucrânia, o que ofuscou as celebrações da Páscoa neste país de maioria ortodoxa.

Pelo menos cinco pessoas morreram e 18 ficaram feridas pelo bombardeio russo de instalações ferroviárias nas cidades de Khmerynka e Koziatyn (região de Vinnytsia, centro-oeste), segundo a Promotoria local.

Por sua vez, o governador da região russa de Belgorod, na fronteira com a Ucrânia, acusou Kiev de bombardear uma vila, ferir dois civis e danificar duas casas.

A Rússia acusou repetidamente a Ucrânia de atacar seu território, especificamente duas aldeias em Belgorod e uma aldeia na região de Briansk.

As autoridades russas também relataram um incêndio de origem indeterminada em um depósito de combustível em Bryansk, que serve como base logística para suas forças, e o abate de dois drones na região de Kursk, também na fronteira com a Ucrânia.

O Ministério da Defesa da Rússia afirmou que sua força aérea atingiu 82 alvos militares, incluindo quatro postos de comando e dois depósitos de petróleo. Eles também afirmam ter atingido 27 alvos com mísseis de alta precisão.

Por sua vez, o ministério ucraniano afirmou que a Rússia está atacando a infraestrutura e as linhas de fornecimento de ajuda militar de seus parceiros.

Os combates também continuam na região de Kharkov (a segunda maior cidade da Ucrânia, nordeste), onde bombardeios diários forçaram civis, durante semanas, a dormir em abrigos subterrâneos.

UE ajuda TPI

O conflito que começou com a invasão russa em 24 de fevereiro entrou em seu terceiro mês com um saldo indefinido de milhares de mortos, mais de cinco milhões de exilados e outros milhões de deslocados internos pela violência.

Os combates mais sangrentos ocorreram na cidade portuária de Mariupol (sudeste), no Mar de Azov, quase totalmente controlada pelos russos, embora milhares de pessoas resistam em condições precárias na usina de Azovstal.

A Ucrânia acusou as forças russas de manter hostilidades contra o complexo, apesar de Vladimir Putin ter ordenado não atacar e a Rússia garante que Kiev impede a saída de seus soldados e civis pelos corredores humanitários habilitados.

A cidade é fundamental para os planos de Moscou de abrir uma ponte terrestre entre os territórios separatistas pró-russos de Donbass e a península da Crimeia, anexada desde 2014.

O conflito também interrompeu toda a colaboração diplomática entre a Rússia e os países ocidentais. Nesta segunda, Moscou anunciou a expulsão de 40 diplomatas alemães em resposta a uma ação semelhante adotada no início de abril por Berlim, após o início da ofensiva russa.

Em Haia, a Procuradoria do Tribunal Penal Internacional anunciou que participará da investigação da União Europeia sobre os possíveis crimes internacionais cometidos na Ucrânia.

Nesse contexto, o secretário-geral da ONU, António Guterres, visita hoje a Turquia, país que tenta mediar o conflito, antes de seguir para Moscou e depois para Kiev na terça-feira.

As fortes declarações do secretário de Defesa dos EUA após visita à Ucrânia

O secretário da Defesa dos Estados Unidos, Lloyd Austin, afirmou nesta segunda-feira (25/4) em entrevista a jornalistas na Polônia que espera ver a Rússia "enfraquecida", para que não possa repetir em outros países o que está fazendo na Ucrânia.

"Queremos que a Ucrânia continue sendo um país soberano, um país democrático capaz de proteger seu território soberano", disse o general aposentado de quatro estrelas.

"Queremos ver a Rússia enfraquecida ao ponto de não poder fazer o tipo de coisa que fez ao invadir a Ucrânia", acrescentou.

Segundo o correspondente da BBC James Landale, os comentários de Austin sobre uma Rússia enfraquecida são "atipicamente fortes" para um secretário de Defesa dos EUA.

"Uma coisa é ajudar a Ucrânia a resistir à agressão russa e outra é falar sobre o enfraquecimento das capacidades da Rússia", disse Landale.

Em uma aparente resposta às declarações de Austin, o presidente russo Vladimir Putin acusou o Ocidente de tentar "dividir a sociedade russa e destruir a Rússia por dentro", um argumento que ele vem usando repetidamente ao longo dos anos.

Austin e o secretário de Estado dos EUA (cargo equivalente ao ministro das Relações Exteriores no Brasil), Antony Blinken, se encontraram com o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky em Kiev no domingo (24/4), marcando a visita de mais alto nível à Ucrânia por autoridades dos EUA desde o início da invasão, há mais de dois meses.

O encontro entre os representantes dos governos dos EUA e da Ucrânia, que durou mais de três horas, acontece no momento em que a Rússia intensifica sua campanha militar no sul e leste do país.

O que mais ele disse?

O chefe do Pentágono garantiu que seu país acredita que a Ucrânia pode vencer o conflito com "a equipe adequada" e o "apoio adequado".

Ele também anunciou que os EUA destinarão outros US$ 713 milhões (R$ 3,5 bilhões) em ajuda militar à Ucrânia e outras nações europeias.

Segundo Austin, desse montante, quase US$ 332 milhões serão destinados a Kiev.

Com esse valor, a ajuda de segurança total fornecida à Ucrânia pelos EUA desde o início da invasão chega a mais de US$ 3,7 bilhões (R$ 18 bilhões).

Zelensky vem pedindo a líderes ocidentais que aumentem o fluxo de equipamentos militares há semanas, prometendo que as forças ucranianas podem superar as russas se receberem caças e outros armamentos.

Na semana passada, os EUA confirmaram que pela primeira vez forneceram às tropas ucranianas canhões de artilharia e radar anti-artilharia.

O embaixador da Rússia em Washington disse que seu país enviou uma nota diplomática exigindo o fim do fornecimento de armas dos EUA para a Ucrânia.

Retorno de diplomatas

Blinken anunciou que alguns funcionários diplomáticos dos EUA começarão a retornar à Ucrânia a partir da próxima semana.

Eles devem se estabelecer inicialmente em Lviv, no oeste ucraniano, enquanto implementam um plano de longo prazo para reabrir a embaixada dos EUA na capital, Kiev.

O presidente Joe Biden pretende nomear Bridget Brink, diplomata de carreira, como embaixadora na Ucrânia, cargo que permanece vago há mais de dois anos.

Blinken também defendeu a estratégia diplomática dos EUA, alegando que a aliança de países ocidentais formada por Biden pressionou o governo Putin.

"A estratégia que implementamos, o apoio maciço à Ucrânia, a pressão maciça contra a Rússia, a solidariedade com mais de 30 países envolvidos nesses esforços estão tendo resultados reais", disse Blinken.

"E estamos vendo que quando se trata dos objetivos de guerra da Rússia, a Rússia está fracassando, a Ucrânia está tendo sucesso. Uma Ucrânia soberana e independente estará em cena por muito mais tempo do que Vladimir Putin", acrescentou Blinken.

Análise de Jonathan Beale, correspondente de defesa da BBC

O presidente Biden sempre deixou claro que os Estados Unidos não intervirão diretamente na guerra da Ucrânia e não enviarão tropas americanas para se juntar à guerra. Mas a verdade é que os EUA estão cada vez mais envolvidos. E isso foi destacado pelas palavras do secretário de Defesa.

Os Estados Unidos aumentaram dramaticamente o fornecimento de armas para a Ucrânia nas últimas semanas. Apesar dos avisos russos, está claro que enviará mais.

As declarações de Austin deixam claro que os Estados Unidos não são um espectador nesta guerra. Os Estados Unidos querem ver a Rússia derrotada.

Mais do que isso, querem ver a máquina militar da Rússia reduzida a tal ponto que não possa ameaçar nenhum outro aliado europeu no futuro.

O temor, compartilhado pelos aliados da OTAN, é que qualquer tipo de derrota na Ucrânia só encoraje as ambições de Putin.

Austin deixou agora claro que os EUA têm seus próprios objetivos estratégicos para esta guerra, mesmo que teoricamente não participem.

O objetivo é deter Putin e enfraquecer as forças armadas da Rússia a tal ponto que não seja mais capaz de ameaçar outras nações.

Até certo ponto, isso já aconteceu.

Especialistas militares já acreditam que levará anos para a Rússia se recuperar de suas perdas militares. Isso também pode enviar um sinal para outra nação com a qual os Estados Unidos estão cada vez mais preocupados: a China.


 

 

 


 

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