PERU – Operação Chavín de Huantar

Operação Chavín de Huantar

A retomada da Embaixada do Japão em Lima  22 de abril de 1997

Fernando Diniz
In memoriam
Texto publicado originalmente em 2008

 

As 20h19min da noite de 19 de dezembro de 1996, quatorze membros do grupo terrorista Movimento Revolucionário Tupac Amaru (MRTA) irromperam desde uma casa vizinha e tomaram a residência do embaixador do Japão em Lima, Peru durante a celebração da festa de aniversário do Imperador do Japão. O embaixador recebia nesta ocasião cerca de 800 dignatários e convidados.

Os terroristas sabiam da presença de personalidades políticas, civis e militares no evento. Paulatinamente foram liberando reféns que não serviam a seus propósitos. Finalmente ficaram no local apenas 72 pessoas, por cuja liberação exigiam a libertação de 400 de seus companheiros que cumpriam pena em prisões peruanas.

LIDER. Néstor Cerpa Cartolini (centro), o chefe do Comando do MRTA, em fevereiro de 1997, durante a tomada da Embaixada do Japão.

A partir deste momento, a situação tornou-se extremamente tensa, e todos os olhos do mundo voltaram-se para o Peru, e para qual seria a reação do governo de Alberto Fujimori.

Desde o início, o governo peruano recusou-se a atender a qualquer demanda dos sequestradores, e adotou uma política de espera. Enquanto mantinha infindáveis negociações com os invasores da Embaixada, treinava e equipava uma força de elite para uma possível operação de resgate. Além disso, iniciou um processo de desgaste contra os terroristas. A luz e a água da Embaixada foram cortadas. Veículos equipados com alto-falantes passaram a circular em torno do prédio, tocando a pleno volume músicas militares e canções patrióticas, na intenção de cansar e enervar os terroristas, privando-os de sono e descanso. Também grupos de policiais bem protegidos jogavam pedras no prédio, disparavam tiros para o ar e gritavam palavrões, para provocar uma reação.

Os militares peruanos conseguiram infiltrar um repórter na Embaixada, ostensivamente para obter um furo de reportagem entrevistando os líderes do MRTA, porém na realidade para obter informações sobre o prédio e a situação dos reféns, além de informações sobre quantos eram e que armamento tinham os terroristas.

O passar do tempo provocou um relaxamento na atitude dos sequestradores, que passaram a confiar em que a opinião publica mundial não permitiria que os militares lançassem um ataque ao prédio. Consequentemente, os quatorze membros do MRTA entraram numa rotina diária bastante tranquila, inclusive organizando partidas de futebol com alguns de seus reféns.

Embora na manhã de 9 de janeiro uma rádio local tivesse divulgado a notícia de que os militares treinavam um grupo incursor, os sequestradores não tomaram nenhuma ação, confiando que os militares não ousariam pôr em risco a vida dos reféns. Embora em março a mesma rádio divulgasse que um túnel estava sendo cavado em direção à Embaixada, a reação dos sequestradores foi fraca, fazendo-os apenas trocar o alojamento dos reféns do térreo para o primeiro andar do prédio. Esta ação eventualmente ajudou a diminuir o risco de ferimentos nos reféns, por ocasião da entrada do grupo de resgate.

Na noite anterior ao assalto final, metade da força de 142 comandos deslocou-se para perto do prédio, e silenciosamente começou a tomar suas posições de ataque. Outros setenta policiais formaram um perímetro externo em volta do prédio. Oito snipers posicionaram-se em prédios adjacentes, para dar fogo de proteção. O pessoal restante foi dividido em três grupos de ataque.

Tropas de ataque cruzam os túneis para a invasão da Embaixada

As 15h17min do dia 22 de abril de 1997, quase quatro meses depois da invasão da Embaixada pelo MRTA, o Presidente Alberto Fujimori deu a ordem para o ataque. Seis minutos depois, o chão da sala principal e da cozinha do prédio entrou em erupção, matando vários terroristas que jogavam futebol na sala. As explosões foram causadas por cargas cuidadosamente colocadas debaixo dos pisos, através de uma série de túneis cavados

Ao longo dos meses. Ao mesmo tempo, os três grupos de assalto convergiram para a Embaixada, conduzindo o que pode ser descrito como um rápido e violento assalto contra o MRTA.

O primeiro grupo emergiu de um túnel cavado até o jardim da Embaixada, atacou as áreas de serviço e subiu até o segundo andar. Um segundo grupo, que havia arrebentado o portão oeste do complexo, tomou a entrada principal da Embaixada, e os lados norte e sul do prédio. O terceiro grupo escalou o muro norte do perímetro. Cargas de demolição foram usadas para abrir buracos nas paredes do prédio, e os atacantes partiram em busca dos reféns.

As 15h42min, um minuto apenas depois de ouvida a primeira explosão, os comandos já entravam no prédio principal. O resgate de todos os 72 reféns durou apenas 28 minutos, e as 16:00hs a bandeira do MRTA, que havia sido hasteada por ocasião do ataque terrorista, já havia sido arriada e queimada.

Nenhum dos integrantes do MRTA sobreviveu ao ataque, e hoje existem acusações de que os que se renderam foram executados por ordens diretas do Presidente Fujimori (segundo informes seriam de 3 a 8 terroristas eliminados).

A força atacante empregou uma grande variedade de armas semiautomáticas, como AK-47, AKM, P-90, UZI, mini UZI, e MP-5SD, bem como vários tipos de pistolas. Os snipers estavam equipados com fuzis FN-FAL e miras óticas. Todos usavam o uniforme das Forças Especiais do Peru: macacão verde-oliva, coletes a prova de balas e coturnos de paraquedistas.

A Operação Chavín de Huantar demonstrou valiosos preceitos na condução deste tipo de operação. Primeiro, a necessidade de planejamento cuidadoso. Os peruanos começaram a planejar o ataque apenas poucos dias depois do início do sequestro. Segundo, embora a imprensa tivesse veiculado informações sobre uma iminente operação de resgate, os detalhes operacionais foram cuidadosamente escondidos. Terceiro, a operação alcançou um nível de surpresa tática que só pode ser definido como clássico. Não apenas o MRTA, mas o mundo inteiro foi apanhado de surpresa.

Outros pontos mostraram-se também importantes. As Forças Especiais e a Policia peruanas eram consideradas incapazes de deflagrar uma operação com este nível de sofisticação. Seus líderes surpreenderam a todos ao selecionarem seus melhores membros entre todas as forças armadas, e transformarem-nos numa única unidade coesa. Outro fator importante foi a forma como o governo conduziu as negociações, de uma maneira tão flexível, tranquila e submissa, que levou os membros do MRTA a relaxarem sua vigilância, confiantes de que obteriam tudo o que queriam. Este foi um erro fatal.

Resta apenas citar que a qualidade mostrada pelos membros das Forças Especiais do Peru surpreendeu o mundo, elevando-os a níveis até então atingidos apenas por unidades como o SAS, os Delta e SEALs.

Presidente Alberto Fujimori caminha pelos túneis que as tropas usaram para a invasão.

Nota DefesaNet

Os grupos de “Direitos Humanos” inverteram a lógica e mencionam que os terroristas eram “Presos Políticos” e não sequestradores (?).

Assim ocorreram várias tentativas de incriminar TODOS os comandos (Exército e Fuzileiros), que participaram to ataque.

Pelas comemorações do 20º Aniversário o presidente declarou as Forças que participaram da Operação Chavín de Huantar como “Héroes de la Democracia”.

O Editor

Compartilhar:

Leia também

Inscreva-se na nossa newsletter