Atendimento médico a índios na Amazônia representa desafio para aviação

Levar atendimento médico para comunidades indígenas na Amazônia exige aeronaves de guerra e técnicas militares. É esse o papel da Força Aérea Brasileira (FAB) na Expedição Yanomami, que acontece nesta semana em Matucará (AM), comunidade na região de fronteira do Brasil com a Venezuela.

O maior desafio é o próprio isolamento ocasionado pelas distâncias geográficas e de difícil acesso. Diferentemente do que acontece em outras regiões do País, se o pouso não for possível, não há alternativas para chegar às localidades rapidamente. “Muitas vezes tem que tomar essa decisão em rota”, explica o Tenente Kayo Coelho, piloto do helicóptero H-60 Black Hawk.

E, ao contrário de boa parte do Brasil, a região de Maturacá está em período chuvoso e com muitas nuvens. “Na Amazônia, nós também temos fenômenos meteorológicos naturais da região, como o aru, uma espécie de neblina, névoa de manhã, que faz com que várias vezes os aeródromos estejam fechados e nós tenhamos que ir por baixo da camada”, comenta o militar.

Apesar de a área estar sob a cobertura de radares do Quarto Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (CINDACTA IV), que auxilia o voo de aeronaves comerciais a grandes altitudes, a região não conta com equipamentos de auxílio à navegação. Também não há como realizar pouso por instrumentos.

Nas aldeias, os tripulantes de helicópteros sequer têm locais definidos de pouso: eles buscam qualquer área descampada onde é possível tocar o solo com segurança. “Muitas vezes, nós encontramos a região de areal, que exige técnicas de pouso direto. No momento do pouso, o helicóptero eleva muita areia, muitos detritos. Temos que ter cuidado porque o sopro do helicóptero pode desmontar as malocas de palha”, ressalta o Tenente Coelho.

O papel do helicóptero na Expedição Yanomami é transportar índios das aldeias para Maturacá. “O helicóptero consegue levar uma quantidade de pacientes que um avião de pequeno porte não consegue transportar”, explica Dea Tereza Torres, uma das médicas da ONG Expedicionários da Saúde. Desde o início da operação, mais de 100 índios já foram levados para atendimentos médicos e procedimentos cirúrgicos.

Voar em missões desse tipo também exige planejamento no uso de combustível. Para tornar a Expedição Yanomami possível, a FAB levou para Maturacá um reservatório de combustível com 10 mil litros. O reabastecimento remoto é muito usado na região amazônica para dar mais autonomia às aeronaves.

O transporte fez parte do esforço logístico realizado por uma aeronave C-105 Amazonas, que também levou para o local 45 profissionais de saúde e oito toneladas de remédios, suprimentos, comida e material para a instalação de um hospital provisório. Em Maturacá, há uma pista de pouso de 1.500 metros de comprimento, construída pela Comissão de Aeroportos da Região Amazônica (COMARA), organização ligada ao Comando da Aeronáutica.

FAB transporta coração para transplante em Brasília

Um homem  de 42 anos em Brasília (DF) irá receber um coração de um doador de 16 anos da cidade de Jaraguá do Sul (SC). O transporte do órgão aconteceu nesta terça-feira (04/08) e teve o apoio de um jato Learjet U-35 da Força Aérea Brasileira (FAB). Os órgãos de controle do espaço aéreo também atuaram para diminuir o tempo de voo.

A aeronave operada pelo Esquadrão Guará (6º ETA) decolou às 10h50 da Base Aérea de Brasília com destino a Joinville (SC), de onde os dois médicos cirurgiões e um enfermeiro seguiram no helicóptero Águia da Polícia Militar. Às 16h04, o avião decolou de volta para a capital federal, onde pousou às 17h50 e seguiu no helicóptero sentinela do Detran-DF para o Instituto de Cardiologia do Distrito Federal, onde o transplante será realizado.

A enfermeira Karine Lustosa Araújo Melo, que acompanhou a captação do órgão, destacou que o trabalho conjunto entre as diferentes instituições é fundamental para o transplante ser realizado. "Para a gente fazer esse procedimento de captação de órgão é necessário sempre um trabalho conjunto. Se não fosse a equipe de aviação, isso não seria possível, pois esse procedimento tem que ser feito rápido", explica. A profissional também ressaltou que, sem o apoio aéreo, o órgão seria perdido. "O tempo de isquemia do coração é de quatro horas", afirma.

Tempo de voo reduzido
As medidas de coordenação do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA), órgão do Comando da Aeronáutica, permitiram que o tempo de voo entre Brasília (DF) e Joinville (SC) fosse reduzido em cerca de 20 minutos a cada trecho. O ganho total de tempo foi de quase uma hora.
A aeronave percorreu uma rota praticamente em linha reta, fora das aerovias estabelecidas para a região.

"Quando a gente decolou para o destino, e também na volta, a aeronave teve essa prioridade no tráfego aéreo, de acordo com as regras previstas. Justamente para ganhar tempo e ter mais facilidade e rapidez", assegura o Tenente Vitor Freitas, um dos pilotos envolvidos na missão. Para o militar "é uma satisfação participar de uma missão que vai salvar uma vida".

De acordo com o Tenente Lucas Ferreira Rosa, do Salvaero Curitiba que coordenou o apoio aéreo, em função do tempo restrito para a retirada do órgão, a missão de transporte de órgãos é uma operação muito sensível. "É necessário prontidão, agilidade e operacionalidade de todos os elos envolvidos nos apoios aéreos e terrestres da missão” finaliza. 

A missão, coordenada pelo Salvaero Curitiba – unidade da Aeronáutica que coordena missões de busca e salvamento na região Sul, também envolveu Polícia Militar de Santa Catarina, Hospital São José de Jaraguá do Sul, Detran do Distrito Federal e Central Nacional de Transplantes.

Compartilhar:

Leia também

Inscreva-se na nossa newsletter