Virgínia Silveira e Samantha Maia
De São José dos Campos e São Paulo
A nomeação do cientista Marco Antônio Raupp para ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) foi bem aceita pela comunidade científica, tecnológica e empresarial ligada ao setor aeroespacial brasileiro.
Segundo José Raimundo Braga Coelho, diretor do Parque Tecnológico de São José dos Campos, onde Raupp trabalhou até ser indicado para a presidência da Agência Espacial Brasileira (AEB), em março de 2011, o futuro ministro vai trazer uma visão completa focada na aplicação do conhecimento em benefício da sociedade e do setor produtivo nacional.
"O Raupp está assumindo o ministério com essa visão de ciência aplicada e no momento em que o país elegeu a inovação e o empreendedorismo como prioridade de governo", diz. No parque tecnológico, segundo Coelho, Raupp criou um centro de desenvolvimento de tecnologias, atraindo empresas e universidades para atuarem em áreas estratégicas como energias de fontes alternativas, aeronáutica, espaço, recursos hídricos e saneamento ambiental e tecnologias aplicada à saúde.
Para Agliberto Chagas, gerente executivo do Centro para a Competitividade e Inovação do Cone Leste Paulista (Cecompi), que representa 70% das empresas do setor aeroespacial, a reação dos empresários à nomeação de Raupp foi positiva, por ele conhecer bem o assunto e ter construído à frente da AEB uma agenda de inovação e de tecnologia fundamental para a evolução do setor espacial.
"Ninguém teve a visão e a coragem de enfrentar esse desafio e avançar em direção às soluções para os problemas do programa espacial", diz o diretor do parque tecnológico. Coelho cita como exemplo o projeto do Satélite Geoestacionário Brasileiro (SGB), que inicialmente será comprado de fora, mas que pela primeira vez abriu a possibilidade de as empresas brasileiras participarem do seu desenvolvimento.
Físico de formação, Raupp acumula uma experiência de quase 40 anos na área de ciência e tecnologia. É presidente licenciado da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e foi diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) de 1985 a 1988.
Neste período, idealizou a criação do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC), que anos depois provocou uma revolução na qualidade e confiabilidade das previsões de tempo no Brasil, lembra Carlos Nobre, primeiro chefe do CPTEC e atual secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do MCTI.
Foi também na gestão de Raupp no Inpe que se iniciou a parceria com os chineses no programa de satélites de sensoriamento remoto CBERS, cujo terceiro satélite deverá ser lançado este ano. "O programa CBERS se tornou o mais importante modelo de cooperação internacional já realizado pelo Brasil na área tecnológica", diz Coelho, diretor do parque tecnológico.
Glauco Arbix, presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), esteve com Raupp ontem e lembra que ele fez parte do Ministério de Ciência e Tecnologia desde a sua criação em 1985. "É uma das pessoas mais carimbadas e experientes no país na comunidade científica", diz.
Depois de trabalhar com Raupp ao longo de 2011, quando o futuro ministro era presidente da AEB, Arbix descreve o colega como uma pessoa tranquila. "Ele conversa, ouve, incorpora ideias e diz não quando precisa. É uma pessoa muito franca, que tem uma ótima visão sobre a economia e sua relação com a ciência e a tecnologia", diz ele.
O presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Cnpq), Glaucius Oliva, exalta o histórico acadêmico de Raupp. "Não poderia ficar mais contente de ter uma pessoa tão técnica e ligada à área de tecnologia e inovação."
Segundo Oliva, que também conviveu com Raupp no último ano, o futuro ministro é uma pessoa "integradora". "É difícil encontrar alguém que tenha desavença com ele. Raupp sempre procura o consenso, ouve muitas pessoas, e depois de tomar decisões, ele sabe decentralizar e deixar que cada um faça seu trabalho", diz ele.