Op Taquari 2 – Os campos de refugiados climáticos no Sul do Brasil

Governo Federal, LATAM e ACNUR começam a trazer para o Brasil 200 casas modulares em esforço para ajuda humanitária ao Rio Grande do Sul Primeiro carregamento vindo da Colômbia foi transportado gratuitamente pelo programa Avião Solidário da LATAM e desembarcado no Aeroporto de Guarulhos. As casas modulares são estruturas móveis que se transformarão em moradias emergenciais para as vítimas das enchentes no Rio Grande do Sul

André Luís Woloszyn
                                                   Analista de Assuntos Estratégicos

Até maio de 2024, esta expressão era desconhecida para a maioria das pessoas no país. Sim, refugiados ambientais ou climáticos, aquelas pessoas que foram obrigadas a realizar um deslocamento forçado e abandonar suas casas temporária ou permanentemente em virtude de eventos climáticos extremos, quer secas ou inundações.

Embora ainda não sejam reconhecidos pela ONU e por sua Convenção de Refugiados de 1951, a organização por meio da ACNUR, presta ajuda humanitária, inclusive, no fornecimento de tendas padrão para abrigar estas pessoas além de alimentos, vestuário e assistência médica.

No Rio Grande do Sul, a estimativa é da existência de milhares de refugiados climáticos vítimas da enchente, em sua grande maioria, em estado de vulnerabilidade econômica e social que, inicialmente, foram acolhidos em abrigos institucionais, semelhantes aos campos de refugiados tradicionais, com centenas de pessoas vivendo de forma improvisada, emocionalmente traumatizadas pela intensidade da experiência que vivenciaram e sem perspectivas.

Com o recebimento das tendas da ACNUR e a construção de casas improvisadas, serão formadas pequenas cidades para não dizer campos que ainda necessitarão de auxílio governamental para alimentação, água potável, assistência médica e psicológica além de um sistema eficiente de recolhimento de lixo evitando-se o surgimento e alastramento de doenças.

Diante de um quadro de grandes desafios e imensas dificuldades operacionais e logísticas a questão é: haverá condições de controle do bem-estar e da tranquilidade pública nestas cidades improvisadas? O tema é pertinente pois problemas de violência e criminalidade surgiram, ainda, no interior dos abrigos onde foram registrados saques, roubos, estupros e abuso sexual de vulneráveis além do domínio de facções ligadas ao narcotráfico que imediatamente migraram para alguns abrigos intimidando voluntários e acolhidos.

Em conjuntos e bairros residenciais da periferia, tais facções, invariavelmente, disputam pontos de comércio de drogas, despejam moradores coercitivamente para utilizar suas moradias como armazenamento de drogas e armas. Sendo assim, é alta a probabilidade de que as cidades improvisadas sigam neste mesmo caminho, caso as autoridades de segurança pública não possuam um plano de contingência e efetivo policial suficiente para atender esta população.

E, em um cenário pessimista, considerando como são tratados estes assuntos por parte das autoridades governamentais somados a descontinuidade das políticas públicas e a burocracia estatal, não está descartada a hipótese de que estas cidades, inicialmente temporárias, sejam efetivadas permanentemente.

Representantes da ACNUR e da TAM junto ao kit da casa modular.

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