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Por trás do movimento dos bombeiros

A mobilização de bombeiros por melhorias salariais é um daqueles movimentos delicados por envolver, além de uma atividade essencial para a população, hierarquia em corporações militares, também por haver a possibilidade, como já ocorre, de contaminar o aparelho policial e, ainda, exercer forte atração sobre políticos sem escrúpulos, interessados em aproveitar qualquer pretexto na tentativa de capitalizar popularidade fácil diante das próximas eleições.

É indiscutível a baixa remuneração dos bombeiros fluminenses. O próprio governo do estado, diante desta realidade, formulou um plano de recuperação salarial da categoria. Em artigo publicado ontem, no GLOBO, o secretário de Planejamento e Gestão, Sérgio Ruy Barbosa, alinhou alguns números sugestivos: de 2007 a2009, foram concedidos 30% de aumento, diante de uma inflação no período de 22%; para os próximos quatro anos estão previstos 55% de reajustes, e com isso, em oito anos, os salários dobrarão. Mas, na relação dos estados, os bombeiros fluminenses ainda são os que menos recebem. Antes da antecipação de aumento anunciada ontem pelo governador Sérgio Cabral, um salário de início de carreira, no Rio de Janeiro, estava em R$ 1.198, contra R$ 3.453, dos bombeiros de Brasília, os mais bem pagos do país.

O governo, politicamente, na comunicação, foi derrotado pelo movimento, pelo menos até ontem. Não porque tenha agido pelos meios necessários para expulsar os invasores do Quartel Central, um temerário teste de força feito por bombeiros rebelados, até com ouso inconcebível de familiares, e em que foi colocada em xeque a capacidade de o Estado manter a ordem. Não poderia ser outro o desfecho. Mas o governo poderia ter apressado as negociações, para evitar o que aconteceu.

Corporação simpática, os bombeiros, com a ajuda de políticos, têm sabido manejar esta popularidade, até com técnicas de marketing — laços de fitas vermelhas para artistas e jogadores de futebol, e o uso propagandístico do número 439, o de detidos na retomada do quartel pelo poder público. Cabral, na corrida contra o tempo perdido, concedeu on-tempo perdido, concedeu ontem 5,58% de reajuste a bombeiros, PMs, policiais civis e agentes penitenciários, uma antecipação do que estava previsto em leis para dezembro. O governador atendeu, também, a uma das reivindicações da corporação e criou a Secretaria de Estado de Defesa Civil, com o comandante do Corpo de Bombeiros à frente, coronel Sérgio Simões. Dado o primeiro passo pelo governo, o impasse precisa ser rompido, por iniciativa dos bombeiros.

Há, sobre a mesa, a questão dos 439 amotinados presos, ponto inevitável da negociação. Há evidentes tentativas de manipulação político-partidária das reivindicações. Políticos de oposição ao Palácio Guanabara agem de maneira ostensiva no movimento, e a eles não interessa acordo entre governo e bombeiros. Mesmo que o preço da semi paralisação seja pago pela população, quem tem interesses políticos na crise trabalhará para estendê-la ao máximo. Cabe às lideranças independentes dos bombeiros entenderem este jogo, em que a categoria serve de munição na luta política fluminense.

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