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2 em cada 3 brasileiros apoiariam intervenção na Segurança do Estado

Daniel Bramatti e Luiz Fernando Toledo

A intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro não melhorou a imagem do presidente Michel Temer, mas é amplamente aprovada pela população: 75% se declaram a favor da iniciativa. Além disso, dois em cada três brasileiros apoiariam uma medida similar em seu Estado, caso ela fosse adotada. Os dados são de pesquisa nacional do Instituto Ipsos, feita em parceria com o Estado.

Nas Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, a taxa de apoio a uma eventual intervenção é de 80%, 72% e 71%, respectivamente – acima da média nacional de 64%. No Sudeste, a taxa é de 63%. Apenas na Região Sul a população se divide: 47% a favor e 46% contra. O governo federal não planeja intervir em outros Estados. A inclusão da pergunta na pesquisa serve para verificar a percepção sobre o tema.

O apoio generalizado a uma eventual ação intervencionista na maioria das regiões tem diversas explicações, segundo Danilo Cersosimo, diretor do Ipsos. Primeiro, a criminalidade é um problema nacional, e seus efeitos influenciam o cotidiano de parcela significativa da população. “Quando perguntamos quais são os principais problemas da população, a violência aparece em terceiro ou quarto lugar, atrás de saúde e desemprego, e às vezes de corrupção.”

Em segundo lugar, diz Cersosimo, há o entendimento de que intervenção seria “o Exército nas ruas fazendo o papel que a polícia não consegue cumprir”. “Tivemos muitas notícias no País de guerra de quadrilhas, crise de presídios, chacinas, o que reforça a ideia de que o Estado é omisso e ineficiente em relação à segurança. Outras pesquisas mostram que o Exército goza de confiança relativamente alta em relação a outras instituições.”

Para o professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) Rafael Alcadipani, membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o resultado era esperado. “O que as pessoas estão fazendo é dar um grito de desespero. Acham que alguma coisa que venha de fora pode resolver o problema, ainda que não saibam exatamente o que é.”

Já o pesquisador Ivênio Hermes, do Observatório da Violência do Rio Grande do Norte, o apoio à medida, por ora, é sentimental. “Há duas reações: a da realidade e a sentimental. A da realidade precisa de aferição estatística, com estudos anteriores e posteriores à ação para saber se os efeitos perduram. Como esse tipo de verificação ainda não pode ser feito, é natural a reação sentimental, do que é visível.”

No Rio. Em relação à intervenção no Rio, o maior porcentual de apoio se concentra no Norte e no Nordeste (83% em ambas regiões). No Sudeste, a taxa é de 72%, ligeiramente abaixo da média nacional, de 75%. No Sul, a medida tem menos aceitação, mas ainda assim o apoio é amplamente majoritário: 67%.

“Houve muita exposição de cenas de violência e criminalidade no carnaval, e a intervenção foi anunciada pouco depois”, disse Cersosimo. “Isso contribuiu para a alta aprovação.”

Para 58%, a intervenção tende a resolver o problema da segurança no Rio. Outros 30% acham o contrário, e 14% não responderam. A pesquisa foi feita antes da execução da vereadora Marielle Franco (PSOL).

O Ipsos também perguntou quem mais teria a ganhar com a intervenção, apresentando uma lista com opções. Em primeiro lugar ficou o item “o cidadão do Rio”, com 33%. Depois aparecem “o presidente Michel Temer” (18%) e “os mais pobres” (15%). O eventual benefício a Temer ainda não apareceu, ao menos em termos de popularidade. A mesma pesquisa Ipsos, feita duas semanas após o anúncio da intervenção, mostra que a desaprovação a Temer oscilou de 93% para 94%, e que a aprovação se manteve em 4%.

Quando a pergunta se referiu a quem mais perde com a intervenção, 53% responderam que é “o crime organizado”, seguido por “os mais pobres” (13%).

O levantamento revelou alto nível de desinformação sobre a criação do Ministério da Segurança Pública: 46% das pessoas não ouviram falar do assunto.

Insegurança geral

Polícia não dá conta. Moradora do Jardim São Paulo – um dos bairros mais violentos da capital de Pernambuco, Recife –, a zeladora Veridiana Xavier, de 38 anos, vive assustada. Mãe de três filhas, ela já foi assaltada quatro vezes nos últimos seis meses. Cansada da violência, Veridiana acredita que a presença das Forças Armadas nas ruas traria benefícios para a população.

“A polícia não dá conta dos bandidos há muito tempo por aqui. Não tem horário nem lugar seguro. Eu e minhas filhas vivemos com medo, não saímos mais nem para a igreja. Eu realmente acho que, se os soldados do Exército fossem para as ruas, as coisas iam melhorar.”

Em Fortaleza, no Ceará, a sensação de insegurança é semelhante, diante de uma onda de medo desencadeada por chacinas e ataques em série a coletivos e prédios públicos organizados por facções criminosas. Morador da capital, Celso Gondim, de 48 anos, que cursa Educação Física, defende a intervenção por acreditar que a violência fugiu do controle.

Há dez dias, Gondim presenciou a execução de um homem na esquina da rua onde mora. Além disso, a chacina de Benfica – em que sete pessoas foram assassinadas –, aconteceu perto de sua casa. “A violência está cada vez mais perto, não apenas na periferia ou nas favelas”, diz.

Para ele, a intervenção poderia ajudar. “Nem a Polícia Civil nem a Militar tem treinamento, armamento e logística para enfrentar o crime organizado.”

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